O
Governo português defende que a única solução para a "situação muito
crítica" da Guiné-Bissau é um "consenso político mínimo" que garanta a
estabilidade e apela às forças militares para que mantenham a "atitude
correta" de permanecerem à margem do processo.
A
posição portuguesa foi hoje revelada pelo ministro dos Negócios
Estrangeiros, Augusto Santos Silva, durante uma audição na comissão
parlamentar de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas.
A
situação na Guiné-Bissau "é muito crítica" e, para Portugal, a única
saída é "a constituição de um governo capaz de fazer pontes com os
diferentes interlocutores políticos, seja entre diferentes órgãos de
soberania, seja entre as diferentes famílias políticas", considerou.
Portugal
apela para que os agentes políticos da Guiné-Bissau "mantenham a
situação sobre controlo" e "se entendam entre si de forma a construírem
um consenso político mínimo capaz de garantir a estabilidade", declarou o
governante, no final da reunião, aos jornalistas.
Por
outro lado, o Governo português apela ainda às forças militares da
Guiné-Bissau para que "mantenham a atitude correta que têm tido, que é a
de deixar aos políticos a solução dos problemas políticos".
As
autoridades portuguesas estão a acompanhar "muito de perto" a situação
naquele país, onde o Presidente, José Mário Vaz, nomeou na semana
passada, Baciro Djá, deputado dissidente do Partido Africano da
Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), como primeiro-ministro,
situação que o partido não admite, o que levou os membros do Governo
demitido pelo chefe de Estado a ocupar o palácio do executivo.
Santos
Silva lembrou que, para que a comunidade internacional possa prestar o
apoio previsto no programa "Terra Ranka", no valor de mil milhões de
euros, a Guiné-Bissau deve "dotar-se das condições de estabilidade
institucional, para que possa ter sucesso".
"No
plano bilateral, Portugal mantém o seu programa de cooperação com a
Guiné-Bissau em curso", referiu, recordando que Lisboa tem insistido
para que seja renovado o mandato do contingente militar da Comunidade da
África Ocidental (Ecomib), nomeadamente junto da União Europeia.
Na sua
declaração inicial perante os deputados, o ministro comentou ainda as
situações que atravessam outros países, nomeadamente Angola, onde a
preocupação é sobretudo do ponto de vista económico.
"Portugal
tem sinalizado a Angola o seu apoio quer na participação, se Angola o
entender, no programa de diversificação da economia que as autoridades
angolanas têm em curso, quer na minoração dos problemas que dizem
respeito aos interesses portugueses, designadamente atrasos nos
pagamentos e dificuldade de repatriação de rendimentos por causa da
escassez de divisas", adiantou Santos Silva.
Sobre
Moçambique, também com uma situação "muito crítica nas dimensões
político-militar e económico-financeira", o governante português apontou
como "sinais positivos" o reinício do diálogo entre o Governo
moçambicano e a Renamo e, em concreto, o facto de ambas as partes já
terem chegado a acordo sobre a agenda desse diálogo.
Por
outro lado, o chefe da diplomacia portuguesa assinalou também "a nova
atitude das autoridades moçambicanas, que reconheceram o erro na
ocultação da dívida e se dispuseram a corrigir" e o facto de Maputo
estar a cumprir integralmente o prazo dos pagamentos acordados com
Lisboa.