Opinião : “PAIGC, DO LEGADO POLÍTICO ÀS ENCRUZILHADAS DO PODER”

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Na verdade, creio não ser possível abordar o legado político do PAIGC, pelo menos no que concerne à questão da unidade, organização e coesão interna, sem fazer referência à estratégia desenhada e acção concertada do seu fundador e militante número Um, Amílcar Lopes Cabral. Aliás, seria até uma quimera e afronta não exaltar este fervor no espírito dos Combatentes da Liberdade da Pátria.
Dizia-me, sabiamente, um amigo, talvez seria interessante explorar a questão da (des)unidade do PAIGC associado a outros problemas intrínsecos, tais como a falta de lealdade política, a ética no exercício das funções político-partidárias, a compra de consciência; enfim, uma panóplia de problemas que constituem o nervo central da crise que assola o PAIGC e que, no fundo, põe em causa o próprio legado. Quanto a isso, julgo que o tema daria um excelente trabalho de pesquisa e dissertação, mas fica para um próximo ensaio e para quem entender aprofundar as razões do desaire que tem caraterizado o PAIGC pós a independência.
Retomando o tema central, Amílcar Cabral, quanto à questão da unidade e luta, entregou-se à conceção de uma ideologia que suportasse e balizasse a ação do PAIGC na organização e direção da luta de libertação nacional para a afirmação, exaltação e valorização da cultura dos povos da Guiné e de Cabo Verde. Do ponto de vista estratégico, visava a luta que o destino desses territórios, sob o jugo colonial, viesse a ser entregue aos respetivos povos e que neles, livremente, construíssem o seu progresso e bem-estar. Esta foi a primeira grande vitória do partido, um legado (esperava-se) para a vida.
Se dúvidas houvesse ficaram dissipadas e esclarecidas, pois o valor da Unidade, como um dos primeiros princípios do partido, era intrínseco ao homem e à sua visão enquanto líder, tal como ficou patente nas opções metodológicas que definiu para o partido, nomeadamente: contribuir para a efectiva recuperação e consolidação da cultura, visando o fortalecimento da Unidade no seio do PAIGC e da sociedade; fomentar a reflexão e o debate no seio das massas e das bases do partido. Daí o entendimento de Amílcar Cabral que o sentido de Unidade, que deve constar nos princípios do partido, é o seguinte: “quaisquer que sejam as diferenças que existem, é preciso ser um só, um conjunto, para realizar um dado objectivo”.
Em boa verdade, o sucesso do PAIGC na condução da luta dos povos da Guiné e Cabo verde é superior a demonstração e confirmação da eficácia e inalterável pertinência do princípio de Unidade. Quem conhece o PAIGC sabe que foi sempre um partido com muitas contradições internas. Mas, soube sempre resolver essas contradições, pelo menos momentaneamente. É, precisamente, sobre a questão da unidade, organização interna e debate de ideias que importa o partido, neste preciso momento, reorientar a sua estratégia, tendo em conta a posição que assume no quadro político guineense, porquanto se entender que a manutenção desse espírito de abertura pode representar um passo gigantesco para a reconciliação e pacificação do mesmo.
Tendo como suporte básico a Unidade no quadro de formação da identidade ideológica e consequente condução da luta de libertação nacional, Amílcar Cabral delineou os seguintes programas de acção: Programa Maior, que passava pelo desenvolvimento socioeconómico do país, e o Programa Menor que tinha por objectivo a libertação do país do jugo colonial e de quaisquer outras formas de opressão, dominação ou exploração. Os dois programas estavam extraordinariamente bem interligados, pois a organização das zonas libertadas era a condição necessária para garantir o sucesso da luta armada, razão pela qual Cabral defendia que as características fundamentais para a libertação passariam, inevitavelmente, pela prática da democracia, da crítica e autocrítica; pela responsabilidade crescente das populações na administração das suas próprias vidas; criação de escolas e de serviços de saúde; formação de quadros originários das classes camponesa e trabalhadora.
