Moeda única na CEDEAO deverá ser lançada em 2020

A Guiné-Bissau é um dos países da CEDEAO

A Comunidade Económica dos Estados da África de Oeste (CEDEAO), da qual faz parte a Guiné-Bissau, prevê lançar uma moeda única para os 15 países membros em 2020.

De acordo com o relatório do Conselho de Convergência da CEDEAO, o projeto foi aprovado durante a 24.ª reunião do Conselho de Ministros e governantes. Segundo a ANG Notícias, antes da circulação da moeda única prevê-se ainda a implementação de um programa económico e a criação de um banco central da organização.

A CEDEAO foi criada em maio de 1975, pelo tratado de Lagos, pelos quinze países da África de Oeste, nomeadamente Benim, Burquina, Costa do Marfim, Gambia, Gana, Guiné Conacri, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra-Leoa, Togo. Cabo Verde juntou-se à comunidade em 1976.

Confirmada participação na Cimeira Económica China-África, em Pequim



GUINÉ-BISSAU
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JOSÉ MÁRIO VAZ EM LISBOA PARA CERIMÓNIAS DOS 40 ANOS DA DEMOCRACIA


O Presidente da República, José Mário Vaz encontra-se em Lisboa, para assistir as cerimónias dos 40 anos da democracia em Portugal, assinalando a realização das primeiras eleições presidenciais democráticas ganhas por General Ramalho Eanes, agora aposentado. 
O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, afirmou hoje que vê António Ramalho Eanes como uma "pessoa especial", com quem se aconselha sempre que vem a Portugal.
José Mário Vaz falava à RTP África no final da cerimónia de condecoração de Ramalho Eanes com o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique, no dia em que se assinalam 40 anos das primeiras eleições presidenciais em democracia (27 de junho de 1976), promovida pela Presidência da República.
"O Presidente Ramalho Eanes é uma pessoa especial para mim. Desde que ganhei as eleições, a minha preocupação realmente é estar muito próximo do Presidente Ramalho Eanes para poder aproveitar a experiência dele para o meu dia-a-dia enquanto Presidente da República", sublinhou o chefe de Estado guineense.
José Mário Vaz, que se escusou a falar sobre a política guineense - "estamos a preparar uma conferência para falar sobre a Guiné de hoje" na capital portuguesa -, lembrou ter acompanhado "um pouco a vida" de Ramalho Eanes durante o período em que estudou em Portugal, primeiro no liceu, que fez em Santarém e, depois, no Instituto Superior de Economia (ISE), em Lisboa.
"É uma pessoa de quem gosto muito. Verdade seja dita: é impossível vir a Portugal sem passar no escritório dele e trocar algumas impressões com ele. É uma pessoa experiente, muito amiga da Guiné-Bissau e, por isso, vim cá para demonstrar o afeto e o carinho que a Guiné-Bissau tem por ele", afirmou.
O Presidente da Guiné-Bissau realçou também ter oferecido a Ramalho Eanes, à margem da cerimónia, uma estatueta de madeira, simbolizando a mulher guineense.
"Ofereci ao Presidente Ramalho Eanes uma estatueta da mulher guineense, mulher trabalhadora e sobretudo uma mulher da região de Cacheu, onde esteve quando era militar" na Guiné-Bissau, durante o conflito colonial (1961/75), sublinhou.
A oferta, presenciada pela agência Lusa, ocorreu durante uma visita à exposição "40 Anos - Eleições Presidenciais - Um Presidente para Todos os Portugueses", com que se assinala o quadragésimo aniversário das primeiras eleições para a chefia do Estado num regime democrático e que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian.
A iniciativa foi interrompida por um reencontro entre Otelo Saraiva de Carvalho, derrotado nas eleições de então, e Ramalho Eanes, o que surpreendeu José Mário Vaz, que ainda não terminara o gesto da oferta ao homenageado.
"Então António, estou aqui há tanto tempo e ninguém me liga", disse Otelo, ao mesmo tempo que se abraçava de forma emocionada a Ramalho Eanes, que retribuiu com a mesma emoção, e deixava o presidente guineense a meio da oferta.
O abraço foi profundo e longo - e profusamente aproveitado pelos fotógrafos dos vários órgãos de comunicação social -, o tempo suficiente para fazer José Mário Vaz duvidar se a interrupção teria terminado.
No entanto, acabaria por despedir-se de Ramalho Eanes igualmente com um forte abraço.

Para além do Chefe de Estado guineense, também estão em Lisboa, o Chefe de Estado Cabo-verdiano, José Carlos Fonseca, representantes da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP) bem como de outras representações mundiais.
Após a cerimónia do dia da democracia em Portugal, o Presidente Mário Vaz irá permanecer em Portugal durante duas semanas em visita privada. Isto numa altura em que os parceiros financeiros da Guiné-Bissau que davam apoio ao Orçamento-geral de Estado (OGE), anunciaram recentemente, o congelamento de ajudas ao país.

