Parlamento Britânico: Westminster insta os políticos Bissau-guineenses “reflitam o melhor interesse do povo”



O Grupo Parlamentar do Reino Unido para a Guiné Bissau teve uma reunião executiva na terça-feira 15 de setembro no Palácio de Westminster, Londres. O Coordenador do Grupo, Peter Thompson, fez a seguinte declaração:

Esta semana o Grupo Parlamentar do Reino Unido para a Guiné Bissau organizou uma reunião no Palácio de Westminster para discutir a recente crise política na Guiné-Bissau, que ocorreu quando o Parlamento Britânico estava num período de férias.

O Grupo Parlamentar manifestou a sua preocupação com o recente impasse político e com a ausência prolongada dum executivo funcional. Encorajamos todas as partes interessadas a encontrarem soluções democráticas que reflitam os melhores interesses do povo Bissau-guineense e o desenvolvimento de sua economia e sua sociedade.

Este passado mês revelou-se um desafio significante para as instituições do estado; o grupo parlamentar quer elogiar os atores políticos para a sua aderência da determinação do Supremo Tribunal, da legislatura para o debate energético e profundo, e o judiciário para o seu profissionalismo.

Os atores políticos na Guiné-Bissau, como funcionários públicos sob o mandato do povo, têm a obrigação moral de trabalhar incansavelmente para erradicar a pobreza, promover o desenvolvimento econômico e social, lutar contra o crime organizado, a desigualdade de gênero e a corrupção do setor público. Nenhuma rivalidade política deve ser mais importante do que estes objetivos.

O progresso louvável da Guiné-Bissau no passado ano perante os olhos do mundo não tem que ser prejudicado se os atores políticos conseguirem uma conclusão consensual, responsável e satisfatória para os presentes desafios, a traves da utilização do respeito do estado de direito.

O Grupo Parlamentar, como parceiro ativo da Guiné-Bissau, deseja felicitar e encorajar o seu parlamento irmão, a Assembleia Nacional Popular, por ter assumida um papel de liderança nesta crise e por ter promovido a vontade dos seus constituintes. A atual situação ilustra que a necessidade para a reforma constitucional é muito urgente, e encorajamos que a Assembleia exerça um papel de liderança primordial a este respeito.

Acrescentamos que o Grupo Parlamentar do Reino Unido para a Guiné Bissau permanece disponível para contribuir aos esforços com o objetivo de resolver o impasse, promover o entendimento mutual e reforçar mecanismos viáveis para a resolução de disputas dentro do sistema político.

PM da Guiné-Bissau, Carlos Correia


Engenheiro agrónomo formado na extinta RDA, o novo primeiro-ministro guineense, Carlos Correia, é tido como um homem "sério e rigoroso", depois de ter assumido por três ocasiões a chefia do Governo, sempre para ultrapassar crises políticas.


O recém-nomeado primeiro-ministro guineense é natural de Bissau, onde nasceu a 06 de Novembro de 1933 (81 anos), e é um dos "históricos" da luta de libertação dos povos da antiga província portuguesa da Guiné, país que acedeu unilateralmente à independência de Portugal a 24 de Setembro de 1973.

Sempre chamado a chefiar um Governo para ultrapassar crises políticas, Carlos Correia era apenas militante do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), uma vez que não se apresentou a qualquer cargo ou função nos últimos congressos partidários, tendo-se afastado da vida política activa no início da década de 2000.

Primeiro titular das Finanças do recém-criado Estado da Guiné-Bissau - o título era Comissário de Estado (o então equivalente a ministro) -, Carlos Correia foi um antigo funcionário da Casa Gouveia (antiga CUF).

No entanto, desde o início da década de 1950 que já lidava directamente com alguns dos que, em 1956, acabariam por fundar o PAIGC.

As ligações ao partido tornaram-se definitivas quando assistiu, a 03 de Agosto de 1959 (passaram recentemente 56 anos), ao Massacre de Pindjiguiti, uma revolta dos estivadores do porto de Bissau que foi violentamente reprimida pelas forças coloniais.

Embora não existam números oficiais, a revolta deixou mais de meia centena de mortos e uma centena de feridos, segundo o PAIGC, enquanto a administração colonial portuguesa falou de cinco vítimas mortais, tendo Carlos Correia sido uma das principais testemunhas ouvidas vezes sem conta.

Membro do Conselho de Estado (órgão extinto em 1994) e sempre ministro de Estado enquanto esteve no Governo, Carlos Correia chefiou vários ministérios, como os do Desenvolvimento Rural e Agricultura e do Comércio, precisamente antes da abertura do país ao multipartidarismo, em 1991.

Logo após a abertura ao pluralismo político, "Nino" Vieira, também presidente do PAIGC, escolheu Carlos Correia para o cargo de primeiro-ministro, função que ocupou de 21 de Dezembro de 1991 a 26 de Outubro de 1994, sendo substituído pelo então secretário nacional ("número dois") do partido, Manuel Saturnino da Costa.