Ora, na situação em que hoje se encontra a Guiné-Bissau, e não podendo colocar de lado o papel do partido e as consequências positivas e negativas da sua participação em todo o processo de desenvolvimento e democratização do país, torna necessário e imprescindível projectar alguns dados para, de uma forma descomprometida, proceder à comparação entre o período que consubstanciou a luta armada com o actual contexto da nação. Efectivamente, alguns dirão que não é possível fazer essa comparação e/ou extrapolação, mas, ainda assim, acho que é importante um breve ensaio para situarmos alguns dados que, no futuro, sirvam de pista para uma análise mais aprofundada.
Segundo o relatório “A Educação na Guiné-Bissau” de 1977, em 10 anos o PAIGC formou mais quadros que o colonialismo em 5 séculos. De facto, até 1961 apenas foram formados 14 guineenses com curso superior e 11 com o nível do ensino técnico. Em comparação, entre 1963 e 1973, que coincide com o início e término da luta de libertação nacional, foram formados 36 guineenses com cursos superiores, 46 com curso técnico médio, 241 com cursos profissionalizantes e de especialização e 174 quadros políticos e sindicais. A educação era assim concebida como uma arma política de primordial importância. Por isso Cabral defendia que não seria a sua geração a ganhar a luta, mas sim a que se seguiria, uma vez que mais importante que a libertação armada era a libertação intelectual e cultural, razão pela qual se tornava imprescindível a formação de quadros. Para tal, o PAIGC criou, ainda na década de 60, em Conacri, a Escola-Piloto, que apostava na formação de quadros políticos e que, simultaneamente, dava cursos elementares de instrução primária. Em 1965, é fundado o Instituto Amizade, cuja finalidade era dar acolhimento, protecção e educação às crianças vítimas da guerra e aos refugiados. Os objectivos destas duas escolas era a formação de quadros capazes de construir um país de paz e progresso. Por outro lado, foi dado especial enfoque à justiça, através da criação de tribunais do povo, compostos por três moradores e onde o professor tinha a função de funcionário administrativo do tribunal. Para além disso, foi dada primordial importância à saúde, através da criação de nove hospitais (cinco no sul, dois no norte e dois no leste) e de postos sanitários (que passaram de 28 em 1968 para 117 em 1971).
Como se poderá constatar, toda a dinâmica foi desenvolvida no quadro de uma luta armada com escassos recursos financeiros, técnicos e humanos, contando com a bravura e união dos guineenses em torno de um procjeto, uma causa e um partido com identidade, liderança, unidade e coesão interna muito fortes.
Contrapondo com o actual contexto e o que tem caracterizado o partido e consequentemente o país, saliento que, desde a independência, em setembro de 1973, até à presente data, o PAIGC esteve quase ininterruptamente no poder, alternadamente com o PRS (2000 a 2003) em aliança (no primeiro ano) com a RGB/Movimento Bafatá. Registaram-se, ao longo destes períodos, alguns resultados em termos da dinâmica democrática com abertura ao multipartidarismo, em 1991, e tentativa de afirmação do potencial económico, iniciado na década de 80, com injecção de acções externas e assistência financeira ao desenvolvimento em muitos milhares de USD. No entanto, estima-se que 58,4% da população continua a viver em situação de pobreza extrema e a Guiné-Bissau é mesmo o 10º país menos desenvolvido do mundo de acordo com os dados do PNUD 2015.
Desde a introdução do multipartidarismo, em 1991, e a realização das primeiras eleições em 1994, até à presente data, não se verificou um único governo que tenha terminado o seu mandato e o orçamento de estado tenha sido executado na sua plenitude. Entretanto, entre 1973-2015, o país teve mais de uma dezena de presidentes da república e duas dezenas de primeiros-ministros, interrupções constantes entre golpes de estado e rupturas constitucionais. É verdade sim, falta demonstrar a ligação dos maus desempenhos económicos com as lutas pelo poder. Sobretudo quando tem havido assistência financeira, mas os resultados não aparecem. Não estaremos aqui perante um outro problema grave que poderá estar na origem das lutas pelo poder, mas que não é necessariamente uma consequência da(s) luta(s) pelo poder? Julgo que está aqui mais uma proposta de estudo, a relação entre o controlo do poder e o desempenho económico.