«ENTREVISTA» O PESQUISADOR AMERICANO DISSE QUE O GOVERNO GUINEENSE DEVE INVESTIR MAIS NA CULTURA


Fernando Arenas, professor da Universidade nos EAU
Está no país, pela terceira vez, o pesquisador e professor universitário nos Estados Unidos de América que trabalha na área de estudo da cultura lusófona. Fernando Arenas está no país para entrega dos livros doados para a Universidade Pública Guineense e para ajudar no resgate da cultura guineense
Acompanhe na íntegra a entrevista de Elisangila Raisa Silva dos Santos com este que também é vice-chefe do programa de estudos africanos.
RSM: Pode nos falar um pouco do seu curriculum em quatro linhas?
F.A: Eu sou Fernando Arenas, professor da Universidade nos EAU, vice-chefe do programa dos estudos africanos e desempenho a mesma função no programa do português. Trabalho na área dos estudos culturais lusófonos, trabalho sobre cinema, música popular, literatura e historia nos países da língua portuguesa e dou aulas em Português e Inglês.
RSM: Quando é que começou a se identificar com esta área?
F.A: Eu era adolescente nos anos 70, sou Americano de nascimento em Nova Iorque de pais colombianos que imigraram para lá nos anos 60. Mas depois fomos para a Colômbia e foi lá onde comecei a ouvir a rádio em onda curta e foi lá que descobri o português e apreendi esta língua praticamente de ouvido. Só que não imaginava que o Português tornar-se-ia o ganha-pão muitos anos mais tarde (depois do meu doutoramento). Gosto muito de línguas e, ultimamente, eu apreendo o crioulo da Guiné-Bissau e de Praia (Cabo-Verde).
RSM: Como é que define o seu trabalho?
F.A: Eu tenho um livro que foi publicado em 2011 e com título em Inglês (sobre os países africanos da lusofonia depois da independência) e aí trabalho com a produção cultural, nomeadamente, a cinematografia musical e também literária e também faço mas também uma história das relações transatlânticas; entre África, Portugal e Brasil. Tendo um projecto paralelo que incide directamente sobre a Guiné-Bissau que é sobre a obra de Sana Hada (escritor guineense), no meu livro tenho um capítulo inteiro dedicado ao cinema da África lusófono onde destaco o trabalho de Flora Gomes (cineasta guineense). Pensei que Sana não era conhecido e isso seria injusto, e neste momento focalizo os meus esforços para desenvolver a minha pesquisa sobre a obra e a vida deste escritor guineense.
RSM: Como vês a cultura guineense?
F.A: Eu vejo a cultura guineense como sendo multidimensional, obviamente, onde a literatura tem uma parcela mas que compartilhada com outras expressões culturais de muito peso e o cinema sendo um deles mas também a música popular e aí junta-se, por exemplo, a literatura com a música. Quando pensamos no José Carlos Schwarz e o tipo de trabalhos que os artistas nacionais estão a fazer, tais como, José Manel, Eneida Marta, Karina Gomes e muitos outros e sem falar dos míticos Super Mama Djombo. Aí é onde se junta a palavra poética e a música. Li hoje um poema de José Carlos intitulado “Iabre Porta” (abra a porta), que é um poema belíssimo que trata sobre quando a porta é aberta.
RSM: Na Guiné-Bissau não temos salas de teatro, ambientes de promoções de cultura, refiro, a música, literaturas, arte e enfim, até porque também o governo disponibiliza pouco fundos para a cultura. Como é que vês esta situação?
F.A: Acho que a produção cultural precisa de financiamento e hoje em dia muitos modelos que estão a surgir de financiamento são misto e também de iniciativa privada, Eu acho que para os produtores artísticos nas diversas áreas é fundamental ter este apoio, porque se você sujeita a produção cultural exclusivamente as leis do mercado, ficam muito mais difícil para os artistas sobreviverem. Acho que o investimento em todas as áreas da cultura.
RSM: Qual o seu conselho para os iniciantes nesta área?
F.A: A realidade em muitas partes do mundo é que os artistas têm um trabalho a tempo inteiro ou imparcial para o ganha-pão. E nas suas horas vagas, eles fazem as suas produções artísticas e culturais. O ideal é que houvesse bolsas para que os artistas pudessem concorrer e poderem ter, por exemplo, um ano sem ter que trabalhar numa área que não tem nada a ver com o seu a fazer artístico e isso iria contribuir muito para a produtividade daqueles artistas.
RSM: para si o que é a arte?
F.A: A arte é uma forma de transfigurar o real e de transfigurar o mundo e de representá-lo de uma maneira mais simbólica e que muita das vezes não fala directamente a mente mas também fala ao coração e as vezes aos dois e implica um relacionamento entre o raciocínio e também os afectos
RSM: Qual é o seu interesse em relação ao estudo da cultura africana e principalmente da cultura lusófona?
F.A: Eu trabalho nos EAU na área do estudo lusófono e nós somos uma minoria em relação a outras línguas (Inglesa e espanhola) então este interesse que tenho pelo mundo lusófono também é um desafio, luta e compromisso a nível político, cultural e histórico e por dar ao mundo alargado a riqueza e da diversidade de todos os países da língua portuguesa. Aquilo que é incrível é que mesmo a Guiné-Bissau em si tem uma diversidade gigantesca de cultura, de língua e de manifestações culturais e imaginem quando juntamos isso a todos os países lusófonos teremos um universo quase infinito de culturas. Portanto eu sinto uma dedicação e um amor por estas culturas e para nós que somos académicos estes trabalhos que fazemos é uma vocação para vida inteira.
RSM: Tendo em conta o seu trabalho, qual é a relação entre as culturas Lusófonas?
F.A: Eu acho que ainda não há suficiente conhecimento mútuo entre si, porque temos um desequilíbrio muito grande nas dimensões das várias componentes do mundo lusófono. Já entre os Países Africanos da Língua Oficial Portuguesa, parece que é uma circulação pontual de produção musical muito mais; literária um pouco menos e cinema muito menos. Ainda faltam mais mecanismo e canais de distribuição e de difusão desta produção entre os PALOP e para a África toda e portanto acho que para isso tem muitos impedimentos que são de ordem política, económica e regional para a circulação de produtos culturais que ultrapassem as barreiras das línguas oficiais (quer Portuguesa, Inglesa e francesa).
RSM: Agora vamos falar de Russel Hamilton, um americano crítico pioneiro das literaturas africanas da expressão Portuguesa e que faleceu em Fevereiro último e que agora os seus livros foram doados para Universidade Pública guineense. Nos seus livros, eles falou da Guiné-Bissau?
F.A: Sim, ele falou. É preciso pensar no momento que ele desenvolveu as suas pesquisas que foi nos anos 60 e 70; no auge e no calor da luta de libertação. No caso específico da Guiné não havia um corpo de literatura escrita formado e era mais incipiente e só depois da independência é que começaram a surgir publicações mais sistemáticas. Agora existem antologia de jovens poetas e a mantenhas para quem luta que Rassul analisou e ele considera que a partir daquele momento já podemos vislumbrar o surgimento de um sistema literário não só em língua portuguesa mas também em língua crioula na Guiné-Bissau. Ele (Hamilton) acha que a razão pelo facto de esta literatura ter surgido tardiamente em relação a outros países do PALOP foi o nível de atraso por parte das autoridades coloniais em criar infra-estrutura de educação na Guiné-Bissau, tendo em conta que o primeiro colégio e liceu foram criados só em 1949 e isto, de certo modo, retardou o surgimento de uma produção literária e escrita na Guiné.
RSM: Também li que no período da guerra colonial ele (Hamilton) também queria vir a Guiné-Bissau para concluir a sua pesquisa mas foi impedido pelos colonizadores. Fala-nos desta experiencia.
F.A: a Guiné-Bissau em particular ele veio por quatro (4) vezes, mas na primeira etapa da sua pesquisa que foi entre 1970 a 71 ele ganhou uma bolsa de Gulbenkian e foi em plena guerra de libertação e o governo português não o permitiu para vir aqui a Guiné e em contra partida deram autorização apar visitar Angola, Moçambique e Cabo-Verde. É muito interessante ver neste caso um académico a estudar sobre literatura e é confrontado sobre a realidade histórica e política do momento e portanto, o seu trabalho foi realizado no calor destes eventos todos e isso é muito interessante. Ele veio a Guiné-Bissau já na pôs independência e voltou várias vezes, principalmente nos ano 1990.
RSM: Vamos voltar a falar mais um pouco do seu trabalho. Como é que surgiu a ideia para a Guiné-Bissau?
F.A: Esta viagem tem várias vertentes. A primeira é para doar os livros de Hamilton a Universidade Pública Guineense (UAC). A segunda é manter contactos com os intelectuais guineenses sobre a cultura nacional, sobre a política e também para conhecer um pouco a cultura. Esta é a terceira vez que venho a Guiné e espero voltar mais.
RSM: Esta é a sua terceira vez aqui na Guiné-Bissau e manteve encontros com escritores guineenses e na semana passada também teve uma visita às ilhas e algumas regiões do país para ajudar a resgatar a cultura guineense. Depois de toda esta ronda, o que nos pode dizer sobre a cultura guineense?
F.A: Eu acho que tem de haver um compromisso contundente por parte das autoridades, do governo e das entidades privadas de promover e de fortalecer a cultura e de alimentar a cultura. Ela (cultura) por si só não consegue sobreviver, ela precisa de ser acarinhada. Se posso passar uma mensagem que considero ser não só para a Guiné-Bissau mas para todos os países do mundo é que a produção cultural é a alma do povo e é o levado que vai passar para geração vindouras e é preciso pensar nisso porque a cultura por sem apoios não vai conseguir vincar, crescer e florescer.
Por: (Entrevista e Imagem) Elisangila Raisa Silva dos Santos/Conosaba

