A Organização Biombo Sustentável (BIOS), que congrega as associações daquela Região, iniciou no último sábado, 27 de Junho, a comemoração do 1º centenário da morte do primeiro régulo daquela região nortenha do país, N’Kanande Ká. Segundo a organização, N’Kanande Ká foi morto a 17 de Julho de 1915, durante a guerra de pacificação de Teixeira Pinto.
A cerimónia de homenagem, que decorreu nas instalações do Centro Multifuncional “Pirâmide”, no sector de Safim (Região de Biombo), arredores de Bissau, contou com a presença de deputados da nação, membros do governo e personalidades políticas e cidadãos daquela localidade.
De acordo com informações apuradas pelo nosso jornal, a BIOS pretende recolher informações sobre a “vida e obra do régulo N’Kanande Ká”. A organização pretende igualmente alargar a iniciativa da recolha de informações sobre a vida do régulo para as outras regiões do país, através de uma vasta equipa de investigadores, para o resgate da memória colectiva guineense.
O Secretário de Estado da Juventude, Cultura e dos Desportos, Tomás Gomes Barbosa, alertou na cerimónia de abertura que “somos parte da cultura e herança dos nossos antepassados”. Lembrou, na ocasião, as palavras de Amílcar Cabral que dizia que antes da chegada dos colonos já estávamos a viver e a fazer a nossa história.
O governante assegurou que muita história da nossa terra está ainda para ser contada à nova geração guineense e à geração vindoura, para que possamos trazer à luz as nossas origens. Sublinhou que a iniciativa não se resume apenas à região de Biombo, mas que se relaciona com todo o país, dado que cada guineense tem ligações com diversas etnias que compõem a Guiné-Bissau.
Tomás Barbosa desafiou os jovens das outras regiões a apostarem em iniciativas de género em prol da valorização da nossa história e da nossa rica cultura.
Para o administrador do sector de Safim, Libânio Gomes Dias, o evento que o seu sector acolhe demonstra grande importância do passado na vida presente e na perspectivação do futuro de uma região, de um país e de um povo.
“Eu era das pessoas que sustentava que se não deve comemorar a morte. Deve-se comemorar o nascimento. Mas o primeiro centenário de morte de N’Kanande Ká acabou por me fazer mudar de opinião, porque na verdade há mortes que não são mortes. Pois elas geram vidas por trazerem a dignidade ao povo”, explicou.
Na ocasião, o presidente da comissão organizadora dos 100 anos do desaparecimento físico daquele que é considerado o primeiro régulo da Região de Biombo, Jorge Otinta, disse a “O Democrata” que o evento tem como propósito ajudar o guineense a reconciliar-se com a sua própria história. Sublinhou no entanto que “isso só será possível viajando nos anais da história, colhendo testemunhos orais, assim como os dados escritos que existem e as pessoas que vivenciaram tal período directa ou indirectamente”.
“… para efectivamente reescrevemos novos paradigmas para se pensar, para se olhar e para se conceber uma nova Nação que é a Nação Guineense”, exortou o Professor Doutor Jorge Otinta. Acrescentou ainda que a iniciativa constitui um grande desafio para a organização, porque segundo ele, é a primeira vez que se comemora o centenário de um régulo.
Revelou ainda que a sua organização sensibilizou o Governo sobre o evento para que pudesse ser um pouco mais abrangente, mas que a organização não recebeu resposta nenhuma da parte do executivo.
“A BIOS foi obrigada a começar com recursos próprios e apoios pontuais de alguns cidadãos. Isso possibilitou a deslocação de uma equipa que trabalha na recolha de dados para o projecto. Todo o trabalho deverá resultar em livro e isso vai enriquecer a nossa história”, notou.
Presente na cerimónia, o político e Conselheiro do Presidente da República, Paulino Possa Ié, apelou às figuras públicas da região a juntarem forças para o bem-estar da região de Biombo. Frisou que Biombo é uma região que conta com um grande número de dirigentes no país, mas continua a ser das menos desenvolvidas.
O político aproveitou a ocasião para criticar a quem de direito das péssimas condições da estrada que liga a cidade de Bissau ao centro da região de Biombo. Contudo, exortou os jovens a continuarem com a presente iniciativa que contribuirá para o desenvolvimento regional e nacional, pedindo aos dirigentes da região para que acompanhem a juventude de Biombo nesta iniciativa, nas terras de N’Kanande Ká.
Na visão do investigador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), João Ribeiro Butiam Có, Biombo é uma região desprovida de muitas coisas, mas que começou agora algo muito importante, a investigação sobre as memórias de N’Kanande Ká, facto que, segundo o investigador, poderá espelhar o passado, o presente e o futuro da região, ou seja, “de onde saímos, onde estamos e para onde vamos”.
Có considera que a celebração do centenário simboliza a resistência que foi a génese da nação guineense. Prosseguindo neste particular que “conseguimos a nossa independência com esses primórdios de luta, de gritos de autonomização”.
“Hoje estamos na afirmação da nossa independência. Temos uma outra resistência. Precisamos aqui afirmar o que é a resistência, para que possamos efectivamente relançarmo-nos no projecto do desenvolvimento global que nos desafia. Para isso, precisamos de voltar para trás, para saber o que somos não só do ponto de vista regional, mas também do ponto de vista colectivo de toda a Guiné-Bissau e de todos aqueles que contribuíram para que o nosso país seja hoje independente”, contou.
No que se refere a cerimónia de abertura do evento, este contou ainda com actuações musicais dos cantores Cipriano Có e José César Indi, devendo o evento prosseguir para os sectores de Prábis, Quinhamel. Mas Biombo será o palco central no dia 17 de Julho, data da celebração dos 100 anos da morte de N’Kanande Ká. Já no dia 18 a organização fará um balanço e seguido de um jantar de confraternização.
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