Ora, analisando friamente toda a dinâmica do partido e, consequentemente, da Guiné-Bissau, salta para o debate interno, e público também, algumas questões que importam realçar, sem as quais dificilmente se torna possível abordar a unidade, coesão e liderança como um projecto sólido e consistente no seio do PAIGC, a saber: Os Estatutos e o Programa do Partido.
Em relação aos estatutos, é importante reflectir sobre a Orgânica do partido quanto à questão interna e funcional. De acordo com os estatutos, o partido organiza-se a nível nacional, regional, sectorial e de secção, num total de 16 órgãos, nomeadamente: Congresso; Comité Central; Bureau Político; Presidente do Partido; Secretário-Geral; Convenção Nacional; Comissão Nacional de Jurisdição; Conselho Consultivo; Conferencia Regional; Conselho Regional; Comissão Política Regional; Secretariado Regional; Comissão Regional de Jurisdição; Conferencia Sectorial; Comissão Política Sectorial e Secretariado Sectorial.
De facto, observando, por um lado, a dinâmica organizacional, permite identificar a existência de um número muito elevado de órgãos e imprecisão relativamente às atribuições dos mesmos, a duplicação de competências, a inadequação dos perfis dos dirigentes e, em alguns casos, o nível de qualificação e formação dos mesmos. Este estado de coisas constitui um obstáculo à percepção clara da organização interna do partido que em resultado da falta de eficácia, originada pelo estrangulamento da estrutura, gera o desequilíbrio funcional, fomenta a corrupção e as constantes derivas e lutas internas pelo poder, tal é a semelhança com a administração pública.
É importante ter algum entendimento em relação a este assunto, nomeadamente: «Se o problema central não será mesmo o do Homem do PAIGC e não tanto a questão estatutário ou do número (quantidade) dos órgãos internos. Homem do PAIGC na mesma proporção que se pode falar do Homem Guineense. Completamente irreconhecível e em crise profunda». Parece-me que devem ser tidos em conta tais aspectos, no entanto, nunca é demais reforçar que a organização interna, definição e cumprimento de normas, procedimentos e regras estatutárias, disciplina partidária e pluralidade de ideias, são requisitos importantes e fundamentais para um partido que pretende executar o seu projeto político.
Por outro lado, o universo que compõe os cerca de 15 mil militantes registados, conforme os dados disponibilizados pelos órgãos do partido, não se entende o exagerado número de delegados que são admitidos aos congressos, concretamente tomando como o exemplo prático, os Congressos de Gabu e de Cacheu, de 1.100 e 1.175 respectivamente. Se a intenção é angariar o número máximo de votantes sem ter em conta a discussão em torno de um programa e de um manifesto político, então deve ser repensada estatutariamente a participação em massa, dos delegados ao congresso, cujo objectivo maior não se enquadra no debate e esclarecimento de ideias para o partido. Em todo o caso, é importante salvaguardar a capacidade eleitoral dos militantes e tornar plural a partilha de reflexões e pensamento crítico no seio do partido PAIGC.
Ainda, em relação à dinâmica que se pretende para o partido face aos desafios do futuro, não se compreende o elevado número de elementos do Bureau Político, ou seja, cerca de 91 efectivos e 11 suplentes, e do Comité Central com 351 efectivos e 21 suplentes. De facto, é importante o debate e discussão de ideias em termos estratégicos sobre as “guidelines” do partido, capaz até de permitir uma alavancagem das dinâmicas que se pretendem. Mas, parece-me que isso deve ser feito num quadro dimensionado à realidade do partido e não tanto através de um plenário que pretende substituir as funções de um congresso. As organizações só funcionam se forem criadas e desenvolvidas com uma visão voltada para a sua realidade interna, ou seja, para si própria. Os tempos são outros e os desafios também, portanto, é importante pensar na renovação e modernização do partido.
A recente crise colocou a nuas fragilidades do partido, da nação guineense e, invariavelmente, da classe política em geral, tema que importa agora refundar e estimular em termos de “learning opportunities” e resolução dos problemas conjunturais que o país enfrenta.
Em suma, o PAIGC deve viver de factos e de verdades, criando condições para que haja unidade e coesão no seu seio, tal como é o legado doutrinal de Amílcar Cabral.