«MTN» FACULDADE DE MEDICINA DE BISSAU BENEFICIA DE UMA SALA DE INTERNET


A empresa de telecomunicações MTN procedeu na passada segunda-feira a entrega de uma sala de internet à Faculdade de Medicina no Hospital Nacional Simão Mendes
Este gesto vem na sequência de 21 dias ao serviço da comunidade que a empresa de telecomunicações Spacetel MTN realiza a cada ano.
Após a entrega formal do espaço, Secretária de Estado de Gestão Hospitalar, Maria Inácia Có Sanha, disse que a sala vai reforçar as capacidades dos estudantes, tendo sublinhado que “ o acto que estão a testemunhar irá servir para os estudantes reforçarem as suas capacidades naquilo que tem a ver com a sua matéria específica da área de formação que escolheram”, frisou.
A governante disse por outro lado que a tecnologia hoje é uma biblioteca próximo das pessoas, “o país tem a sua carência e tem a raridade das bibliotecas para as pesquisas, para isso, este centro de informática equipada pela MTN vai ajudar os estudantes para se poderem aproximar das outras realidades científicas”, concluiu.
O Director da empresa MTN, Freddie Mkoena, disse que, com a sala de internet equipada, os estudantes da faculdade de medicina de Bissau, vão estar em contacto com o mundo fora e aumentar as suas capacidades.
“Estamos aqui hoje para entregar a sala de internet”, acrescentando que “agora com o equipamento, a sala vai dar oportunidade aos estudantes de estarem em contacto com o mundo da tecnologia e aumentar as suas capacidades de serem bons quadros para servir o país” .
Entretanto, o representante dos estudantes, Jimmy Mendes, promete cuidar dos materiais e pede ao governo bolsas de estudo.
“ Prometemos cuidar dos materiais de uma forma adequada e esses materiais vão ajudar no desenvolvimento da capacidade dos estudantes em termos intelectuais também em descoberta de novas enfermidade e enfrentar o desafio do milénio, mas esperamos que o governo faça algo melhor em termos de bolsas de estudos.”
A empresa entregou a sala de informática com mais de 20 computadores. O centro de saúde de Bafatá também beneficiou de uma sala de informática.
Por: Nautaran Marcos Có/ Bibia Mariza Pereira/Conosaba

MINISTRO DE AGRICULTURA DA GUINÉ-BISSAU APOIA RECUPERAÇÃO DA BOLANHA DE N'TUMHONDAM




Bissau,27 Jun 16 (ANG)-O ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADR),Rui Nené Djata ofereceu recentemente trinta sacos de arroz aos populares de N´Tumhondam, que por iniciativa própria se lançaram ao desafio de recuperação da maior bolanha da região de Biombo.

A notícia está inserida na última edição do jornal Nô Pintcha, colocada nas bancas no último fim-de-semana.

Segundo o jornal, a oferta foi entregue pelo Secretário de Estado da Segurança Alimentar (SESA), Mário Martins que elogiou a iniciativa da comunidade face à dimensão do trabalho de construção de diques, com o propósito de prevenir subida e invasão de água salgada nas bolanhas.

Aquele governante constatou ainda que a região de Biombo já tinha beneficiado de uma oferta de cinco máquinas motocultivadores e prometeu, para breve, a oferta de um tubo de escoamento de água e distribuição de sementes de cereais 

Por sua vez, o representante da população de N´Tumhondam, Fernando Nhaga agradeceu o gesto, que diz ser a primeira vez desde há muito tempo, tendo exortado ao deputado da zona, na pessoa deCipriano Cassamá para dar uma atenção especial à sua comunidade eleitoral. 

A referida bolanha é utilizada por sete tabancas, nomeadamente N´Tumhondam, reino N´Dja Cá, Bôr, Matandim, N´Tumhandê, Kupul, e Ponta Gardete. 

ANG/JD/JAM/SG/Conosaba/MO

«TUDO A SUBIR» PREÇOS SOBEM EM BISSAU DURANTE O RAMADÃO



Na Guiné-Bissau, regista-se uma subida de preços dos produtos essenciais no mercado interno que atinge os 50 por cento.

Na base desta especulação, ao que a VOA apurou, está o período de Ramadão, mês sagrado dos muçulmanos.

Os guineenses, sobretudo, os fiéis muçulmanos, são obrigados a puxar ao máximo dos bolsos para poder aguentar os 30 dias de jejum, com despesas fora do limite, devido à especulação dos preços dos produtos essenciais, nomeadamente, açúcar, óleo alimentar, cebola e mais.

Perante a procura, a oferta tornou-se limitada e os comerciantes aproveitaram-se para tirar maior proveito económico, sem que para isso se regista alguma reacção da autoridade reguladora, neste caso a Inspeção Geral do Comércio.

