Congresso de Medicina Legal e Ciências Forenses da Comunidade da CPLP

 O juiz-desembargador Francisco Brízida Martins, presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF), lidera a delegação portuguesa que participa no 3.º Congresso de Medicina Legal e Ciências Forenses da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que se realiza em Luanda (Angola), de 24 a 26 do corrente.


O vice-presidente do INMLCF, Dr. João Pinheiro, também integra a comitiva, que inclui outros seis especialistas do quadro do Instituto. Sete das 17 comunicações previstas no programa do congresso serão proferidas pelos membros da representação portuguesa.


Amanhã, segunda-feira, dia 23, véspera de início dos trabalhos, realizam-se quatro cursos práticos, todos eles orientados por especialistas do INMLCF.


3.º Congresso de Medicina Legal e Ciências Forenses da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa  

PROGRAMA DA PARTICIPAÇÃO DA DELEGAÇÃO OFICIAL DE PORTUGAL

Terça-feira, 24/03/2015 (1.º dia)
 9h30
Medicina Legal e Ciências Forenses: o contributo para a paz, justiça e segurança.
INMLCF e organização médico-legal portuguesa: formação e potencialidades da cooperação
Oradores
Desembargador Francisco Brízida Martins, Presidente do INMLCF
Dr. João Pinheiro, Vice-Presidente do INMLCF
Moderador
Dr. Eugénio Pedro Alexandre

Quarta-feira, 25/03/2015 (2.º dia)
 9h00
Cadeia de custódia como elemento importante da prova pericial
Oradora
Dra. Luísa Eiras, Coordenadora da UF de Patologia Forense da Delegação do Sul
Moderador
Mestre António Pascoal
11h00
Avaliação do Dano Corporal em Direito Civil e Criminal
Oradora
Dra. Fernanda Rodrigues, Coordenadora da UF de Clínica Forense da Delegação do Norte
Moderador
Dr. Agnaldo Jaime
14h00
Banco de dados de Genética Forense para crimes graves
Oradora
Dra. Teresa Ribeiro, responsável da UF de Genética e Biologia Forense da Del. do Sul
Moderador
Prof. Dr. Miguel Melo
16h15
Possibilidades e limitações da Psiquiatria forense
Orador
Dr. Máximo Colon, Psiquiatra Forense da Delegação do Centro
Moderador
Dr. Rui Pires
17h00
Atuação Médico-Legal no Quadro de Desastre de Massas e Mortes sob Custódia
Oradora
Prof.ª Dra. Maria Cristina Mendonça, Chefe de Serviço de Medicina Legal
Moderador
Dr. Mestre Manuel Fundanga
Quinta-feira, 26/03/2015 (3.º dia)
11h45
Crimes Sexuais da Suspeição à Evidência
Oradora
Mestre Susana Tavares, Coordenadora da UF de Clínica Forense da Delegação do Centro

Moderador




Administrações eleitorais da CPLP fortalecem relacionamento


A Declaração de Díli foi assinada por representantes dos órgãos superiores de administração eleitoral de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste.

O texto foi assinado depois de uma conferência de dois dias, organizada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) timorense, no âmbito do Asian Electoral Stakeholder Forum (AESF) em que Timor-Leste foi 'ponte' entre a Ásia Pacífico e a CPLP, reunindo os órgãos e agentes da administração eleitoral dessas regiões.
À margem desse encontro os participantes lusófonos analisaram "as melhores formas de colaboração em matéria de eleições no espaço da CPLP", com um primeiro passo a ser aprovação da Declaração de Díli.

O acordo cria um Grupo de Trabalho formado por dois representantes de cada um dos órgãos superiores eleitorais da CPLP para "reflectir de forma regular, promover a cooperação multilateral no seio da CPLP e produzir documentos sobre as realidades e os desafios dos processos eleitorais democráticos".

Prevê ainda a preparação de um Código de Boas Práticas sobre Questões Eleitorais "que reflicta os princípios do sufrágio universal, igual, livre, secreto e directo, e que sirva de documento orientador e agregador dos países da CPLP".

Cria ainda uma base de dados sobre as eleições no espaço da CPLP, cuja presidência é actualmente detida por Timor-Leste.

O texto foi assinado por Sebastião Jorge Diogo Bessa (Angola), Manuel Miranda (Cabo Verde), Augusto Mendes (Guiné-Bissau), Meque Dacambane (Moçambique), Victor Manuel Neto Correia (São Tomé e Príncipe) e José Belo (Timor-Leste, num ato em que participou o embaixador de Portugal em Díli, Manuel Gonçalves de Jesus.

Todos destacaram a importância de Timor-Leste no processo por ter "dado o primeiro passo" para tomar medidas efectivas para aproximar os órgãos eleitorais da CPLP.

Ao mesmo tempo destacaram ainda o facto de Díli ter sido "ponte" entre a Ásia e o Pacífico e a lusofonia, saudando o papel que Timor-Leste teve no apoio ao recente processo de transição na Guiné-Bissau.

(foto da net)

Escola ganha mais duas salas de aula


Um estabelecimento escolar da Guiné-Bissau vai ganhar «mais duas salas de aula» com capacidade para acolher diariamente «uma centena de crianças»



A Assistência Médica Internacional (AMI) está a ampliar uma escola erguida pela própria organização em 2009, em Wato, na Guiné-Bissau. Actualmente, o estabelecimento de ensino, que recebe alunos do 1.º ao 6.º ano, está a ser aumentado, ganhando «mais duas salas de aula» com capacidade para acolher todos os dias «uma centena de crianças», informa a organização, em comunicado. Estes trabalhos de ampliação deverão estar «concluídos no final deste mês».