Lisboa, 13 de janeiro de 2016.
Luís Barbosa Vicente

Narco fortalecido com a crise na G-Bissau

O novo relatório das Nações Unidas sobre Tendência de Migração Internacional, divulgado esta semana, revela que o número de migrantes internacionais atingiu os 244 milhões em 2015, ou seja, mais 41 por cento do total de pessoas que viviam num país diferente daquele onde nasceram, em 2000.


Dois terços destes migrantes vivem na Europa (76 milhões) e na Ásia (75 milhões), seguindo-se a América do Norte, que abriga 54 milhões de migrantes internacionais, da África, América Latina e Oceania. O país com mais migrantes estrangeiros é os Estados Unidos da América, com 47 milhões, seguido da Alemanha, Rússia, Arábia Saudita, Reino Unido e Emirados Árabes Unidos.

Segundo o relatório, os indianos foram os que mais migraram para outros países no ano passado (16 milhões), seguidos pelos mexicanos, com 12 milhões, russos, com 11 milhões, e chineses, com 10 milhões. Mais de metade (52 por cento) dos migrantes internacionais é do sexo masculino e a maioria nasceu na Ásia. A média de idades ronda os 39 anos, sendo que 15 por cento têm menos de 20 anos.

A nível do acolhimento, Portugal lidera a lista entre os países lusófonos, ao abrigar 837 mil migrantes internacionais. Moçambique surge em segundo lugar, com 222 mil, Angola 106 mil, depois Guiné-Bissau 22,3 mil, Cabo Verde 14,9 mil, Timor Leste 10,8 mil e São Tomé e Príncipe 2,4 mil.
 
 

 

Os "potugas" sempre metidos....

Inaugurada a Escola de Artes e Ofícios do bairro de Quelelé a rede fotovoltaica - alimentada por painéis solares - financiada pela Cooperação Portuguesa e pela ONG Acção para o Desenvolvimento (AD).


Esta infraestrutura permitirá o fornecimento de energia eléctrica à Escola de Artes e Ofícios que oferece formação profissional a jovens guineenses nas áreas da electrónica, electricidade, informática, educação da infância e, mais recentemente, hotelaria, através da primeira escola guineense neste sector. Os técnicos formados na Escola e que apresentaram o projecto e a forma de funcionamento desta infraestrutura receberam formação especializada no âmbito do Projecto Bambadinca Sta Claro.

Participaram na cerimónia de inauguração o Director da Escola, o Director Executivo da AD, um representante do Ministério do Trabalho e da Função Pública, um representante do Ministério da Educação Nacional, a Coordenadora da Rede de Protecção Social (RA) que é apoiada pela Cooperação Portuguesa e a Coordenadora de Projectos da Embaixada de Portugal.

Nas suas intervenções, todos agradeceram o apoio que tem vindo a ser prestado pela Cooperação Portuguesa à Escola de Artes e Ofícios desde a sua fundação. A Coordenadora de Projectos referiu que a educação constitui uma prioridade da cooperação entre Portugal e a Guiné-Bissau e que o ensino técnico profissional é essencial para promover a inclusão social e combater o desemprego jovem.
 
(in: Cooperação Portuguesa Guiné-Bissau)
 
 

 
 

Lembraram-se agora ? Poupem-nos...!


Face a pretensas análises cujo teor reprovamos, por resultarem de intrigas urdidas internamente, contrariando e deitando maquiavelicamente a perder todo um esforço porfiadamente desenvolvido, publicamos hoje a tradução do discurso proferido, em francês, perante a 83ª Assembleia da INTERPOL, como Ministra da Justiça, em representação da Guiné-Bissau, no Mónaco, cujo Relatório de Missão se pode aqui encontrar na barra lateral direita, logo por baixo da passagem de fotografias.


Após a cerimónia de abertura, a 3 de Novembro de 2014, os trabalhos iniciaram-se no dia seguinte, dedicados ao século de cooperação policial decorrido. Tomei a palavra no ponto referente ao crime transnacional e insurgi-me contra o preconceito que reduz a Guiné-Bissau a um «Narco-Estado». Vários Ministros e Diplomatas me quiseram dar pessoalmente os parabéns pela alocução, afirmando que a Guiné-Bissau estava no bom caminho.