Em face da realidade, quase que tradicional, a VOA ouviu diferentes opiniões, em particular de mulheres, que assim expressaram as suas inquietações.

Acompanhe a reportagem feita no interior de um dos mercados mais frequentados da capital.

Conosaba/MO

ANP AGENDA DISCUSSÃO DO ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 30 DE JUNHO


A Assembleia Nacional Popular (Parlamento) da Guiné-Bissau agendou para 30 de Junho a abertura da quarta Sessão Ordinária, com um único ponto em agenda: discussão do Orçamento do Estado para 2016.

O vice-líder da bancada parlamentar do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder), João Seidibá Sané, justificou, em declarações à Agência de Notícias da Guiné, que devido a ilegitimidade do atual executivo perante a Assembleia Nacional Popular, mais concretamente por o Governo ainda não ter presente o seu programa ao Parlamento, «não pode a ANP convocar uma sessão com vários pontos em agenda». Enquanto que, o porta-voz do Partido da Renovação Social (PRS), Joaquim Batista Correia afirma tratar-se da agenda possível para o momento uma vez que o governo ainda carece de legitimidade parlamentar. 

É de lembrar que o bloqueio das sessões parlamentar na ANP está onde os 15 e o PRS de um lado, defenderam o regresso ao parlamento dos visados e o PAIGC interpôs uma espécie de recurso junto à mesa da ANP pedindo esclarecimentos sobre as condições em que os 15 devem ser reintegrados, uma vez que o regimento da ANP não prevê deputados independentes.
Se esse ponto ainda continuar ser da exigência prioritária do PAIGC é porque esperamos mais encontros frustrados na ANP.

«ENTREVISTA» ARISTIDES PEREIRA : UM CONTURBADO DEPOIMENTO - 08-06-2016




[i] Aristides Pereira, Minha vida, nossa história, de José Vicente Lopes, Edições Spleen, 2012 (2a edição)

No seu Minha vidanossa história[i], o ex-Presidente da República de Cabo-Verde confirma o perfil de alguém que à priori nada predestinava a endossar os altos cargos que finalmente  acabou por ocupar. Secretário-Geral do PAIGC por obrigação, Presidente da República à força, sem a ambição que engloba necessariamente tais desafios, o homem foi arrastado pelos ventos hesitando sempre entre os seus mais profundos desejos e o que a história o reservou.

Puxado pela língua, na mesa do jornalista cabo-verdiano José Vicente Lopes (JVL), Aristides revela, de maneira aparentemente inócua,  um montão de atributos: o caso de dirigentes do PAIGC que participaram na orquestração do complot onde Amílcar Cabral perdeu a vida e que depois, para se cobrirem, liquidaram os inocentes que eles próprios tinham mobilizado ; da grave quebra de confiança que se seguiu entre guineenses e cabo-verdianos ; dos constantes erros de Nino Vieira e do Osvaldo ; da conduta refractária de Luís Cabral de nunca o ter reconhecido no seu posto hierárquico ; da frustração e desespero de Chico Té ; do projeto da unidade  Guiné e Cabo-Verde, escavado por dentro ;  e do golpe de Estado de 1980 que acabou por esmagar o Partido de Cabral.

José Vicente Lopes

No tocante à Guiné, eis alguns extractos da entrevista (o melhor seria ler esta fantástica obra de José Vicente Lopes).

DA FUNDAÇÃO » DO PAIGC  (p. 95).
… a data de 19 de Setembro de 1956 foi escolhida por nós – Amílcar, eu e o Luís -,  já em Conakry, para apaziguar o Senghor, que nos via com muita desconfiança. Achava que nós éramos  um ramo guineense do PAI que havia no Senegal, criado em 1957;
(…) também decidimos que o ano da nossa fundação tinha sido 1956, por coincidir com uma das passagens do Amílcar por Bissau para ver a mãe. Nessa tal reunião, (…) apenas estiveram presentes quatro pessoas e não seis : o Amílcar, o Fortes, o Luís e eu.

SG ADJUNTO DO PAIGC (p. 147-148)
Mas também estive na China em 1964. Até foi nessa altura que apareceu o cargo de secretário-geral adjunto porque os chineses queriam, à toda a força, que Cabral fosse lá. Mas eu não sei porquê, havia qualquer coisa e ele não podia. Como os chineses insistiam muito, ele decidiu : « Nâo posso ir, mas pode ir um próximo meu ». Mas havia uma questão : os chineses são muito meticulosos nestas coisas. « que nível é que ele tem na nomenklatura ? », quiseram saber. E eu só podioa ir como membro do Bureau Político. (…) Portanto é nessa altura que aparece o lugar de secretário-geral adjunto. (…) « … põe lá que és o secretário-geral adjunto e pronto. »

A MORTE DE AMÍLCAR CABRAL - O dedo de Spínola (p.157-164)
JVL : « (…) a conspiração ganha tal dimensão sem que os cabo-verdianos se tivessem apercebido daquilo » (p. 158).
… havia uma patrícia nossa que nessa altura vivia maritalmente com o Cruz Pinto, e o Cruz Pinto também «complotou» - tinha grandes ligações com o Momo Turé e os outros implicados. (…) Pelo seu comportamento, estimulava aquilo e as reuniões dele com o Momo eram na casa dele, Cruz Pinto.

JVL : « O Oramas diz que ficou com a impressão de ter visto o Osvaldo nos matagais ou atrás de umas árvores » (p.177)
Isso, não nego, é possível. O que recuso é que o Osvaldo estivesse a comandar fosse o que fosse.  Já não tinha essa faculdade. (…) O Osvaldo estava com o Otto. O Otto, diante do que aconteceu, procurou pôr-se à distância, mas ele estava ligado ao Osvaldo. São coisas que nunca mais foram esclarecidas. Houve a barafunda toda, fui para Moscovo, houve « julgamentos », em que se procurou  liquidar toda a gente que pudesse falar e ficou tudo assim. (…)

Quer o Nino, quer o Osvaldo – eu não disse que eles estivessem implicados em matar – sabiam do que se estava a passar. Sabiam do descontentamento que existia em relação a uma série de assuntos, que, do ponto de vista deles, estava errado. Moviam-se no sentido de levar Cabral a ceder perante eles.  Essa gente –o Inocêncio Kani e outros-, não se mexeria sem falar primeiro com o Osvaldo, …. O Kani teve uma convivência forte com o Osvaldo durante anos na Frente Norte, depois esteve com o Nino também no Sul. (…) De maneira que gente como Nino, Osvaldo e outros sabiam do problema, chegado o momento, o que fizeram foi não se envolver directamente. (…) Acontecendo, poderiam sempre alegar a sua inocência, e se possível retirar proveito disso.