A AMI é uma organização humanitária portuguesa sem fins lucrativos, fundada a 5 de dezembro de 1984, que intervém em «situações de crise e emergência» e que combate «a fome, a pobreza, a exclusão social e as sequelas de guerra» em todo o mundo, tendo já actuado em dezenas de países para onde enviou medicamentos e equipamento médico, alimentos, roupas, viaturas, geradores e centenas de voluntários.

Números e mais números...



No final da 96ª Sessão Ordinária do Conselho de Administração do BOAD realizada quinta-feira em Dakar, a Cisjordânia Africana de Desenvolvimento (BOAD), que tem sede em Togo anunciou que um lucro de 8,399000000000 FCFA 10 contra 872,000 milhões de francos CFA em relação ao ano anterior.


Em uma declaração nesse sentido, o banco explicou que a diminuição observada deve-se principalmente ao potencial perda cambial registrada em dívida em moeda estrangeira em circulação.

O Conselho lembrou que em 2014, o Conselho de Ministros da UEMOA decidiu integrar o BOAD de capital, por doação, a dotação inicial de Fundo de Desenvolvimento Energético ( FDE) 250 mil milhões de FCFA. Esta decisão permitiu aumentar para 619.000 milhões FCFA património em 31 de dezembro 2014, ampliando a base de capital da Instituição.

A sessão resultou na aprovação de propostas de empréstimos a médio e longo prazo no montante de 109 bilhões de francos CFA e 4 propostas de crédito de curto prazo no montante de 17,4 bilhões de FCFA.

Estes novos fundos são para 3 293,3 bilhões de francos CFA a quantidade total de BOAD financiamento de longo e médio prazo off FDE, correspondendo a 736 projectos. O montante acumulado de financiamento de curto prazo é levantada, é a 191,5 bilhões de francos CFA.

Além disso, os empréstimos aprovados, incluindo cobertura de financiar parcialmente a reabilitação de infra-estruturas básicas em cidades do interior (Costa do Marfim), num montante de 15 mil milhões de FCFA, construção de estradas estruturação (Mali) para 20000000000 $ FCFA.

No Togo, a reabilitação da Estrada Nacional nº 17 na secção Sadori Katchiamba será financiado custo de 9 bilhões de FCFA. Da mesma forma, a reabilitação de vias urbanas em Bissau - Fase 3 (Guiné Bissau) é financiado em 12 mil milhões de FCFA.

O Conselho também aprovou o financiamento para a construção de uma usina termoeléctrica de 120 MW em Maria Gleta (Benin), num montante de 10 mil milhões de FCFA, o fortalecimento do sistema da cidade de Parakou abastecimento de água (Benin) com um orçamento de 8 mil milhões de FCFA.

O Conselho emitiu um parecer favorável sobre o Relatório e Contas de 2014, bem como o estado de empréstimos a receber BOAD recuperação a 28 de Fevereiro de 2015 e a situação geral das recuperações em 31 de Dezembro de 2014.
Eye of Africa

Laboratório oferecido por Portugal começa a funcionar já na próxima 2ª feira



Guiné Bissau é um país de risco no que toca ao vírus do ébola. Governo português quis ajudar com um laboratório para diagnóstico e uma equipa do INEM para dar formação no terreno.

Depois de dois anos de relações diplomáticas cortadas, Portugal retoma a cooperação com a Guiné Bissau, onde ficou já um laboratório móvel de diagnóstico do vírus ébola oferecido pelo Governo português, que vai começar a funcionar já na segunda-feira.

Pela proximidade das suas fronteiras com países expostos ao vírus ébola, a Guiné Bissau é um país de risco, com grandes dificuldades económicas para fazer face a um eventual surto.

O Governo português quis ajudar e, no terreno, o ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, que durante a última semana esteve no território, deixou um laboratório para diagnóstico da doença.

Uma equipa do INEM está também no terreno a dar formação sobre a melhor forma de actuar, como refere Luis Meira, chefe de equipa. “Há um aspecto fundamental em termos de resposta a um eventual surto de ébola: é ter capacidade de diagnóstico para se poder confirmar efectivamente se os casos suspeitos são ou não a doença do vírus da ébola. Isto, o laboratório vai conseguir fazer com este equipamento.”

Na Guiné, o ministro da Defesa assinou um acordo de cooperação técnico-militar no valor de 280 mil euros, mas até 2018, em todas as áreas, a ajuda portuguesa vai ser de 40 milhões de euros.

Aguiar-Branco referiu que a cooperação com países da CPLP é importante, e aqui ganha expressão porque se trata de salvar vidas. “Como sabemos, o recurso mais importante que um país tem são os seus recursos humanos, as suas vidas, são as suas pessoas.”
RR

Morreu hoje Braima Omais aka Kalilo. Condolências para a família. Que descanse em paz.



Embróglio... Miss GB 2015, no centro de vários escândolos

O que seria uma eleição de "Senhorita Guiné-Bissau", sem escândalo? A edição de 2015 será certamente o de todos os registos, mesmo antes de segunda-feira última (23 de Março de 2015), a controvérsia levou a outra em um ritmo sem precedentes: a publicação de fotos da Miss nua, sextape, fraudes e revelações em todo género. Reviva a imagem da semana.



Miss Nude fotos?