Numa outra missão, no mesmo âmbito, cerca de seis meses depois, a 23 de Abril do ano passado, participei igualmente na 2.ª Reunião Ministerial Contra o Tráfico de Drogas, em Moscovo. Na sessão de abertura foram lidas as mensagens do Presidente da Federação da Rússia, e do Secretário Geral das Nações Unidas, Vladimir Putin e Ban Ki Moon. Os chefes das delegações debruçaram-se sobre os malefícios da droga para a saúde, a sua consequência nefasta para a economia global, através do branqueamento de capitais pelo crime organizado e a ameaça cada vez mais preocupante que o tráfico ilícito de drogas constitui para a segurança e estabilidade interna dos países, por meio da sua ligação e financiamento do terrorismo, sobretudo nos países menos desenvolvidos e particularmente na África Ocidental. Coube-me a honra, como Ministra da Justiça da Guiné-Bissau, proferir a última intervenção antes do discurso de encerramento do Director do Serviço Federal para o Controlo de Tráfico de Drogas, na qual contextualizei a origem do fenómeno, as condições que favoreceram a sua disseminação e as consequências para o país, voltando a realçar a vontade política de combater este fenómeno traduzida nos engajamentos assumidos a nível regional e internacional, na implementação da cooperação técnica com os parceiros internacionais, enfatizando a elaboração pelo actual Governo de um Plano Estratégico da Polícia Judiciária, que contempla medidas de combate ao tráfico de drogas e crimes correlacionados, discurso igualmente muito apreciado e aplaudido.

À margem dessas missões, tentámos reunir, na altura, informações da tecnologia russa de Drones de vigilância, no sentido de abordar as autoridades para que a cooperação oferecida se traduzisse naquilo que precisamos (controlo e vigilância). Estávamos nessa altura em vias de fazer um protocolo para trazer lanchas de intercepção, oferecidas pelos americanos, e talvez pudéssemos vigiar as nossas águas com sistemas (de outra origem) relativamente simples e baratos que tivéssemos gente para operar: teríamos assim um conjunto soberano minimamente consistente e operacional, independente de uns e de outros. No entanto, não queríamos acreditar na resposta: depois de se informarem, a resposta (de Bissau?) foi que «não tinha cobertura política». Quando somos nós próprios que damos tiros nos pés!


Deixo-vos então a referida tradução:

«Alteza Sereníssima, o Príncipe Alberto do Mónaco
Excelência a Presidente da INTERPOL
Excelência o Secretário Geral da INTERPOL (foto)
Excelentíssimos Ministros e Ministras
Meus Senhores e minhas Senhoras

Falando em nome da Guiné-Bissau, na qualidade de Ministra da Justiça, alegramo-nos com esta participação na 83ª Assembleia Geral da INTERPOL, que marca o centenário da cooperação policial internacional, precisamente aqui onde, há cem anos, o homónimo do actual herdeiro do Principado e primeiro desse nome, Alberto, reuniu os pioneiros. Fazêmo-lo com um enorme interesse e uma atenção especial dedicada à importância vital para o nosso país, da luta contra o crime transnacional.

A Guiné-Bissau é um pequeno país da África do Oeste, com aproximadamente trinta e seis mil quilómetros quadrados e não mais de um milhão e meio de habitantes, o qual, como decerto já se deram conta, se tornou infelizmente conhecido, sobretudo nos últimos dez anos, por ter servido de trânsito para a cocaína, especialmente destinada à Europa, um tráfico com origem na América latina, visando os países mais frágeis, com as instituições mais fracas e vulneráveis da nossa sub-região.
Tornou-se irritante, para os meus compatriotas, sempre que lêem o nome do país na imprensa internacional, é pelas piores razões, associando-o a esse tráfico, chegando frequentemente ao ponto de a Guiné-Bissau ser tratada como um Narco estado, projectando assim uma imagem muito negativa junto do investimento estrangeiro, do qual temos uma necessidade premente para conseguirmos valorizar os nossos múltiplos recursos naturais, tornando-se também altamente nocivo para o nosso imenso potencial turístico de bio-diversidade, que continua por explorar.

Decerto conseguem imaginar as duras condições de inquérito que experimentamos neste país sub-desenvolvido, que é o meu, e a falta de meios com que nos debatemos, sobretudo quando se trata de enfrentar o crime organizado, que não olha a fronteiras e se torna mesmo transcontinental, ultrapassando claramente as nossas capacidades de investigação à escala local. O meu país poderia tornar-se num caso de estudo...

Como quando, há alguns anos, tivemos de recorrer à INTERPOL quando apreendemos um avião comercial, proveniente da América do Sul, transportando um enorme carregamento de droga. Aproveitamos esta oportunidade para exprimir a nossa gratidão pelo apoio prestado à Guiné-Bissau no quadro da cooperação, em particular relativamente nas questões delicadas da criminalidade transnacional ligada ao tráfico de droga.