(…) Havia gente, também, interessada em ceifar uns tantos pra não falarem. Como disse, o Osvaldo, o Nino… sabiam do que se estava a tramar. O próprio Chico também sabia, tanto é assim que ele tinha rebates de consciência. Outro que sabia é o Carlos Correia, que se deu por doido naquela altura. Isso devia dar-lhes um certo peso na consciência porque eles sabiam da conspiração e nada fizeram para travá-la (p. 181).

… o Fidélis foi o homem que dirigiu o inquérito, apresentou o relatório das investigações, mas um relatório fraquíssimo, em que não se explica quase nada. (…)  … ninguém estava verdadeiramente interessado no que realmente aconteceu. O grau de implicação dos guineenses era grande (p. 182).

(…) Inslusive, o Víctor Saúde Maria, que fez parte do inquérito, também sabia do que se estava a tramar, mas ele estava interessado em « cortar » uns tantos que sabiam que ele sabia. Foi nessa base que se liquidou  muita gente logo a seguir ao 20 de janeiro, que nem havia razão para liquidar. (…) Os homens já estavam todos mortos, não podiam falar… (p. 183).

O Vítor Saúde Maria deve ter morrido com este peso na consciência. Porque houve gente que ele mesmo mobilizou nesse processo e que ele mesmo condenou à morte. (p. 177)

JVL :… ao fim e ao cabo não se podia desenterrar muita coisa… (p. 183)
… senão a coisa desconjuntava-se. Se tivéssemos que ir para as denúncias, isso seria o fim de tudo. (…) De todo o modo, a cofiança entre nós, guineenses e caboverdianos, nunca mais foi a mesma.

EN DEFESA DE SEKOU TURÉ  (p.160)
AP : (…) Eu não posso afirmar de forma categórica, que ele não estivesse. No entanto, dentro duma certa lógica, e dos próprios interesses do Sékou, não vejo porque razão haveria ele de estar interessado que Cabral desaparecesse. Na altura em que o Amílcar foi morto, a imagem do Sékou, estava em franco declínio e um dos elementos que ainda lhe dava algum prestígio era ter, como retaguarda segura, um movimento de libertação, considerado brilhante em África, o PAIGC. Portanto, não estou a ver o Sékou a ser tão estúpido para acabar com essa réstia de credulidade que ainda conservava. Aliás, é justamente nessa altura que notei nele muto mais atenção a nós. Viu que éramos uma mais-valia para ele. Graças a nós podia continuar a arvorar-se em defensor da causa africana, projetando a sua imagem em todo o continente.

A ANGUSTIA DE SUBSTITUIR CABRAL (p. 175-176)
Eu via os colegas da direcção do partido – o Luís Cabral, o Chico Mendes, o Osvaldo Vieira, o Nino, o Pires, os principais membros do CEL. Eu via que difícilmente qualquer um deles iria reunir consenso, sobretuto, da parte dos guineenses. Naquela altura tínhamos que ter em conta os guineenses, sobretudo os combatentes, que estavam todos revoltados com o assassinato de Cabral,…

Da parte cabo-verdiana, principalmente aqueles que estavam em Conakry e que sofreram vexames, humilhações etc, … eu também não via como é que eles iriam suportar bem um guineense como secretário-geral.

Porque eu, desde o início – sempre assumi a posição que eu era cabo-verdiano. (…) mostrando sempre que eu não estava interessado no poder, principalmente na Guiné. Portanto, neste aspecto, os guineenses estavam claros a meu respeito. (…) De maneira que eu via a possibilidade, de facto, de os guineenses derem mais assentimento a mim do que ao Luís, por exemplo, para liderar o PAIGC. Ao contrário de mim, o Luís sempre foi considerado guineense, porque nasceu na Guiné e apresentava-se como sendo cem por cento guineense. Mas, é claro, há a questão da cor, que contradiz tudo, e o guineense é sensível a isso ainda hoje.

Além disso, eu tinha uma vantagem suplementar : eu estava em permanência ligado ao Amílcar.

JVL : Mas o grupo que o Fidélis tentou mobilizar ? (p.178)
O grupo de Fidélis… só se manifesta no congresso… mas ele não fez campanha…
Chegou a circular antes do congresso, em surdina, essa conversa :
« É preciso cuidado, não vamos cair na asneira de escolher um cabo-verdiano, porque vimos que não dá certo, portanto vamos colocar um guineense, não importa quem, mesmo que haja cabo-verdianos capazes por trás para suportá-lo. »

E tanto assim que foi ele (o Fidélis) que apresentou a candidatura do Nino no congresso e que não passou. Até porque o Nino na altura não queria saber de coisa nenhuma.
JVL : Em Madina do Boé, é eleita uma nova direcção do PAIGC, tendo-o na frente do Luís Cabral agora como o seu adjunto. Tendo havido todo aquele problema com o Amílcar, voltava-se, ao fim e ao cabo, a repetir o mesmo esquema.  O senhor como cabo-verdiano, o Luís um guineense que não era assumido por todos. Não era repetir o erro ?(p. 186)
(…) A questão é a seguinte : havia uma certa hierarquia antiga entre nós e alterá-la não era fácil, até porque se o Luís não ficasse em segundo lugar quem ficaria ?

JVL : Um guineense assumido.
Mas quem ?
JVL : O Chico Té…
Não, o próprio Chico não ía lá.
JVL : O Nino …
Também não. Nenhum deles.
JVL : O Fidélis, muito menos ?
Muito menos.

ARISTIDES RECUSA SER PR DA GUINE (p. 186)
JVL : (…) Chegou-se a colocar a questão de ser o senhor o chefe de Estado da Guiné ?
… em conversa com o Luís, ele pôs-me a questão. Apenas nós dois. E eu respondi-lhe : « Nem pensar ! » « Como é que eu agora vou ser presidente da Guiné ?! O que estou a fazer é por Cabo-Verde ! » Fui claro. (…) Diante da minha resposta, ele disse-me : « Se tu não avanças, então tenho eu de avançar ». Isto porque nós dois éramos fundadores do PAIGC.

