Governo senegalês acaba de dar um importante passo em frente na sua determinação de reforçar o empenhamento no combate à droga ao destruir numerosos campos de cultivo de “cannabis” localizados no sul do país, mais especificamente na conturbada região de Casamansa.
Esta ofensiva conjunta da Polícia e das forças militares ocorreu muito perto da fronteira com a Gâmbia e contou com a oposição de elementos rebeldes pertencentes Movimento das Forças Armadas de Casamansa e que frequentemente se confundem com simples grupos de traficantes de droga.
O sul do Senegal é cenário, desde 1982, da acção armada e bastante violenta de rebeldes que, dizendo lutar pela independência da região, mais não fazem do que praticar actos de verdadeiro terrorismo junto das populações indefesas.
Essa situação de grande insegurança tem proporcionado aos traficantes as condições para desenvolveram a sua actividade sem grandes problemas, havendo várias acusações que apontam, precisamente, para a existência de uma cumplicidade por parte dos rebeldes e passividade das forças militares do Governo.
Essa cumplicidade revela-se claramente no financiamento que os traficantes fazem aos rebeldes e através do qual são compradas as armas com as quais dizem lutar pela independência de Casamansa.
Para tentar encontrar uma solução negociada para o conflito, o presidente senegalês, Macky Sall, no poder há quatro anos, tem desenvolvido uma série de esforços no sentido de estabelecer uma plataforma de entendimento com os rebeldes, tendo, para isso, solicitado já a mediação da comunidade católica de Sant’Egídio.
Até ao momento, contudo, esses esforços não surtiram efeitos positivos, devido precisamente à crescente influência que os traficantes vão tendo sobre os rebeldes.
Esta “aliança” terá motivado o Governo a refinar os seus métodos de combate aos protagonistas do tráfico de droga, passando a ter uma actuação mais musculada por força do trabalho conjunto da Polícia e do Exército.
O Senegal, insistentemente, tem pedido o apoio da União Africana e a colaboração dos países vizinhos para resolver o problema de Casamansa, uma vez que, frequentemente, ele se alastra para o interior da Gâmbia quando os rebeldes tentam fugir das investidas das forças do exército.
No início do ano, numa cimeira da União Africana realizada em Adis Abeba, o presidente senegalês assumiu a liderança do Comité da Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD), passando nessa posição a colocar especial ênfase na necessidade de um maior esforço conjunto do continente para o combate à droga.
Entende Macky Sall que a droga, em numerosos países, serve para financiar o terrorismo e grupos rebeldes, criando-se desse modo um perigoso dispositivo que coloca em risco a estabilidade social e política de todo o continente.
Desde Janeiro que o Senegal tem em funcionamento um apertado sistema de prevenção do terrorismo criado com a adopção de medidas destinadas a dar mais poder à polícia e aos tribunais para poderem gerir melhor situações que obriguem à detenção de elementos suspeitos.
Essas medidas começaram por ser aplicadas apenas em Dakar mas rapidamente se tornaram aplicáveis noutras regiões do país, nomeadamente em Casamansa, onde passou a notar-se a presença mais frequente das forças policiais e do próprio Exército.
A verdade é que, talvez devido a estas medidas, o Senegal é actualmente uma “ilha” de estabilidade na conturbada região da África Ocidental onde os casos mais graves ocorreram recentemente no Burkina Faso e na Costa do Marfim.
Um dos “segredos” para toda esta estabilidade talvez possa ser explicado pelo facto de o Senegal ter vindo a optar por tratar com os seus próprios meios os problemas que enfrenta.
A presença muito discreta de tropas estrangeiras no território, sobretudo francesas, dá muito mais poder ao Exército e à Polícia e retira aos grupos radicais argumentos que possam justificar as suas acções.
O Senegal tinha tudo para ser um objectivo prioritário para os diferentes grupos radicais empenhados em criar situações de desestabilização no continente africano.
Primeiro, por ser uma antiga colónia francesa e, como tal, uma forma de mostrar a Paris todo o descontentamento pelo que tem feito em África. Segundo, para beliscar a solidariedade entre todos os aliados europeus e africanos de França. E, terceiro, para fazer ver aos extremistas do grupo Estado Islâmico que em África não é só o Boko Haram que merece ter o seu apoio.
Com efeito, na África Ocidental as despesas da instabilidade têm sido feitas pela Al Qaeda do Magreb, um grupo que não tem qualquer ligação ao Estado Islâmico e que, por vezes, até rivaliza com ele na disputa pela reivindicação dos ataques mais violentos.
Neste momento o Senegal tem uma activa e visível guerra com os traficantes de droga que operam na região de Casamansa e, ao mesmo tempo, uma discreta mas eficaz acção preventiva para impedir a ocorrência de ataques terroristas no seu território.
Trata-se, ao fim e ao cabo, de uma estabilidade e determinação que podem servir de exemplo a outros países vítimas da acção de grupos rebeldes cujas actividades, na maior parte das vezes, não se distinguem das de grupos de terroristas ou de simples traficantes de droga.
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