A crise política e parlamentar que se vive no país há cerca de dois anos deixa transparecer a real (in)capacidade do homem político guineense, que nutre a sua tese do bom político com o ‘populismo barato’, conseguido através da compra de consciência dos cidadãos aniquilados pelo podre sistema político que fustiga o solo pátrio de Amílcar Cabral.
Esta crise política leva cada cidadão a interrogar-se: até quando o homem político guineense tomará a consciência que somos nós a resolver os nossos próprios problemas? E sem ficar a espera que os outros que apenas podem fazer o papel de facilitador e nada mais…somos nós a sofrer na pele com a crise que parou todo o país há dois anos e da qual seguramente ninguém sairá como o grande vencedor ou derrotado!? Aliás, as organizações internacionais e os nossos parceiros, através dos seus responsáveis, sublinharam isso em várias ocasiões, que são os guineenses a resolverem os seus problemas.
É claro que a CEDEAO apenas está a servir de facilitadora neste processo, mas infelizmente não conseguiu e nem conseguirá ter sucesso, tendo em conta as divergências de posições a nível da própria organização no concernente à questão da crise guineense. Enquanto a CEDEAO continuar dividida sobre a questão da Guiné-Bissau por causa dos interesses geoestratégicos e geopolíticos obscuros, é impossível esperar uma solução da crise da parte daquela organização regional.
A CEDEAO não pode e nem deve ter posições antagónicas sobre a crise guineense. Os métodos e as estratégias de negociações protagonizados pela CEDEAO já não funcionam, por isso é preciso mudar as estratégias. (In)felizmente a organização decidiu desta vez endurecer a posição através de ameaças de sanções contra os que estão a impedir a implementação do acordo, bem como a retirada da sua força militar.
Intimidação ou não, a verdade é que a organização conseguiu mudar a estratégia e mostra que já está cansada da teimosia do homem político guineense. Outra questão que se coloca é: até que ponto a CEDEAO estará disposta a prosseguir com a sua decisão? Agora é mais de que evidente que a CEDEAO deixou-nos resolver os nossos problemas. Como é que vamos resolvê-los?… através de um diálogo franco numa mesa como gente civilizada ou usando a violência (conflito) e que sem dúvida é do melhor que sabemos e podemos fazer! Isso certamente exigiria de novo uma intervenção da comunidade internacional.
Este povo martirizado já está fustigado e não pode esperar mais nenhum segundo, por isso a única saída que nos resta é levantarmo-nos e deixarmos o ‘orgulho barato’ de fora, de forma a sentarmo-nos à mesma mesa e encontrarmos uma solução na base da nossa realidade.
É bom que nós nos inspiremos dos exemplos do Ruanda, da África do Sul e de outros países que passaram por situações difíceis e conseguiram unir-se para o bem-estar dos seus povos.
Aliás, os nossos gloriosos combatentes conseguiram unir-se na base do slogan ‘Unidade e Luta’ para libertar-se do jugo colonial. Cabral dizia naquele período o seguinte: nós avançamos para a nossa luta seguros da realidade da nossa terra – com os pés fincados na terra!
Acreditamos que é possível tirar o país desta constante instabilidade política e governativa. E milhares de guineenses acreditam que é possível, mas para isso é preciso que sejamos capazes de deixar de lado as nossas diferenças para que possamos nos entender numa mesa de negociações, através de cedências mútuas em nome do interesse nacional. Porque é bom que se saiba de uma vez por todas que nem o PAIGC e muito menos o PRS ou qualquer que seja a formação política não conseguirá jamais, sozinha e nestas condições, tirar a Guiné-Bissau desta lamaçal.
É urgente deixarmos o orgulho barato de lado para que possamos salvar este país, porque ainda vamos a tempo. É verdade que todos nós temos a esperança que um dia isso vai passar, mas isso dependerá do que fizermos hoje!
Por: Assana Sambú/MO