As 20 finalistas da edição de 2015 do mais popular  concurso de beleza chegou em Bissau quarta-feira, 18 março para a semana de preparação antes da final que será realizada amanhã à noite em um dos mais belos palácios da capital. Não demorou muito para que o primeiro caso aparecesse tão cedo quanto quinta-feira, imagens da candidata 3 nua apareceram na internet antes de ser levado para toda a imprensa Guiné-Bissau. Desclassificada imediatamente, a jovem chorou a falha quando um comité de apoio oficial foi formada no Facebook.

Sextape envolvendo vários candidatos?

Mais tarde, naquela mesma noite, um vídeo aparentemente filmado em dormitório feminino e com a candidata 3, bem como candidata No. 6, 17 e 18 em mais diversas situações comprometedoras é postado no YouTube, acompanhado um comentário enigmático "não há razão para eu pagar para todos." Polícia Guiné-Bissau abriu inquérito e já se alimenta algumas suspeitas. Durante o seu interrogatório na quinta-feira as três meninas envolvidas foram bem reconhecidas como participantes das fotos, mas negam ter participado. Elas foram, por sua vez suspensas pela organização.

Senhorita repetição da cabeça aos pés?

Sexta-feira 20 março novo rumo dos acontecimentos, a visita médica indicou a desqualificação da candidata 2 acusada ​​de ter feito refazer o peito, a 20 para as nádegas. Em seguida, a No. 10, No. 13 e No. 14 preferiram renunciar ao invés de serem examinadas. Candidata No. 9 e nº 16 foram excluídas por falsificarem o seu registo e mentirem sobre as suas idades, a competição é de fato proibido menores de 18 anos e mais de 60. A candidata 11 saiu a porta e gritando haver discriminação.

Engano e tentativa de corrupção?


A noite de sexta-feira para sábado, foi agitada. Na parte da manhã, vimos com espanto que a candidata No. 8 tinha sido excluída por flertar com um membro do júri. Meia hora depois, a candidata No. 1 também teve que desistir por se ter ostentado com todos os membros do júri.
Exclusão rapidamente seguida pela da candidata 7 que também se ostentou com o júri, mas todos ao mesmo tempo. Esta, no entanto, defendeu-se de acusações de avanços para o produtor da competição enquanto a sua moralidade o proíbe de ter um relacionamento com o amante de uma amiga, a candidata 4.
A candidata No. 19 imediatamente atirou-se de repente sobre a candidata 4 com unhas e nomes de aves acusando-a de lhe roubar seu marido. O Produtor envergonhado, reconheceu o casamento com a 19 e a aventura com 4, mas não com o número 12, porque "não é errado"; antes de se demitir na sequência e deixar Bissau sozinha.

A candidata No. 15 ainda está na corrida. O suspense é longo, porque vai demorar mais de 20 horas sem criar polémica.



DIRECTOR-GERAL DE ENSINO SUPERIOR DA GUINÉ-BISSAU, DOUTOR FODÉ ABULAI MANÉ DEFENDEU TESE DE DOUTORAMENTO EM COIMBRA E APROVOU COM DISTINÇÃO E LOUVOR POR MAIORIA






O Candidato Fode Mané na Sala dos Capelos


Provas de Doutoramento em Pós-Colonialismos e Cidadania Global 
título: "A Mediação na resolução de conflitos - O caso de Bambadinca" de Fodé Abulai Mané.
20 de março de 2015, 10h30, Sala dos Capelos da UC

Júri:

Doutor Pedro Manuel Teixeira Botelho Hespanha, Professor Auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Vogais:

Doutor Georg Klute, senior fellow da Universidade de Byareuth, Alemanha.
Doutor Elísio Salvador Macano, Professor Associado da Universidade de Basileia Suíça.
Doutor Armando Manuel de Barros Serra Marques Guedes, Professor Associado com Agregação da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Doutor Eduardo Costa Dias Martins, Professor Auxiliar do Instituto Universitário de Lisboa
Doutor José Manuel Marques da Silva Pureza, Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Aprovado com Distinção e Louvor por maioria.


Em declaração ao 'Blogue Conosaba do Porto" Doutor Fodé Mané disse "já posso dizer que sou Jurista e Advogado, uma vez que defendi a tese sob o tema: Antropologia Jurídica, e disse vou-me concentrar na investigação sob uma perspectiva não apenas jurídica, mas também antropológica".

Doutor Fodé Mané

«MESA REDONDA» PRESIDENTE DA REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU FOI RECEBIDO COM APLAUSOS NO AEROPORTO DA PORTELA, EM LISBOA


Encarregado de Negócios da Guiné-Bissau em Portugal, Dr. Mbala Fernandes e Presidente da República da Guiné-Bissau, Dr. José Mário Vaz

Foram muitos aplausos e palavras de incentivo ao nosso Presidente da República (a caminho da mesa redonda, em Bruxelas). Polícia de Segurança Pública Portuguesa escoltou José Mário Vaz, até ao Hotel Tivoli Tejo, no centro  - Lisboa.















Guineenses residentes em Lisboa (com cartazes) e amigos da Guiné na recepção do Presidente da república da Guiné-Bissau!