INDEPENDÊNCIA DE CABO-VERDE (p. 223)
AP : O consenso a que chegamos é que havia que preservar o cargo de SG do partido. Havia a conveniência que o partido, para que continuasse a ter a força que tinha, a pessoa que estivesse a dirigi-lo pudesse de facto exercer influência nos dois países, era preciso não estar à frente nem num nem noutro Estado, embora residisse num deles.
A reviravolta ficou a dever-se a uma razão muito simples. (…) O Luís soube da posição que ia ser levada de Cabo-Verde, isto é, eu ficar SG do partido, o Pires o PR de Cabo-Verde, e depois se iria ver quem seria o primeiro-ministro e tudo o resto. No entanto, o Luís não aceitava isso, sem eu saber. Ele nunca me disse abertamente, que era contra. Às tantas, quando a decisão estava à beira de ser tomada, eu recebi mensagem dele por interposta pessoa.. (…)
… o Araújo…
« Deves lembrar-te, vocês é que são os fundadores do partido, ele está como presidente da Guinié e se o Pires aparece como presidente de Cabo-Verde, automáticamente, o Luís torna-se colega do Pires. Isso não é razoável. Pelo contrário, o Luís acha que tu é que deves ser o primeiro presidente de Cabo-Verde. »
(…) Houve mais gente que me veio falar…Não, não foi o Nino… O Chico Té…
Sim, ele (o Chico Té) foi um dos que foi falar comigo. « Camarada Aristides, veja bem… Vocês é que são os fundadores que estão aí. Está também o Abílio, mas ele sabemos qual é a situação dele neste momento. De maneira que a única solução é você aceitar que fique como presidente de Cabo-Verde e isso não lhe impede de ser o secretátio-geral. »

E eu, também levado por uma certa relutância em, sendo cabo-verdiano, parecer que não queria protagonismo em Cabo-Verde, preferindo em vez disso ficar na Guiné, país na altura com muito mais peso internacional que Cabo-Verde, possívelmente, tomei esta posição : « Vou deixar isso andar. Vamos ao CSL[ii], vem o projeto e decide-se pelo melhor ». Mas é claro, no CSL havia uma esmagadora maioria de guineenses, que foram todos mobilizados pelo Luís. E o resultado só podia ser o que foi.

Para mim o melhor era não estar nem numa coisa nem noutra. Ou seja nem SG nem PR. Só que aparece a questâo e eu acabei por ter que mudar de ideia.

A DESGRAÇA DO PAIGC – O princípio do fim  (p. 259-260)
Eu ia périódicamente à Guiné…era nessas reuniões que normalmente havia oportunidade de estar mais perto das coisas e das pessoas… Nessa altura eu tinha não só os relatórios escritos , mas também os relatórios directos que eu podia pedir aos diversos responsáveis, para ter uma ideia de como a situação andava. Mas, na Guiné,… o Luís Cabral sempre teve uma posição independente em relação ao secretário-geral. Ele era o presidente da Guiné-Bissau e dava-me a entender que o SG não tinha nada que se meter pelo meio. Procurou sempre demonstrar isso. (…)
De maneira que, às tantas, passei também a me marimbar, tenho de o admitir. (p.259)
De todo o modo, em relação à Guiné, a minha única esperança era, na altura das reuniões binacionais, que a malta guineense falasse e se procurasse, em conjunto, o remédio para o que estava mal. (…) Mas justamente esse era o mal dos guineenses : … podiam ir contar-me tudo, mas chegávamos a uma reunião e ficavam calados, mesmo que eu dissesse : « Você tem que contar as coisas que me disse em privado ».
Ainda por cima, … não havia a cooperação do Luís.

JVL : Havia uma paz podre, então no PAIGC ?

Com certeza. Aliás, isso dá-se em quase todos os partidos únicos, quando a coisa se prolonga por muito tempo…. como por exemplo neste caso, é o fim.

JVL : Isso prova… que o PAIGC estava armadilhado pela sua própria história.
Com certeza. Mas isso poderia ser ultrapassado se o Luís tivesse uma outra atitude, mais aberta e colaborante comigo.

A FRUSTRAÇÃO DE CHICO TE… (p.267-268)
Por exemplo, na altura da formaçâo do primeiro governo da Guiné – embora nessa altura, (…) o Nino não tivesse grandes ambições – o Chico foi escolhido pelo Luís paran comissário-prinicipal. Em vez de fazer uma consulta ampla, a nível dos primeiros responsáveis guineenses, sobre quem devia ficar à frente do governo, o Luís resolveu sózinho o assunto e perverteu, já aí, a situação de quem era realmente o chefe de governo. Passou ele a ser o chefe do governo e o Chico nada. (…) O Chico era um fulano sóbrio, esclarecido, eu tive sempre melhor impressão dele. Às tantas, ele passou a sentir-se frustrado.
O Chico, que era também um indivíduo que tinha sido levado um bocado pela bebida com o Osvaldo…, só que ao contrário do Osvaldo, o Chico tinha a tendência de pôr a bebida de parte e fazer a sua vida como deve ser. Era um indivíduo extremamente estudioso. O divertimento dele era ler. O Chico, … a partir duma dada altura, passa a beber, mas beber, beber, para cair.

JVL : Antes ou depois da independência ?
Depois da independência. Porquê ? A frustração que ele tinha. Aliás, é nessa altura que o Luís surgiu com essa tirada, quando confrontado com a questão de o Chico  ser o comissário-principal e, portanto, ele é que tinha que ser o  chefe do governo : « Não, não, isso é como os ministros ; ele é o primeiro dos ministros ». Portanto, «  é o primeiro dos ministros mas sem ser primeiro-ministro ». O Chico, talvez pour uma questão de feitio, parecia não querer contestar isso, mas sofria e bebia.

NINO VIEIRA, COMISSARIO-PRINCIPAL (p. 271)
Em relação ao Nino, procurei sempre tirar partido do relacionamento que estableleci com ele quando trabalhamos juntos na Frente Sul. Mas, depois que passa a comissário-principal, ele retraiu-se, evitava encontratr-se comigo. Eu só sabia dele por terceiras pessoas. (…) Quando ía a Bissau… via-o à chegada no aeroporto… Se eu o mandasse chamar, difícilmente aparecia.

Eu era dos dirigentes com quem o Nino se abria um pouco mais. Eu sabia das suas limitações, por isso sempre procurei incutir nele que era preciso aumentar o seu nível de instrução e ter mais conhecimentos para que aquilo que a Guiné ainda esperava dele. (…) De facto ele arranjou explicadores. Mas as preocupações dele eram outras.

