Por: João José Tavares Monteiro
A ideologia da luta pela libertação estava um pouco inserida no sistema sociocomunitários e depois da “falsa” independência de 5 de Julho de 1975 em Cabo-Verde que se deu através de propostas do governo racista de Portugal, para salvaguardar interesses neocolonialistas.
O campo da mentira e da vingança minaram profundamente o projeto principal da Unidade entre estes dois países que arrebentou em golpe do estado na Guiné em 1980.
Sobre a luta africana muito já se ouviu e se escreveu, mas pouco foram aqueles que a aceitaram. Uma coisa é certa: os dois maiores partidos no Poder nunca seguiram o Cabralismo.
Não haverá nenhum dirigente destes dois partidos capazes de decifrar verdadeiramente esta teoria social: “a nossa luta é para o nosso povo, porque o seu objetivo é satisfazer as suas aspirações, sonhos e desejos… Queremos que tudo quanto conquistarmos nesta luta lhe pertença e temos de fazer o máximo para criar uma organização tal que, mesmo que algum de nós queiram desviar as conquistas da luta para os seus interesses, o povo não deixe. Isso é muito importante” (Cabral, Unidade e Luta, 1969).
Muitas pessoas quando falam da Revolução Guineense que estava ligado a Cabo Verde, considera outros tempos e esquecem que todos os duros anos de luta armada foi uma projeção determinada para o futuro da África que se definia claramente na sigla do partido, na sua bandeira e no seu hino. Hoje Cabo Verde e certos países Africanos neocolonizados só têm uma coisa na cabeça: O DESENVOLVIMENTO.
Antes incivilizados fomos escravizados e colonizados, depois de civilizados nos recolonizaram. A política do desenvolvimento é a mais clara continuidade deste sistema encarnada no multinacionalismo egocêntrico capitalista. Sobre quem matou Cabral sempre fizeram pairar na nossa mente uma nuvem negra de dúvida para nos confundir. Cabral e os outros estavam firmemente convencidos que nada parava a marcha vitoriosa desta luta.
Mas enganaram-se neste ponto porque o neocolonialismo conquistou a África , porque o povo deixou que os objetivo desta conquista fossem desviados, porque a assembleia nacional popular deixou de ser um órgão para discutir os interesses do Povo para se discutir os interesses neocolonialistas.
Um grande erro do PAIGC logo no momento foi fuzilar todas as pessoas que consideram culpados e não os submeteram a um julgamento digno da lição desta luta.
Nenhuma desculpa. Isso foi uma escolha premeditada e mentiram-nos sobre a realidade mais profunda que pode existir que é a luta pela libertação de um continente como a África.
Reis do ocidente dividiram a África na conferência de Berlim em 1885 para dar suporte as suas políticas imperialistas …
Quando os africanos começaram a se despertar e a tomar consciência dos seus antepassados começou uma longa preparação até chegar a luta armada. Podemos citar alguns nomes dos fundadores que ganharam grande expressão no seio da luta para a reconquista africana: Markus Garvey, Cheikh Anta Diop, Selassie I imperador da Etiópia, mas que pouco se fala.
Depois de armarem uma segunda guerra mundial, a luta armada começa a sentir-se no continente africano como principal recurso para a libertação. Foi neste percurso que os ideais nacionalistas como a dos pensadores que citamos e muitos outros passaram a ser fortemente enraizado nas filosofias de luta armada.
O povo cansado de ser explorado, enganado e torturado começou a tomar parte vivamente da sua revolução. Esta foi sem dúvida a maior participação e dinamismo social e popular que a África teve em todo o seu tempo, durante 500 anos de agressão colonial e imperialista.
Guiné Conakri é um dos estados africanos que se rebela contra a filosofia do neocolonialismo e diz NÃO à França ao contrário de muitos outros que pretenderam uma independência política de fachada como nós deixando o neocolonialismo preparar para exportar o desenvolvimento através empréstimos bancários e ajudas humanitárias.
O neocolonialismo é uma acção que potências europeias apoiadas militarmente pela NATO: França, Alemanha Federal, EUA, Inglaterra, Portugal e outros através de seus meios económicos subornaram chefes de estados e sabotaram toda a estrutura de um país soberano tanto no plano interior como do exterior. Ele é muito bem organizado e está profundamente associado a um processo de alienação histórica social e cultural. Guerras sangrentas e étnicas valeram a vida de milhões e milhões de africanos deixando sequelas profundas no seio da população até hoje: fomes, epidemias, corrupção e terrorismo.
No livro da Unidade e Luta Cabral considera uma das maiores vitórias para a África a resposta do regime Guineense contra a agressão imperialista. Cabral tinha toda uma consideração clara para o regime de Sekou Touré que o apoiava na luta contra o anti-neocolonialismo.
Em Conakri prepararam uma Agressão falhada no dia 22 de Setembro de 1970 através de Portugal, que tinha como missão matar Sekou Touré e depois o próprio Cabral tomar estes países na sua mão e acabar com a luta nesta grande região Conakri e Bissau, acabar com as forças do Panafricanismo já bem avançado.
Este plano falhou. Segundo Cabral “por mais louco que possam ser os colonialista portugueses ou por mais megalómano que seja o representante deles na nossa terra, não se meteriam em tal empresa se não estivessem seguros de duas condições: do apoio tácito ou explícito dos seus aliados imperialistas e do êxito da operação”.
Estes aliados, agressores que também é apontado por todos condenados na agressão de 22 de Novembro são os mesmos que Cabral denunciava. No livro o Imperialismo e a sua Quinta Colónia na República da Guinée os condenados na maioria chefes de estado pormenorizadamente contam como foram seduzidos pela CIA, França, RFA e PIDE concretamente.
Organizam, planeiam, sabotam, infiltram e matam, tanto no plano interno como externo os interesses dos revolucionários africanos. Esta é a pura realidade, vivemos até hoje numa grande mentira. Quem matou Amílcar Cabral foi fuzilado em nome de um povo que nunca teve o direito de ler e saber a verdade sobre quem mandou o matar.
Isso que chamamos de revolução passou a ser uma traição ao povo africano. Muitos não compreendem verdadeiramente o sentido da luta porque os próprios representantes da luta hoje caem na ironia de dizer que é bom o investimento que estão a fazer com os países que conseguiram acabar com o sonho dos africanos.
Hoje em 2016 quando vemos dirigentes de Cabo-verde a escolher prioridades num negocio multimilionário no Ilhêu de Santa Maria no coração da sua principal cidade, e Senegal a inaugurar a construção de uma linha ultra-avançado de comboio eléctrico, ambos projectos em cidades com tantos problemas sociais em zonas rurais e urbanos, podemos dizer claramente que o neocolonialismo agora resolveu apontar a sua arma na cabeça da mãe África.
No caso de caso de Cabo Verde e da Guiné tristemente podemos dizer que é um aproveitamento do adormecimento do povo desde a trágica noite do dia 20 de Janeiro de 1973, porque ignoraram as ideias do Cheikh Anta Diop.