Opinião: Mesa Redonda: OPORTUNIDADES E RISCOS PARA O DESENVOLVIMENTO


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Nas últimas semanas, para não dizer meses, tornou-se vulgar na Guiné-Bissau, particularmente nos mais variados orgãos da comunicação social ouvir e ver notícias relacionadas ao encontro que o governo da Guiné-Bissau terá com os doadores no próximo dia 25 de março de corrente ano, em Bruxelas, capital da União Europeia. Aliás, nos últimos meses a chamada mesa redonda de Bruxelas tornou-se o slogan do governo do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), encabeçado pelo Domingos Simões Pereira. E não só, o eco da agendada reunião de Bruxelas podia ser ouvido também nas falas de autoridades de outros orgãos da soberania nacional. Tal fato ficou nítido durante a excursão de uma delegação de Assembleia Nacional Popular ao interior do país, representado ao mais alto nível pelo seu presidente, Cipriano Cassama. Nas suas intervenções em resposta às demandas das populações de zonas rurais visitadas, o número 1 do parlamento guineense condicionava a materialização de necessidades básicas de desenvolvimento dessas localidades ao sucesso da reunião de 25 de março. Aliás, convém salientar que a materialização do programa de desenvolvimento da Guiné-Bissau – como espelha o programa estratégico de desenvolvimento do executivo do PAIGC – está condicionada ao sucesso da reunião de Bruxelas.
Conforme o governo da Guiné-Bissau, a mesa redonda com os doadores tem por objetivo apresentar aos parceiros internacionais de desenvolvimento o seu programa estratégico de desenvolvimento dos próximos dez anos (2015-2025), e conseguir financiamento para sua execução. A fase inicial (“Terra Ranka”) estende-se de 2015 a 2020 e a segunda etapa, (“Sol na Iardi”), corresponde ao período que vai de 2021 a 2025. Os pontos de maior destaque são a infraestruturação e agroindustrialização da cadeia produtiva e econômica do país, além do desenvolvimento urbano e rural.
O governo da Guiné-Bissau espera obter junto dos seus parceiros um valor que gira em torno de US$ 2.2 mil milhões para implementar, até 2025, todos os projetos contemplados pelo programa. Em função da capacidade financeira dos atores financeiros multilaterais e bilaterais que estarão à mesa com a delegação do governo guineense (composta por 60 elementos), acreditamos que há possibilidades do governo conseguir atrair recursos, independentemente do fato do mundo, Europa em particular, estar a passar por uma de suas piores crises financeiras. O nosso otimismo baseia-se no fato de que a maior parte dos valores que serão disponibilizados para o governo da Guiné-Bissau será (tende a ser) a título de empréstimo (inclusive com juros). Teoricamente, a mesa redonda consiste em uma relação de ajuda entre doador e beneficiário, mas em termos práticos transforma-se (tende a transformar-se) em uma relação de negócios assentes nos princípios de mercado.
Denota-se que os discursos proferidos pelos governantes guineenses a propósito do encontro de 25 de março, em Bruxelas, induzem o cidadão comum a concluir que se o governo conseguir os US$ 2.2 mil milhões, logo a mesa redonda pode ser considerada um sucesso. Isso é uma grande ilusão. Há elementos imprescindíveis a levar em consideração na avaliação desse encontro de Bruxelas do dia 25, e é justamente isso que vamos examinar a partir do próximo parágrafo.
Primeiro, o sucesso ou não da mesa redonda deve ser avaliado a partir dos termos de aquisição dos empréstimos e dívidas do governo junto dos seus parceiros. A delegação governamental deve contrair dívidas e empréstimos de maneira racional, o que implica a negociação antecipada das taxas de juros e períodos de reembolso dos empréstimos. Uma vez que as taxas de juros são (tendem a ser) variáveis (não fixas), isso poderá gerar – se não forem muito bem negociadas – problemas macroeconômicos a longo prazo, acarretando dívidas externas expressivas ao país. Esse elemento é fundamental, espero que o governo se atenta a esse aspecto.
Se o governo do PAIGC conseguir persuadir os seus parceiros e mobilizar os recursos – que financiarão seu programa estratégico de desenvolvimento 2015-2025 – na base dos termos razoáveis que refletem as possibilidades da Guiné-Bissau, estaremos em condição de asseverar que a reunião de Bruxelas é parcialmente um sucesso. Digo parcialmente. O pleno sucesso da reunião de Bruxelas só é possível mensurar/avaliar no terreno prático, ou seja, no âmbito de execução concreta dos projetos constituintes do programa estratégico de desenvolvimento levado à Bruxelas. A não tradução prática dos valores embolsados em capacidades e fatores reais de crescimento econômico do país, de acordo com os projetos contidos no programa de desenvolvimento do governo do PAIGC, faria da mesa redonda um fracasso e um problema para a Guiné-Bissau.
Portanto, a caracterização da mesa redonda de Bruxelas como um sucesso está condicionada à efetiva e rigorosa materialização dos projetos que forem financiados, caso contrário, será um problema de longo prazo para o país, ao invés de uma “panaceia”, constituiria um fardo financeiro à Guiné-Bissau. Dito isso, o governo da Guiné-Bissau deve empreender muito rigor no combate à corrupção (desvio dos fundos, especialmente) – redobrando os esforços no sentido de gerir o cash que for desembolsado pelos parceiros de desenvolvimento – para que seja observada a efetiva aplicação desses recursos em acções concretas de geração de riquezas. Associado a isso, o executivo terá que engajar mais na cultivação de estabilidade político-institucional e militar no país, sobretudo a estabilidade política, pois é a instabilidade política fonte da maioria de crises e conflitos recentes na Guiné-Bissau. No nosso ponto de vista, a referida estabilidade deve ser buscada, primeiramente, dentro das estruturas do próprio PAIGC, especialmente entre a sua elite política, onde pairam (notavelmente) ventos de potencial fragmentação profunda, cuja materialização transbordaria (efeito spill over) e afetaria a governabilidade e a governação do país.
Desta feita, à luz dos expostos acima, a mesa redonda de Bruxelas do dia 25 de março de 2015 é uma oportunidade real do financiamento dos projetos de desenvolvimento da Guiné-Bissau, entretanto, apresenta-se concomitantemente como um risco ao país. Este paradoxo sustenta-se devido ao elevado índice histórico de corrupção no aparelho de Estado guineense. Sem sombras de dúvida, ao governo liderado pelo Simões Pereira se apresentará um grande desafio pós-Bruxelas, maior do que a reunião de persuasão e mobilização dos recursos propriamente dita. Além de aprovação de seu programa estratégico de desenvolvimento que apresentará aos seus parceiros e seu consequente financiamento, torna-se imperiosa a necessidade do governo gerir sabia e transparentemente – o que requererá um regular exercício de accountability – os fundos que forem disponibilizados. Pois, como já sustentei, a grande parte dos recursos será (tende a ser) contraída a título de empréstimo e a Guiné-Bissau arcará com o seu reembolso no futuro.
A aprovação e financiamento do programa estratégico de desenvolvimento do governo na reunião desta semana, em Bruxelas, será apenas o cumprimento da primeira etapa do desafio. Todavia, poderá ser um passo importante que dará abertura às oportunidades (fundos disponíveis) de criação de condições para o crescimento econômico e consequente desenvolvimento do país. Entretanto, a adjetivação cabal da mesa redonda como um sucesso ou não será a médio e longo prazos, e, como já assinalei, dependerá de condições estruturais internas do país. Portanto, apesar das oportunidades serem maiores, os riscos se fazem também presentes, ainda que de modo subjacente.
Como filho da pátria de Amilcar Cabral, desejo melhor sorte ao governo.
Por: Timóteo Saba M’bunde, Mestre em Ciência Política.