Mal chegamos, dos primeiros problemas que tivemos foi a questão das casas. Por exemplo. O Juvêncio Gomes, que nós tínhamos mandado à frente, trabalhou com Carlos Fabião. O Fabião arranjou-lhe uma casa, que era a antiga casa do presidente da Câmara Municipal de Bissau. Chegando a Bissau, das primeiras coisas que o Nino reclamou foi a casa do Juvêncio. (…) O Nino pôs o problema de tal forma, tanto pressionou, que o Luís teve de ceder. Desalojou o Juvêncio, mandando-o para outro sítio, para o Nino ir para lá.
O grande mal de Nino, sempre, foi a acumulação de erros e erros em relação àquilo que ele já estava prevenido. (…) O José Sanhá estava preso e tinha uma moça, (…). Afinal, o Nino já tomara conta da moça do Sanhá. Cabral quase ia caindo de costas. « Mas como é possível ? »(p. 266)

Por causa da sua conduta, o Nino estava sempre a receber observações por parte de Cabral e atribuía isso ao Luís, quando, na maior parte das vezes, nem era isso. Era por causa da póípria conduta dele.

Muitas vezes, a nível da cúpula, apresentavam-se problemas que o que apetecia fazer era mudar tudo. Houve situações em que quer o Nino quer o Osvaldo, principalmente, pelas coisas que fizeram, era para serem expulsos ou então deixarem de pertencer ao nível de responsabilidade que tinham.

O Nino sempre persistiu nessa via. Aliás, até depois, como chefe de Estado, ele fez coisas incríveis e o resultado só podia ser o que acabou por ser.

Eu sabia que o Luís estava a governar à vontadae porque o Nino não ligava para as suas responsabilidades. (…) Fazia de conta que não era nada com ele.

JVL : Apenas tirava benefícios do cargo.
Com certeza. E depois, com o golpe, veio pôr os problemas do lado exactamente contrário.

GOLPE DE ESTADO DE NINO VIEIRA (p.265)
A minha primeira impressão é que estava a acontecer aquilo que eu já tinha previsto. E havia também a maneira como as coisas estavam a ser conduzidas. (…) Sendo o Nino a dar o golpe, parti do princípio que era uma revanche dele em relação ao Luís. A questão entre eles não começa depois da independência mas muito antes. (…).

Aquilo era uma situação terrível, principalmente para o Luís que tinha de gerir o problema, sabendo que nem todos aceitavam a autoridade dele, a começar pelo Nino. Só se relatavam os desatinos que o Nino cometia em relação a mulheres e outras coisas do género.

Decidiu-se atribuir patentes altas a uma série de gente – Úmaro e outros – que tinham trabalhado sempre debaixo das ordens do Nino.
Houve a cerimónia, no interior da Guiné, em que ele chorou até, mas não foi por causa do Pires. O problema dele era o Tchutcho, o Úmaru… O Nino não admitia que o Úmaro tivesse a mesma patente que ele naquela altura, pelo menos. (…)

A situação chegou a um ponto em que toda a gente dizia que « o melhor é ver se o Nino vai estudar », e ele próprio, às tantas, convenceu-se disso também, felizmente. (…) Para ser oficial superior, ele tinha que estudar, e é assim que ele foi estudar em Cuba.
JVL : O certo é que depois do golpe, (…) O Nino disse que o mandaram estudar a Cuba quase como um castigo ou desterro.
Isso são conversas.

A minha esperança fixava-se mais na possibilidade de eu falar directamente com o Nino e propus-lhe isso através do Silvino. Ficou assente que ele viria ao Sal, mas depois ele nega-se a vir. (p. 272)

JVL : Algum dia chegou a sentar-se a sós com o Nino para discutirem esses problemas todos ? (p.284)
Ele fugiu sempre a isso. Mesmo em Maputo tentou-se avançar para essa via, mas ele pôs-se a repetir as mesmas coisas que tinham sido ditas durante o golpe. (…) Ele apenas dizia que havia uma situação que poderia dar em guerra civil, Luís estava a arranjar o seu grupo… Eu disse-lhe : « Tínhamos os orgãos do partido, onde podias denunciar isso. Por que não o fizeste ? » E ele : Eu já sabia que se o fizesse eu  seria abafado. »

UNIDADE ADIADA (p. 280-282)
… a unidade era um processo longo, e que antes de falar na unidade política tinha de haver interesses, principalmente do ponto de vista económico, de mentalidades etc., e foi o que procurámos fazer.
Mas é preciso verificar que as iniciativas nesse sentido foram todas de Cabo-Verde. Da parte da Guiné nunca surgiu uma palha. Mas tudo o que fazíamos era mal interpretado. Por exemplo, quando a gente procurou fazer uma companhia mista de navegação marítima (Naguicave) e outras coisas mais, partiu-se do princípio que, sendo mais pobre, Cabo-Verde estava a procurar o encosto na Guiné, para subir. Todas as iniciativas foram nossas, mesmo o Conselho da Unidade, que se devia reunir, discutir as coisas, etc.
Mantinha-se no espírito dos dirigentes guineenses de que a luta tinha sido feito lá, a maior parte dos combatentes eram guineenses, portanto, tinham de ter uma certa preponderância, que nisso Cabo-Verde era a cauda. (…)
Por exemplo, estando a Guiné independente, evidentemente que havia responsáveis nossos que viajavam com passaporte diplomático guineense mas, com a independência de Cabo-Verde, esses passaportes foram postos de parte e emitimos os nossos. Os guineenses zangaram-se. (…) Com a criação da nossa moeda estranharam o facto dela continuar a chamar-se escudo em vez de peso como era na Guiné. E outras coisas mais que, para nós eram normais, para eles eram incomodativas.

Tudo que implicasse a unidade os guineenses diziam « sim senhor, sim senhor », mas não passava disso. »

Hoje, quando todos os países procuram unir-se, na Europa, na América e na África, vê-se melhor que, afinal, a unidade entre Cabo-Verde e Guiné não era nenhum absurdo.

MAPUTO : REECONTRO COM NINO (p. 283)
Quando o Samora apareceu com o seu gesto (…) no nosso encontro em Maputo, você não imagina as barbaridades que não ouvi do Nino. O que ele disse a meu respeito era de um inimigo figadal.

Ele classificou-me de tudo, traidor, que confiou em mim e que eu lhe dei as costas a favor do cabo-verdiano Luís Cabral, enfim aquela coisa de sempre contra os cabo-verdianos. Samora ficou a olhar atónito para nós com o que estava a ouvir, como a não querer acreditar.