Experimentámos as funestas consequências dissolutivas, para as estruturas políticas de um país pobre e debilitado, que pode ter o dinheiro com origem nessas actividades ilícitas. Uma série de golpes de Estado pontuaram o nosso percurso, estando agora o país a começar a sair de um período de anomalia constitucional. Novos poderes foram legitimamente eleitos, foi nomeada uma nova direcção militar, o que permite alimentar a esperança que venha a ser colocado em acção um programa de governação favorecendo a consolidação do Estado de Direito, com o reforço da autoridade do Estado e a aplicação da Lei.

Estamos decididos a não continuar a ser uma presa fácil para o crime transnacional, recuperando a nossa credibilidade no concerto das Nações, e por essa razão, torna-se para nós de extrema importância garantir os meios que nos permitem agir e recuperar a confiança, tanto da parte dos nossos concidadãos, como também da opinião pública mundial, na capacidade da Polícia para desempenhar a sua missão. Esperamos assim colocar um termo no ciclo vicioso de instabilidade política e fragilidade estatal.

Com a aceleração da circulação, tanto de mercadorias como de pessoas, mas também da informação, enfrentamos novas ameaças criminais à escala global, como o tráfico de seres ou órgãos humanos, de droga e estupefacientes, ou o terrorismo. Face a ameaças globais, são necessárias respostas globais e concertadas. Se os bandidos cooperam, os criminosos se organizam e se modernizam, o grande desafio para a Polícia é, hoje como há um século, antecipar o seu jogo.

Terminamos na certeza de que toda a gente aqui poderá recolher ensinamentos válidos durante esta Assembleia, demonstrando as inegáveis vantagens do reforço da cooperação policial, organizada a nível internacional, e da sua integração na nossa prática comum, para enfrentar com sucesso a dimensão globalizante e a crescente sofisticação das redes do crime, que já não respeitam as fronteiras tradicionais.

Muito obrigado pela Vossa atenção.»

Carmelita Pires (in: Pa Lantanda)

Miguel Trovoada: “COMUNIDADE INTERNACIONAL MANTÉM COMPROMISSO COM POVO GUINEENSE”


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O Representante Especial de Secretário-Geral das Nações Unidas na Guiné-Bissau, Miguel Trovoada revelou esta quinta-feira 14 de Janeiro, em Bissau que a comunidade internacional irá manter o compromisso que tem com o povo da Guiné-Bissau, mas para isso é necessário que haja condições objectivas para que estes compromissos possam ser honrados.
Falando a’O Democrata à saída do encontro sobre análise da situação política do país e do cumprimento do novo ano ao Presidente da República José Mário Vaz, Miguel Trovoada assegurou ainda que a estabilidade e clarificação da situação política é uma das condições fundamentais para que a existência de um governo estável, com um programa claro e bem definido possa permitir que a comunidade internacional cumpra com promessas da Mesa redonda de Bruxelas.
“Falamos da situação política do país, acção das Nações Unidas na Guiné-Bissau em especial da comunidade internacional em apoiar esforço empreendido pelo povo guineense para consolidação do seu processo de desenvolvimento e situação de actualidade que vai decorrer na próxima semana 18 do mês em curso no hemiciclo guineense” notou.
O Representante especial de ONU no país, explicou neste particular que JOMAV está a acompanhar atentamente o evoluir da situação [política]. “Com certeza que quando chegará momento oportuno terá que se pronunciar sobre assunto assumindo assim a sua responsabilidade na qualidade do Presidente da República”.

ALGUNS VETERANOS DO PAIGC PEDEM AFASTAMENTO DE DSP DA LIDERANÇA DO PARTIDO


Manuel Saturnino Costa
Luís Oliveira Sanca
Porque a contradição interna do PAIGC é tão grande num tamanho incontrolável, nada se pode esperar perante mais um novo figurino historial desenhado com a expulsão hoje, dia 14 de Janeiro, dos catorze deputados e mais Baciro Djá que já estava expulso num outro contexto nas fileiras do PAIGC.

Perante o mesmo cenário, mais um grupo dos militantes do partido, nomeadamente, dos mais veteranos, exigiram o afastamento do presidente do partido, Domingo Simão Pereira, justificando a posição pelo que chamaram de liderança falhada.

Esse grupo é liderado pelo Manuel Saturnino Costa, o presidente honorário do PAIGC e mais outros veteranos do partido entre os quais, Luís Oliveira Sanca e outros, pediram lealdade e verdade no partido, numa clara solidariedade com os deputados ora expulsos.