Mesa Redonda para Guiné-Bissau, oportunidades e riscos para o desenvolvimento

Por, Dr. Timóteo Saba M’bunde

Nas últimas semanas, para não dizer meses, tornou-se vulgar na Guiné-Bissau, particularmente nos mais variados orgãos da comunicação social ouvir e ver notícias relacionadas ao encontro que o governo da Guiné-Bissau terá com os doadores no próximo dia 25 de março de corrente ano, em Bruxelas, capital da União Europeia. 

Aliás, nos últimos meses a chamada mesa redonda de Bruxelas tornou-se o slogan do governo do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), encabeçado pelo Domingos Simões Pereira. E não só, o eco da agendada reunião de Bruxelas podia ser ouvido também nas falas de autoridades de outros orgãos da soberania nacional. Tal fato ficou nítido durante a excursão de uma delegação de Assembleia Nacional Popular ao interior do país, representado ao mais alto nível pelo seu presidente, Cipriano Cassama. Nas suas intervenções em resposta às demandas das populações de zonas rurais visitadas, o número 1 do parlamento guineense condicionava a materialização de necessidades básicas de desenvolvimento dessas localidades ao sucesso da reunião de 25 de março. Aliás, convém salientar que a materialização do programa de desenvolvimento da Guiné-Bissau – como espelha o programa estratégico de desenvolvimento do executivo do PAIGC – está condicionada ao sucesso da reunião de Bruxelas.

Conforme o governo da Guiné-Bissau, a mesa redonda com os doadores tem por objetivo apresentar aos parceiros internacionais de desenvolvimento o seu programa estratégico de desenvolvimento dos próximos dez anos (2015-2025), e conseguir financiamento para sua execução. A fase inicial (“Terra Ranka”) estende-se de 2015 a 2020 e a segunda etapa, (“Sol na Iardi”), corresponde ao período que vai de 2021 a 2025. Os pontos de maior destaque são a infraestruturação e agroindustrialização da cadeia produtiva e econômica do país, além do desenvolvimento urbano e rural.

O governo da Guiné-Bissau espera obter junto dos seus parceiros um valor que gira em torno de US$ 2.2 mil milhões para implementar, até 2025, todos os projetos contemplados pelo programa. Em função da capacidade financeira dos atores financeiros multilaterais e bilaterais que estarão à mesa com a delegação do governo guineense (composta por 60 elementos), acreditamos que há possibilidades do governo conseguir atrair recursos, independentemente do fato do mundo, Europa em particular, estar a passar por uma de suas piores crises financeiras. O nosso otimismo baseia-se no fato de que a maior parte dos valores que serão disponibilizados para o governo da Guiné-Bissau será (tende a ser) a título de empréstimo (inclusive com juros). Teoricamente, a mesa redonda consiste em uma relação de ajuda entre doador e beneficiário, mas em termos práticos transforma-se (tende a transformar-se) em uma relação de negócios assentes nos princípios de mercado.

Denota-se que os discursos proferidos pelos governantes guineenses a propósito do encontro de 25 de março, em Bruxelas, induzem o cidadão comum a concluir que se o governo conseguir os US$ 2.2 mil milhões, logo a mesa redonda pode ser considerada um sucesso. Isso é uma grande ilusão. Há elementos imprescindíveis a levar em consideração na avaliação desse encontro de Bruxelas do dia 25, e é justamente isso que vamos examinar a partir do próximo parágrafo.

Primeiro, o sucesso ou não da mesa redonda deve ser avaliado a partir dos termos de aquisição dos empréstimos e dívidas do governo junto dos seus parceiros. A delegação governamental deve contrair dívidas e empréstimos de maneira racional, o que implica a negociação antecipada das taxas de juros e períodos de reembolso dos empréstimos. Uma vez que as taxas de juros são (tendem a ser) variáveis (não fixas), isso poderá gerar – se não forem muito bem negociadas – problemas macroeconômicos a longo prazo, acarretando dívidas externas expressivas ao país. Esse elemento é fundamental, espero que o governo se atenta a esse aspecto.

