O jardim Infantil Nossa Senhora de Fátima foi o grande vencedor do Carnaval infantil do Sector Autónomo de Bissau



O jardim Infantil Nossa Senhora de Fátima foi o grande vencedor do Carnaval infantil do Sector Autónomo de Bissau (SAB) realizado na última sexta-feira pela Associação da Solidariedade e Acção (ASA) na praça dos heróis nacionais, conquistando o primeiro lugar tanto a nível do grupo, assim como da rainha.

O conjunto da “Nossa Senhora de Fátima” vai receber uma recompensa no valor de duzentos e quarenta mil (240 000) francos CFA nas duas categorias. Por seu lado, o Jardim Infantil Nacak do “Cristo Redentor” conquistou a segunda posição no grupo e na rainha, levando para casa um montante de cento e oitenta mil (180 000) francos CFA e SOS assumiu o terceiro lugar em ambas as categorias, somando cento e trinta e cinco mil (135 000) francos de prémio.

O desfile foi ocasião para as crianças dos 13 jardins da capital Bissau exibirem diversas danças de variadas culturas étnicas que compõem a rica xadrez cultural guineense.
Num ambiente de festa no Império invadido por um público compacto, o sol não perdoava os pés descalços das crianças que não deram braço a torcer e aguentaram intensos raios solares que se batiam sobre a praça dos heróis nacionais. O ambiente era de festa da cultura.

As crianças fizeram uma panorâmica da cultura guineense e apontaram a forma como esta tende a desaparecer-se progressivamente sem que alguém tomasse medidas apropriadas com vista a salvaguardá-la.
A mensagem mais arrepiante foi a da rainha eleita pelo júri do evento, neste caso a Bioncilini Amândia Mendonça Djaló de apenas 5 anos, que na sua alocução começou por descrever que ela é a rainha da cultura do povo guineense oriundo da localidade mais longínqua do solo pátrio de Amílcar Cabral, onde a luta da libertação conheceu seus momentos mais históricos, acrescentando que para chegar a Bissau custou-lhe muito sacrifício.
“Faço hoje 42 anos a caminhar, nem reconheci os lugares por onde passei, pois os arbustos fecharam o caminho que outrora estavam abertos. As estradas estão cortadas com buracos enormes. Mas veio aqui para vos recordar que a cultura é o pilar de um povo, ela é o rosto de qualquer povo no mundo fora. Também ela é responsável da passagem de testemunha de geração para geração”, enfatizou a pequena Mendonça Djaló, questionando de seguida “onde está a nossa Ballet Nacional (Esta é a Nossa Pátria Amada)? Fora esquecida, mas ela era o espelho da nossa cultura no mundo fora”.

Indignada, Mendonça Djaló perguntou ainda se as crianças não têm direito de conhecer as histórias dos seus bisavôs, nem de como viviam. “Onde está Kussundé? onde está Kankuram de Mansaba? Kumpó? Djambadón? Brosca? Kakau? Kunderé?

Depois de um silêncio emocionante, a menina Djaló, a rainha do dia, afirma que essas culturas morreram em detrimento de músicas de tipo Rap e de modelo de vestuário denominado “Tchuna”.
“Onde está aquela nossa verdadeira cultura? A nossa cultura desaparece a cada dia que passa como os nossos peixes”, lançou Djaló, deitando para chão um peixe, e prossegue com a retórica, afirmando que “Cada dia a nossa cultura está a sumir como a nossa madeira, a nossa cultura está a desaparecer como a nossa areia pesada de Varela”.

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