Manuel Saturnino Costa disse que não vai insultar ninguém, mas prefere seguir a linha da pureza e da lealdade, para que todos posam dividir o pequeno que têm.

Essa posição dos veteranos vem agravar ainda mais a crise no país que continua ameaçar a estabilidade na Guiné-Bissau, onde tudo está acontecer nas vésperas da reapreciação do programa do governo.

«PROJECTO "BEM SERVIR"» MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA E DEFESA DA GUINE-BISSAU RUBRICAM ACORDO PARA DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS


Acto de assinatura do acordo


Bissau,13 Jan 16(ANG) - Os Ministérios da Administração Interna (MAI) e da Defesa Nacional,através do projecto “Bem Servir”, rubricaram hoje um acordo em que se comprometem a defender os Direitos Humanos e combater a violência das Forças de Defesa e Segurança sobre civis.

O acordo foi assinado pelo Director-geral dos Assuntos Sociais do MAI, Arafam Mané e por Abdu Cadri Indjai, Coordenador do referido projecto, tutelado pelo Ministério da Defesa.

No acto, o Director-geral dos Assuntos Sociais do MAI destacou que os jovens são motores de mudança, e a garantia de um futuro melhor para a sociedade guineense.

"Isto porque “os antigos combatentes trouxeram a independência e o poder, cabe a nova geração lutar para o desenvolvimento do país. Ao longo desse processo a nossa forma de pensar e os sucessivos sobressaltos registados adiaram muitos projectos para o desenvolvimento do nosso país”, reconheceu Arafam Mané.

Exortou os jovens a sensibilizarem as pessoas à unirem os seus esforços para o bem de todos e não pelo interesse pessoal.

O Coordenador do Projecto “Bem Servir”, Abdu Cadri Indjai disse que a assinatura de acordo encoraja -lhes a prosseguirem com as suas actividades.

"Vamos abrir uma nova porta no sector da Defesa e Segurança, que é de não violência. De líderes e servidores jovens com capacidades de analisar os problemas que muitas vezes originam sobressaltos”, prometeu.

Cadri Indjai prometeu trabalhar para acabar com os subornos no seio da classe castrense, através de informados sobre os seus direitos e deveres perante a Nação guineense.

Disse que este é o momento de cada um assumir a sua responsabilidade e de mudar a imagem da classe castrense perante o povo guineense e a comunidade internacional.

Cadri apela aos parceiros à apoiarem o projecto “Bem Servir”, porque, segundo ele, está a trabalhar para a melhoria das condições dos agentes das forças de Defesa e Segurança
O projecto terá a duração de um ano e prevê a realização de várias actividades, entre as quais estudos, sensibilização e divulgação de problemas de segurança e defesa nacional em todos os quartéis. 
ANG/LPG/SG/Conosaba

CONSELHO DE JURISDIÇÃO DO PAIGC EXPULSA OS DEPUTADOS QUE SE ABSTIVERAM NA VOTAÇÃO DO PROGRAMA DO GOVERNO




Conselho de Jurisdição do PAIGC preferiu hoje o acórdão que confirma a expulsão dos 14 Deputados que abstiveram-se durante a votação do programa de governo a 23 de Dezembro de 2015.

Abel da SilvaBraima CamaráRui Diã de Sousa, Isabel BuscardineSatú Camará, Soares Sambú,Tumane ManéManuel Irénio Nascismento LopesEduardo Mamadú Baldé, Maria Aurora Abissa Sanó SanháAmido QueitaTcherno SanháAdulai Baldé e Bacai Sanhá.

Baciro Djá já tinha sido expulso do partido

Fonte RDP-África

PORQUE NÃO FUNCIONA O SISTEMA POLÍTICO DA GUINÉ-BISSAU?



Foi esta a pergunta que a DW África fez ao sociólogo guineense Leonardo Cardoso. O historiador acredita que há pessoas e capacidade para governar o país. O problema são os que querem servir-se do Estado para enriquecer.

A crise política na Guiné-Bissau continua a arrastar-se. O Programa do Governo de Carlos Correia volta a ser apreciado pelos deputados a 18 de janeiro. Quinze deputados do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder) já anunciaram que vão votar contra "se não houver diálogo sério" com a direcção do partido.

Se o Programa do Governo for novamente rejeitado, o Executivo cai. O impasse na Assembleia Nacional Popular (ANP) tem gerado muita inquietação e um clima de instabilidade, com troca de acusações e ameaças entre os actores políticos.