Se o governo do PAIGC conseguir persuadir os seus parceiros e mobilizar os recursos – que financiarão seu programa estratégico de desenvolvimento 2015-2025 – na base dos termos razoáveis que refletem as possibilidades da Guiné-Bissau, estaremos em condição de asseverar que a reunião de Bruxelas é parcialmente um sucesso. Digo parcialmente. O pleno sucesso da reunião de Bruxelas só é possível mensurar/avaliar no terreno prático, ou seja, no âmbito de execução concreta dos projetos constituintes do programa estratégico de desenvolvimento levado à Bruxelas. A não tradução prática dos valores embolsados em capacidades e fatores reais de crescimento econômico do país, de acordo com os projetos contidos no programa de desenvolvimento do governo do PAIGC, faria da mesa redonda um fracasso e um problema para a Guiné-Bissau.

Portanto, a caracterização da mesa redonda de Bruxelas como um sucesso está condicionada à efetiva e rigorosa materialização dos projetos que forem financiados, caso contrário, será um problema de longo prazo para o país, ao invés de uma “panaceia”, constituiria um fardo financeiro à Guiné-Bissau. Dito isso, o governo da Guiné-Bissau deve empreender muito rigor no combate à corrupção (desvio dos fundos, especialmente) – redobrando os esforços no sentido de gerir o cash que for desembolsado pelos parceiros de desenvolvimento – para que seja observada a efetiva aplicação desses recursos em acções concretas de geração de riquezas. Associado a isso, o executivo terá que engajar mais na cultivação de estabilidade político-institucional e militar no país, sobretudo a estabilidade política, pois é a instabilidade política fonte da maioria de crises e conflitos recentes na Guiné-Bissau. No nosso ponto de vista, a referida estabilidade deve ser buscada, primeiramente, dentro das estruturas do próprio PAIGC, especialmente entre a sua elite política, onde pairam (notavelmente) ventos de potencial fragmentação profunda, cuja materialização transbordaria (efeito spill over) e afetaria a governabilidade e a governação do país.

Desta feita, à luz dos expostos acima, a mesa redonda de Bruxelas do dia 25 de março de 2015 é uma oportunidade real do financiamento dos projetos de desenvolvimento da Guiné-Bissau, entretanto, apresenta-se concomitantemente como um risco ao país. Este paradoxo sustenta-se devido ao elevado índice histórico de corrupção no aparelho de Estado guineense. Sem sombras de dúvida, ao governo liderado pelo Simões Pereira se apresentará um grande desafio pós-Bruxelas, maior do que a reunião de persuasão e mobilização dos recursos propriamente dita. Além de aprovação de seu programa estratégico de desenvolvimento que apresentará aos seus parceiros e seu consequente financiamento, torna-se imperiosa a necessidade do governo gerir sabia e transparentemente – o que requererá um regular exercício de accountability – os fundos que forem disponibilizados. Pois, como já sustentei, a grande parte dos recursos será (tende a ser) contraída a título de empréstimo e a Guiné-Bissau arcará com o seu reembolso no futuro.

A aprovação e financiamento do programa estratégico de desenvolvimento do governo na reunião desta semana, em Bruxelas, será apenas o cumprimento da primeira etapa do desafio. Todavia, poderá ser um passo importante que dará abertura às oportunidades (fundos disponíveis) de criação de condições para o crescimento econômico e consequente desenvolvimento do país. Entretanto, a adjetivação cabal da mesa redonda como um sucesso ou não será a médio e longo prazos, e, como já assinalei, dependerá de condições estruturais internas do país. Portanto, apesar das oportunidades serem maiores, os riscos se fazem também presentes, ainda que de modo subjacente.

Como filho da pátria de Amílcar Cabral, desejo melhor sorte ao governo.


Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.

BCEAO E BANCOS COMERCIAIS ANALISAM CRÉDITO PARA CAMPANHA DE CAJÚ

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O Banco Central dos Estados da África Central (BCEAO) e os responsáveis dos bancos comerciais do país reuniram no início de manhã desta sexta-feira, 20 de Março, para analisar crédito aos empresários nacionais para a campanha de cajú de ano 2015. A situação económica e financeira do país, particularmente o financiamento da economia, a questão de bancarização e os custos dos serviços foram assunto trazidos a tona na reunião.
Durante o encontro, foi revisto ainda os principais projetos iniciados pelo Banco Central dos
Estados da África Ocidental para reforçar a estabilidade do setor financeiro bem como melhorar o sistema de informação dos bancos.
As questões relacionadas com o projeto de criação do Gabinete de Informação sobre o Crédito (Bureau d´Information sur le Crédit – BIC), a implementação dos mecanismos de financiamento sob forma de Leasing e a passagem às normas de Basileia II e III, mereceram abordagem dos participantes. Foi igualmente analisado a forma de financiamento da economia para poder conceder empréstimo aos operadores económicos e às empresas.

De acordo com João Aladje Fadia, Diretor Nacional do BCEAO, esta matéria foi “seriamente debatida durante o encontro”, na medida em que algumas empresas correm riscos de não conseguirem crédito por não terem liquidado a dívida contraída em 2012, que provocou uma baixa económica estimada em 5,8 mil milhões de Francos CFA.
João Aladje Fadia, alerta, por isso que algumas empresas podem ficar impossibilitadas de aceder a esse empréstimo para a presente campanha de comercialização de caju.
O responsável nacional do Banco Central dos Estados da África Ocidental, lembra que o financiamento da economia faz-se mediante os fundo que os bancos comerciais têm e que são utilizados no sector público e eventualmente no privado também.
O director-geral dos Bancos da África Ocidental (BAO), Rómulo Pires, revela por seu lado, que a dívida contraída pelas empresas ronda os vinte e oito mil milhões de Francos CFA.
“Não é segredo para ninguém que boa parte dos operadores da campanha de cajú tiveram grandes dificuldades em 2012, o que os levou ao incumprimento com os bancos e consequentemente impossibilitados de terem acesso a crédito para a campanha de cajú. É nesse âmbito que os bancos estão impossibilitados também de financiar esses operadores”, explica Rómulo Pires.

