Carlos Correia foi terça-feira novamente "chamado" pelo presidente guineense, João Bernardo "Nino" Vieira, para chefiar, pela terceira vez, o governo da Guiné-Bissau, com o objectivo de liderar o executivo até às eleições legislativas de Novembro.
Primeiro-ministro pela primeira vez depois de o país ser aberto ao multipartidarismo, no inicio da década de 90 do século XX, Carlos Correia deixaria o executivo com o advento das primeiras eleições pluralistas da 1994, que viria parar novamente às suas mãos em 1997.
Nesse hiato, o cargo foi desempenhado pelo actual 1º vice-presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Manuel Saturnino Costa, tendo Carlos Correia sido surpreendido com o início do conflito militar de 07 de Junho de 1998, que levaria à destituição, 11 meses mais tarde, a 07 de Maio de 1999, de "Nino" Vieira.
Carlos Correia, que substitui Martinho Ndafa Cabi, empossado a 13 de Abril de 2007, torna-se assim o 17º chefe de executivo - entre 15 personalidades (é a terceira vez de Carlos Correia) - da Guiné-Bissau em 35 anos de independência.
O primeiro chefe de um executivo na Guiné-Bissau foi Francisco Mendes, conhecido localmente por "Tchico Té", quando o país ascendeu unilateralmente à independência de Portugal, a 24 de Setembro de 1973, na altura em que o cargo se denominava "Comissário Principal".
Sempre na esteira do "partido-Estado", o PAIGC foi obrigado a escolher um novo chefe de governo nos finais dos anos 70, depois de "Tchico Té" ter falecido num acidente de viação próximo de Bafatá (Leste).
Constantino Teixeira passou então a chefiar o governo, embora só tenha exercido o cargo durante cerca de dois meses e meio (07 de Julho de 1978 a 28 de Setembro de 1978), até ser substituído precisamente pelo actual presidente da Guiné-Bissau, "Nino" Vieira.
Este acabaria por acumular a chefia do executivo com a tutela da pasta da Defesa até 14 de Novembro de 1980, dia em que liderou um golpe de Estado em que derrubou o regime de Luís Cabral, o então chefe de Estado.
Consumado o golpe, "Nino" Vieira ascendeu à Presidência do país e indigitou primeiro-ministro Vítor Saúde Maria, que chefiava, na altura, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e que, mais tarde, em 1991, fundou e liderou o Partido Unido Social-Democrata (PUSD).
Saúde Maria, que faleceu em 2000, manteve-se no cargo até meados dos anos 80, altura em que foi acusado por "Nino" Vieira de fomentar uma tentativa de golpe de Estado, em 1985.
Na ocasião, "Nino" Vieira acabou com o cargo de primeiro-ministro, só o voltando a criar com a abertura do país ao multipartidarismo, no início dos anos 90, tendo escolhido Carlos Correia para chefiar o executivo, substituído, após as legislativas de 1994, por Saturnino Costa.
Em Dezembro de 1998, a Guiné-Bissau conhece o primeiro de dois governos de transição, com Francisco Fadul a assumir o cargo até à realização de eleições gerais, em Novembro de 1999, ganhas em toda a linha pelo Partido da Renovação Social (PRS), então liderado por Kumba Ialá.
Ao longo dos cerca de três anos e meio de presidência de Kumba Ialá (Fevereiro de 2000 a Setembro de 2003), a Guiné-Bissau conheceu quatro primeiros-ministros: Caetano Intchamá, Faustino Embali, Alamara Nhassé e Mário Pires.
Este último, acabaria por cair na sequência do golpe de Estado que também derrubou o regime de Kumba Ialá, a 14 de Setembro de 2003, a que se seguiu o segundo e último governo de transição, liderado por Artur Sanhá, secretário-geral dos "renovadores".
Artur Sanhá chefiou a transição até às legislativas de Março de 2004, ganhas pelo PAIGC, e que levaram o líder do antigo partido único, Carlos Gomes Júnior, a assumir o executivo até 28 de Outubro de 2005, dia em que "Nino" Vieira, entretanto vencedor das presidenciais de Junho e Julho desse ano, o exonerou.