A DW África perguntou ao sociólogo e mestre em Ciências Sociais Leonardo Cardoso qual poderá ser a solução para a instabilidade que impera na política guineense.

O historiador guineense rejeita a hipótese de uma administração internacional sob a liderança das Nações Unidas para o país, como defendem vários analistas que consideram que a Guiné-Bissau é"praticamente ingovernável".

DW África: Será que os partidos já não têm nenhuma força aglutinadora? Isto visto que, mesmo com maioria absoluta no Parlamento, o PAIGC não consegue governar...

Leonardo Cardoso (LC): Não creio que o PAIGC esteja em condições de aglutinar as forças na Assembleia Nacional Popular, porque apesar da maioria que detém no Parlamento, anda de costas viradas com uma parte dos deputados (15). E pela forma como as coisas têm sido conduzidas, com cada um, por seu lado, a proferir declarações em conferências, não creio que haja condições para uma reconciliação imediata para se poder constituir como única força no Parlamento.

DW África: Acha que este grupo de 15 deputados do PAIGC vai voltar a impedir a aprovação do Programa do Governo, mesmo com a ameaça de sanções à luz dos estatutos do partido?

LC: Eu creio que sim porque parto do pressuposto de que são pessoas adultas e responsáveis. Qualquer decisão do partido por causa dos estatutos baseia-se na Constituição enquanto lei magna. E a Constituição confere a cada um dos deputados o direito de decidir de acordo com a sua consciência. Para além do mais, tanto quanto é do meu conhecimento, há algumas movimentações internas no sentido de se provocar a realização de um congresso extraordinário. Cada um está a jogar a sua cartada.

DW África: Por outro lado, fala-se também numa alegada "compra de votos" dos deputados por figuras políticas influentes. Como avalia esta situação? Que consequências podem ter estas práticas?

LC: Não creio que seja algo real, que as pessoas possam comprovar. Há uma acusação mútua. Há quem afirme que a direcção do partido, na pessoa do seu presidente, ande a fazer também os seus jogos políticos, ande a oferecer carros. E, por outro lado, a direcção do partido diz que, do outro lado, há também compra de consciências. Não sei quem, de facto, anda a fazer jogo sujo. Isto é lamentável, nem que seja prática ultimamente.

DW África: Acha que esta crise do sistema democrático na Guiné-Bissau poderá vir a servir de desculpa para uma maior influência política dos militares?

LC: Não vejo os militares metidos nisto. Há sim quem se queira aproveita da situação evocando o nome dos militares. Estou convencido que a instituição militar – porque eu faço sempre uma distinção entre militares e a instituição militar – em nenhuma circunstância estaria envolvida em jogos políticos. Pelos comportamentos militares que tenho estado a seguir, até diria que a instituição militar é a instituição que mais se tem adaptado às mudanças democráticas no país.

DW África: Há também quem considere que a Guiné-Bissau é praticamente ingovernável. Vários analistas defendem uma administração internacional sob a liderança da ONU para o país. Acha que seria uma solução viável?

LC: Penso que não. Já ouvi muitas análises. Neste mundo, toda a gente se tornou analista político, mesmo não conhecendo bem a essência das coisas, das causas. O que existe efectivamente na Guiné é que as pessoas não querem tomar juízo. E há pessoas que querem servir-se do aparelho do Estado para enriquecimento ilícito. Mas não creio que não existam pessoas e capacidades internas para governar o país. Elas existem.

DW África: Na sua opinião, qual seria a solução para o problema político da Guiné-Bissau?

LC: Não sei se estou em condições de me pronunciar sobre a solução, mas proporia talvez que houvesse estudos mais sérios sobre a realidade da Guiné-Bissau porque há bons exemplos de alternância da democracia, que existem no seio dos diferentes grupos étnicos. Nós tentamos introduzir alguns métodos de governação, de democracia, sem que as próprias populações estivessem preparadas. Foi tudo feito à pressa, na tentativa de importar ou fazer face às pressões internacionais. Mas se tivermos tempo e nos dermos ao luxo de estudarmos as estruturas sociais, os modelos de alternância política que existiam e que ainda existem na Guiné-Bissau, de certeza estaremos em condições de escolher o modelo que mais poderá servir para a Guiné-Bissau e, então, iremos entender-nos.

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