Entretanto, no final do encontro, os bancos reafirmaram o seu engajamento em continuar a financiar o sector privado e os particulares, mas lamentam estarem a enfrentar constrangimentos nomeadamente, “a lentidão e os disfuncionamentos do aparelho judicial” em relação à matéria.
Sobre pagamento da dívida contraída pelos operadores económicos, O Democrata sabe que o caso se encontra em andamento nos tribunais do país.

G-Bissau de todas as «mesas-redondas»


A Guiné-Bissau, querendo ultrapassar a sua situação de pobreza, tem de eleger o trabalho como o único meio de o fazer. A ajuda externa pode ser um contributo necessário, porém nunca suficiente para guindar o país do fosso sócio-económico em que se encontra.


Em vez de, primeiro, equacionar os seus problemas e procurar nos seus recursos humanos e naturais a solução da grande parte dos mesmos, está mais virada para o apoio externo, ignorando que este resulta do trabalho dos países doadores. Ou será que os governantes guineenses ainda não têm a noção exacta sobre o que tem de ser feito para diminuir a pobreza que grassa no país?

A agricultura deverá ser a principal âncora do desenvolvimento para a auto-suficiência alimentar e, por conseguinte, a indústria de transformação e, a seguir, o comércio melhor organizado e adaptado à economia nacional. Mas, para que a agricultura tenha expressão importante na economia, há que acabar com mais plantações de cajueiros, além de reduzir de forma drástica as actuais, libertando terrenos aráveis para as diversas culturas. A Guiné é um país menor que o Alentejo; portanto, não deve fazer da sua agricultura monopólio dos cajueiros, de cujo interesse para os agricultores é a simples troca de castanhas de caju com o arroz. Os recursos naturais, à mão de semear, são a agricultura, a pesca e a floresta com uma excelente qualidade de madeira. As suas explorações, de forma racional e isenta de corrupção, podem ser a solução de muitos problemas, sem necessidade de estar sempre a recorrer à ajuda externa até para tapar um simples buraco na estrada. A Guiné ganhou o vício das “mesas redondas” mas sem nunca ter apresentado resultados palpáveis delas decorrentes. Espero que, desta vez, tudo seja diferente.

A realização da “mesa redonda” sobre a Guiné em Bruxelas, no dia 25 de Março, deverá ser a última oportunidade que o país não pode desperdiçar. A Guiné não se pode queixar de falta de apoio da comunidade internacional, sobretudo de Portugal, que tem sido incansável não apenas na ajuda nas diversas áreas da cooperação como também o seu importante lobby junto das instâncias internacionais. Agora, é urgente tomar as decisões que vão ao encontro dos problemas identificados, de modo a que a Guiné possa sair da situação em que se encontra e acautelar o futuro sem grandes sobressaltos.

Há quarenta anos de independência, o país meteu-se numa encruzilhada e ainda não conseguiu encontrar o caminho de saída para a realização do sonho independentista, o qual se transformou num verdadeiro pesadelo infindável para o seu povo, devido à falta de visão da condução política certa por parte dos dirigentes. Não obstante, continua a merecer a solidariedade da comunidade internacional, sem a qual o país já teria entrado em situação de inviabilidade eterna. A gigantesca tarefa que tem pela frente, no sentido de acabar com a sua endémica crise, deve por este facto mobilizar todos os guineenses para este novo desafio até entrar nos carris da via do desenvolvimento credível.

A Guiné, depois da libertação, tem desperdiçado várias oportunidades, ao longo da sua existência histórica, que lhe podiam ter proporcionado uma situação diferente e melhor que aquela que hoje vive. Oxalá que a realização da “mesa redonda” em Bruxelas sobre o país possa, desta vez, ser bem aproveitada pelo governo e a sociedade civil empreendedora. Aliás, o desenvolvimento de qualquer país requer a participação de todos os que podem contribuir para o bem comum. Neste caso, o previsto apoio financeiro da reunião na capital belga deve também contemplar a comunidade na Diáspora, desde que alguns dos seus membros apresentem projectos de interesse social/económico no país de origem. Com efeito, o know how e a experiência adquiridos durante a estadia fora poderão garantir o sucesso dos projectos e a sua continuidade no terreno.

Pois bem, o financiamento que vier a ser concedido à Guiné como ajuda para o seu desenvolvimento e sem rigorosa fiscalização dos dadores sobre a sua correcta aplicação será a mesma coisa que confiar o ouro ao bandido.

(Pr. da Associação Guineense de Solidariedade Social)

A possibilidade de realizar a utopia


Foi um dos maiores desafios que Fátima Proença já enfrentou: unir um conjunto de organizações, a maior parte das quais guineenses, e com elas persuadir o Governo da Guiné-Bissau a fechar a mais antiga esquadra da capital, que foi uma prisão, que era um “símbolo de opressão, de violência política”, e a cedê-la para que fosse transformada num espaço de cultura de direitos humanos.