A escolha de Saturnino da Costa, fruto da vitória do PAIGC nas primeiras eleições multipartidárias da História da Guiné-Bissau, em Julho de 1994, viria a tornar-se catastrófica para o país, que viu o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) a criticarem duramente o rumo da economia guineense.

Acabou, assim, por ser com naturalidade que "Nino" Vieira, apesar de uma grande polémica no interior do PAIGC, exonerou Saturnino da Costa e chamou novamente Carlos Correia para a chefia do Governo, cargo que viria a desempenhar de 06 de Julho de 1997 a 03 de Dezembro de 1998.

O seu executivo, porém, acabou por cair na sequência da guerra civil que assolou o país (07 de Junho de 1998 a 07 de Maio de 1999), opondo o governo de "Nino" Vieira a uma Junta Militar liderada pelo general Ansumane Mané, ex-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA).

Em apenas um ano, e apanhando uma economia desfeita, Carlos Correia, homem de poucas falas, conseguiu repor os índices económicos nos eixos, valendo-lhe os elogios públicos do FMI e BM, mesmo durante os primeiros meses do conflito armado.

Carlos Correia, conhecido por "dominar os dossiês governamentais", tal como afirmaram os especialistas do FMI e BM, é unanimemente considerado no país como um dirigente político sério.

Antigo jogador de futebol, Carlos Correia jogou, e bem, dizem os especialistas, ao longo da década de 1950 na também "histórica" União Desportiva Internacional de Bissau (UDIB).


Guineense de refugiada a voluntária

(Foto: Marcos Borga)

 

Kirina Gama chegou a Portugal há 17 anos, fugida de uma guerra civil acabada de estalar. Agora, ajuda no acolhimento aos refugiados sírios.


"Nós não vimos porque queremos. Estamos a fugir de uma guerra", sublinha Kirina Gama, uma guineense de 38 anos e a viver em Portugal há 17 anos. Com as memórias e as dificuldades de integração bem presentes, Kirina aderiu de imediato ao apelo da Plataforma de Apoio aos Refugiados para se oferecer como voluntária, neste projecto da sociedade civil que está a preparar e a coordenar a chegada de refugiados sírios. Hoje, está casada, tem dois filhos e já pediu, inclusive a dupla nacionalidade. "Não esqueço o país que me acolheu. Mas também adoro o país onde cresci e um dia mais tarde, quero voltar para lá", conta.

Sempre que passam as imagens na televisão dos sírios, esta guineense recorda-se bem do que significa ser refugiado e a sensação de chegar a um país estranho. "A minha casa foi atingida ao segundo dia da guerra. A minha mãe ficou gravemente ferida e a minha avó, foi à embaixada pedir ajuda para ela ser transferida para Lisboa", recorda. Cinco dias depois, Kirina e a mãe estavam a entrar no último barco enviado pelo governo português para resgatar os portugueses que tinham sido apanhados no meio do conflito. "A minha mãe seguiu de helicóptero para o barco, eu corri de chinelos nos pés para fugir das bombas que caíam entre Bissau e o porto, onde estava atracada a fragata Vasco da Gama.
 
Dali seguiram até Cabo Verde, onde apanharam o avião até Lisboa. Kirina era a única passageira sem visto e na fronteira foi barrada pelo funcionário do SEF. A mãe, pelos ferimentos, conseguira um visto para ser de imediato hospitalizada em Lisboa. Valeu-lhe a compreensão do inspector que estava de serviço. No entanto, recorda as dificuldades. Foi viver com a avó e os primos para Cascais, onde a adaptação foi tudo menos fácil. "Os portugueses são muito hospitaleiros mas fui também discriminada muitas vezes. No comboio, era frequente ouvir falar na minha cor de pele e mandarem-me para a minha terra. Recordo um dia que fui visitar a minha mãe ao hospital e vi uma bandeira enorme a dizer: aqui não é a arca de Noé. Falava crioulo mas também português, compreendi muito bem o que estava ali escrito", recorda.

Com o 11º ano feito na Guiné Bissau, Kirina diz ter aproveitado os momentos em que se sentiu rejeitada como uma prova a ultrapassar. Diz até perceber o medo e a desconfiança das pessoas nestes casos. Mas, aproveitou as oportunidades e procurou integrar-se. Com a ajuda de um padre dos Maristas e uma "madrinha" que entretanto a conheceu, conseguiu trabalhar e prosseguir os estudos.
 
Formou-se em Psicologia Social tem trabalho na Câmara Municipal de Cascais, num projecto desenvolvido em parceria com o Alto Comissariado para as Migrações, de Mediação Intercultural. A mãe, mesmo com um braço sem movimento, arranjou trabalho. Kirina faz questão de sublinhar que nunca viveram de subsídios, nem sequer do abono de família. Está a tratar da dupla nacionalidade em Portugal, mas sonha um dia voltar à sua terra natal. Dezassete anos depois, arregaça as mangas para acolher quem, como ela, anda de terra em terra a fugir de uma guerra.
 
 
 
 

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