COMO EGAS MONIZ (p. 275)
JVL :… há quem ache que se tivesse havido uma liderança forte sua, tanto em Cabo Verde como na Guiné, não teria havido o 14 de Novembro…
… admito que a minha liderança fosse fraca… Também reconheço que não tenho as características de uma autoridade forte. (…) … houve falhas, porque a minha capacidade não chegava ao nível que seria de desejar, mas que culpa tenho eu ? 
Sentia-me uma espécie de Egas Moniz com a família.  É como se Cabral estivesse vivo e eu tivesse que lhe dizer : « Olha, afinal, fiquei com isto mas vê lá a situação a que chegámos. Mas eu não podia fazer muito mais ». 
Fin de citação.

Cada um vai certamente apreender as revelações de Aristides Pereira, à sua maneira. Quanto a mim : Creio que a verdadeira desgraça começou na distorção da hierarquia do Partido, com a escolha de Aristides Pereira para o cargo de presidente de Cabo-Verde. Desta feita, embora conservasse o cargo de SG,  a impulsão que tal responsabilidade necessitava no momento, escapou-se-lhe naturalmente. É claro que naquela posiição, era para ele impossível ser árbitro, simplemente porque resolveu vestir a camisola de jogador.
-       Aristides Pereira alinhavou o seu alibi como pode, encontrando no seu colega, Luís Cabral, a ode apropriada. No entanto, não é uma justificação que se pode aceitar com equanimidade. O que estava em jogo eram os interesses superiores do partido. Creio que ao ficar de pés atrás e esperar que os guineenses se espairassem à volta da unidade, faltou-lhe tomates.
-       E resolveu marimbar ! Fantástica dialética numa mísera aplicação.  Trocar as rédeas de Presidente da República pelas migalhas de um Secretário-Geral, acrescido do risco de continuar a não ser respeitado, não deve ser apanágio do comum dos mortais. Mesmo o « santo » Aristides, não escapou à regra. Enfim, tant mieux por ele et tant pis pelo resto.
-       Aprende-se no livro que, afinal, o cargo de secretário-geral adjunto do PAIGC, não obedeceu a uma consulta prévia no seio do partido mas sim duma décisão pessoal de Amílcar Cabral, sómente para tirar os chineses da sola. Hoje, nada passaria dessa forma. Mas hoje é hoje e ontem … era Cabral !  (p.148)

-       Em relação ao vasto complot que vitimou Amílcar Cabral, longe de insinuar que o Spínola fosse inteiramente alheio ao caso, compreende-se no entanto as razões porque os dirigents do PAIGC tudo fizeram para transformar o general português num ogro à defaut de poder desvendar o ogro que existia no próprio Partido. Eu ainda acredito que, algures no fundo, asfixiada sob montões de secretismos, a verdade existe. E Portugal deve tornar público as circunstâncias do assassinato de mais um dos seus. Na mesma linha que o general Humberto Delgado, Amílcar Cabral, nacionalista, morreu como português, não é ?

-       Dispostos a ferir mas ainda relutantes em golpear,  no 2° Congresso, a inércia dos guineenses tornara-se insensata. Ou os cabo-verdianos foram ingénuos ao acreditarem nesse fazer de contas que não quer dos guineenses ou estes foram mais inteligentes para mais tarde virem a justificar o que  iria acontecer numa sexta-feira de Novembro de 1980. Pire, os guineenses mostraram de novo uma centelha de compaixão por um deles, o Luís Cabral, tornando-o Presidente da República… da Guiné-Bissau. Hipócritamente,  para « compensar » a morte do irmão, - como uma vez me disse um alto dirigente do Partido, de passagem por Genève. E de novo os dirigentes cabo-verdianos engoliram a isca.

-       Com todos os riquisitos que o Aristides o atribui, Chico Té não reunia condições para o cargo de SG ; e por não corresponder à hierarquia do Partido, nem tãopouco o do SG Adjunto. Daí a ser Comissário Principal e a não ter tido a responsabilidade de governar, vai um passo…
-       Não sou a pessoa mais indicada para transformar o tigre em avestruz…mas a César o que é de César ! Pela força das circunstâncias, Nino era um mito. Na tese da atribuição das altas patentes militares, utilizaram-se fontes niilistas para apagar o mito. Infelizmente, as consequências deste acto viriam a marcar uma outra desgraça para os guineenses, que foi o golpe de Estado do 14 de Novembro de 1980, camuflada em concórdia nacional !
-       Afinal, faltava um « capítulo » na história da fundação do PAI-GC. A saber que foram quatro as pessoas que estiveram presentes na reunião do 19 de Setembro de 1956, que foi recuperada posteriormente para servir de farol à fundação do movimento. Pode-se concluir, entre-linhas, que o acto própriamente dito, da fundação do PAI-GC, nunca existiu enquanto tal. Tomando esse Setembro como referência (de qualquer maneira não há outra !) eis os fundadores do PAI-GC : Amílcar Cabral, Fernando Fortes, Luís Cabral e Aristides Pereira. Ponto final.

-       Vê-se que, desde a morte de Cabral, o Partido não conseguiu encontrar um rumo novo. Forçados a avançar juntos, guineenses e cabo-verdianos criaram entre si a tal paz podre, dormindo, cada um do seu lado, com um olho aberto. O lado que acabou por pagar e paga ainda hoje, é a Guiné. Entre o Nino que sempre adotou uma atitude sintomática de indolente desinteresse pela questão pública, o Chico Té jogando com a sua capacidade libatória,  o Luís Cabral anelando a independência de acção face ao SG, e esse mesmo à se marimbar, o ritual da destruição não podia deixar de se cumprir. Basta também ver a « rapidez » com que os cabo-verdianos criaram o PAICV…
-       E, assim, enqunto  Cabo-Verde escrevia o seu futuro em letras de forma, na Guiné apostava-se mais nas azedas divisões  e na sede de sangue.

Hoje, volvidos mais de trinta anos, o país enfrenta um bom desafio : optar por um regime presidencialista ou inclinar-se ao parlamentarismo. Em todo o caso, para sobreviver, já não tem outra escolha do que avançar nas novas direcções que a experiência da actual crise permite desbravar para finalmente alargar a sua cintura, erguendo a cidadania como dever e a República como necessidade.
Enquanto há vida …há esperança !

Fonte: http://www.gaznot.com/?link=details_actu&id=1367&titre#.V26PL8IBBqE.facebook

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