O lugar, na parte velha de Bissau, desmonta, por si só, ideia feitas sobre a Guiné-Bissau — “um país que não funciona, sem instituições, à espera da ajuda internacional”. “Foi ali que encontrámos interlocutores, pessoas que querem lutar pela liberdade, pela justiça social e que se organizaram para isso”, diz.

A União Europeia nem sequer concedia financiamento para projectos de direitos humanos no país. O consórcio liderado pela Associação para a Cooperação entre os Povos (ACEP) e a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) obteve financiamento da Cooperação Portuguesa e abriu a Casa dos Direitos no início de 2012. Volvidos dois meses, houve um golpe de Estado. “Os dirigentes da Liga estavam lá dentro, o quartel-general estava mesmo em frente, os militares perseguiam pessoas na rua, mas ninguém foi lá procurá-los”, recorda. “A Casa dos Direitos já é.”

Não tinha uma relação próxima com a África imaginada, como era comum no Portugal da década de 1970. “Não tinha necessidade de defender uma África que tinha que ver com Portugal.” Contava 18 anos quando começou a colaborar com o Boletim Anti-Colonial. A sua primeira tarefa foi dactilografar um relatório sobre o massacre de Wiriyamu (Moçambique, 16 de Dezembro de 1972).
 
 
(Fátima Proença, Directora executiva ACEP, 61 anos)
 
Entrou no sector da ajuda ao desenvolvimento por via do Centro de Informação e Documentação Amílcar Cabral, actual Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral (CIDAC), associação nascida logo em Maio de 1974, na sequência da luta pela libertação. Começou como voluntária.

“Foi um processo natural”, diz Fátima Proença. Não teve, como tantos outros, de fazer um corte violento com a família, com a profissão ou com o país. “O que sou hoje tenho sorte de ter começado a ser em pequena, quando a minha mãe me contava histórias sobre um mundo longínquo.”

Aterrou pela primeira vez em África em 1983. Ia passar dois meses em Bissau a dar formação sobre documentação a técnicos das Forças Armadas e dos vários ministérios. “Foi um dos maiores processos de crescimento que vivi”, conta. Esforçou-se para “entender um país, uma cultura, que só conhecia em teoria, à distância”. E percebeu que iria ficar ligada a África para sempre.

Regressou mais depressa do que pensava. Regressou volvidos dois anos, com o marido, para passar um ano inteiro a trabalhar como cooperante do Estado português. “Trabalhei num projecto novo, o início do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa da Guiné-Bissau, com pessoas fora de série, que me ajudaram a perceber quais eram os meus limites, do que era ou não capaz.”

Era grande a tensão na Guiné-Bissau em 1985-1986. Houve uma tentativa de golpe de Estado que culminou com detenções, torturas, fuzilamentos. Tentando sentir a espessura das coisas, Fátima Proença enquadrava tudo no processo de transição da luta armada pela independência para a construção de um estado civil. “Há ali uma legitimidade ao nível das armas que é difícil de transformar…”

Há 30 anos, o sector estava a despontar em Portugal. A Plataforma Portuguesa das Organizações Não-Governamentais de Desenvolvimento foi formada por 13 entidades com mais desejo do que experiência de acção humanitária e cooperação para o desenvolvimento. Coordenava-a Eugénio Anacoreta Correia.
 
Fátima Proença pediu reforma antecipada ao Ministério do Comércio, onde começara a trabalhar ainda estudante de Economia, e dedicou-se a tempo inteiro ao CIDAC. Só de lá saiu em 1996, a caminho da ACEP, que fora criada para trabalhar na integração dos imigrantes africanos em Portugal e ambicionava passar a actuar nos seus países de origem.

Era mais uma etapa do mesmo caminho. Ia ajudar a construir sociedades mais democráticas, mais abertas aos “outros”, nos países de língua oficial portuguesa. Ia fazê-lo numa lógica de “educação para a igualdade”, não de “tolerância paternalista”. Partia do princípio de que todos podiam ajudar a “fazer mudança”. E ainda parte. “Não queremos falsos êxitos alimentados por pessoas que estão de passagem, que têm de fazer as coisas a correr”, explica. “As pessoas que estão lá têm de ter as rédeas, têm de dominar os processos, têm de estabelecer connosco uma relação de poder dizer ‘não’.”

Através dos seus projectos de comunicação, que amiúde envolvem jornalistas e artistas, a ACEP tenta fortalecer laços entre ONG, sensibilizar opiniões públicas, desmontar visões simplistas. “Não temos uma pressa desalmada de mostrar resultados, até porque muitas vezes os nossos resultados são invisíveis. Têm que ver com o que está na cabeça das pessoas, com capacidade de arriscar, de trabalhar em conjunto. E isso leva tempo. Temos de conquistar esse tempo. Com tempo, podemos cozer um elefante numa panela.”

Pode ser estafante. Há uma “pesada carga burocrática e administrativa” relacionada com obtenção de financiamento, sobretudo, junto da União Europeia, mas também nas instâncias nacionais. E isso, diz, “exige um profissionalismo que desvia do que deve ser o centro da actividade”.

Talvez fosse mais fácil se trabalhassem em áreas mais palpáveis como a vacinação ou a distribuição de comida. Nunca foram por aí. “Somos uma associação de gente que trabalha com associações de gente que tem o mesmo tipo de preocupação que nós. Somos cidadãos a tempo inteiro, digamos assim. Procuramos tornar algumas utopias possíveis.”
 
 

“ESTADO É MAIOR DEVEDOR DE APGB COM MAIS DE CINCO BILHÕES DE FRANCOS CFA

  Não dá para acreditar mas leia a notícia para tirar ilações. “Estado guineense é maior devedor de APGB, com mais de cinco bilhões de fr...