Nesse mesmo dia, o escolhido por "Nino Vie
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ira foi Aristides Gomes, que chefiou o executivo até 13 de Abril
de 2007, altura em que, depois de mais uma crise política, o presidente
guineense nomeou Martinho Ndafa Cabi.O executivo de Cabi durou, assim, 15 meses e 23 dias, até que terça-feira, sempre "Nino" Vieira e sempre devido à crise política (desde que aderiu ao multipartidarismo, em 1991, a Guiné-Bissau nunca concluiu uma legislatura) o exonerou e substituíu por Carlos Correia.
Engenheiro agrónomo formado na extinta RDA, o novo primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Carlos Correia, é tido como um homem "sério e rigoroso", tendo em duas ocasiões, precisamente as que chefiou o executivo, merecido o aplauso das organizações financeiras internacionais.
Natural de Bissau, onde nasceu a 06 de Novembro de 1933 (74 anos), Carlos Correia é um dos "históricos" da luta de libertação dos povos da antiga província portuguesa da Guiné, cujo país acedeu unilateralmente à independência de Portugal a 24 de Setembro de 1973.
Actualmente, é apenas militante do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), uma vez que não se apresentou a qualquer cargo ou função nos três últimos congressos partidários, tendo-se afastado da vida política activa no início desta década.
Primeiro titular das Finanças do recém-criado Estado da Guiné-Bissau - o título exacto era Comissário de Estado (o então equivalente a ministro) - Carlos Correia era um antigo funcionário da Casa Gouveia (antiga CUF).
No entanto, desde o início da década de 50 do século XX que já lidava directamente com alguns dos que, em 1956, acabariam por fundar o PAIGC.
As ligações ao partido tornaram-se definitivas quando assistiu, a 03 de Agosto de 1959 (passaram recentemente 49 anos), ao tristemente célebre Massacre de Pindjiguiti, uma revolta dos estivadores do porto de Bissau que foi violentamente reprimida pelas forças de segurança locais.
Embora não existam números oficiais, a revolta deixou mais de meia centena de mortos e uma centena de feridos, segundo o PAIGC, enquanto a administração colonial portuguesa falou de cinco vítimas mortais, tendo Carlos Correia sido uma das principais testemunhas ouvidas vezes sem conta.
Membro do Conselho de Estado (órgão extinto em 1994) e sempre ministro de Estado enquanto esteve no Governo, Carlos Correia chefiou vários ministérios, como os do Desenvolvimento Rural e Agricultura e do Comércio, precisamente antes da abertura do país ao multipartidarismo, em 1991.
Logo após a abertura ao pluralismo político, "Nino" Vieira, também presidente do PAIGC, escolheu Carlos Correia para o cargo de primeiro-ministro, função que ocupou de 21 de Dezembro de 1991 a 26 de Outubro de 1994, sendo substituído pelo então secretário nacional ("número dois") do antigo partido único, Manuel Saturnino da Costa.
A escolha de Saturnino da Costa, fruto da vitória do PAIGC nas primeiras eleições multipartidárias da História da Guiné-Bissau, em Julho de 1994, viria a tornar-se catastrófica para o país, que viu o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) a criticarem duramente o rumo da economia guineense.
Acabou, assim, por ser com naturalidade que "Nino" Vieira, apesar de uma grande polémica no interior do PAIGC, exonerou Saturnino da Costa e chamou novamente Carlos Correia para a chefia do Governo, cargo que viria a desempenhar de 06 de Julho de 1997 a 03 de Dezembro de 1998.
O seu executivo, porém, acabou por cair na sequência da guerra civil que assolou o país (07 de Junho de 1998 a 07 de Maio de 1999), opondo o governo de "Nino" Vieira a uma Junta Militar liderada pelo general Ansumane Mané, ex-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA).
Em apenas um ano e apanhando uma economia desfeita, Carlos Correia, homem de poucas falas, conseguiu repôr os índices económicos nos eixos, valendo-lhe os elogios públicos do FMI e BM, mesmo durante os primeiros meses do conflito armado.
Carlos Correia, conhecido por "dominar os dossiês governamentais", tal como afirmaram os especialistas do FMI e BM, é unanimemente considerado no país como sendo um dirigente político sério, ao mesmo tempo que é considerado "homem de confiança" do Presidente guineense.
Antigo jogador de futebol, Carlos Correia jogou, e bem, dizem os especialistas, ao longo da década de 50 na também "histórica" União Desportiva Internacional de Bissau (UDIB).
Africanidade/Lusa