Crónica dos 60 dias sem Governo
ESTAMOS A RECOMEÇAR !!!
Recomeçar é uma expressão ou vocábulo para transmitir a ideia de termos
partido de um ponto para uma meta. Termos interrompido um percurso a
meio do caminho ou antes de atingirmos o desiderato. O destino. É uma
sensação que muita das vezes não gostamos experimentar, Sobretudo quando
não existem razões óbvias para recomeçar. Por exemplo, quando estamos
perante a descontinuidade de um programa ou de um projeto. Iniciado com
paixão, vontade, determinação e devoção.
Na Guiné-Bissau, como que infernizados pelo demónio, recomeçar está cada
dia a ter lugar cativo, com o agravante de ser subsequente a guerras ou
disputas para assumir as rédeas do poder. Quer por golpes de Estado.
Quer por golpes palacianos, com arranjos atípicos de chegar ao poder sem
o termos conquistado nas urnas. E assim vamos! De recomeçar em
recomeçar, com o país a fazer marcha atrás ou marcar passo. Quando os
vizinhos e irmãos da sub-região, colocam os problemas e interesses
pessoais de lado para valorizar o que é comum. O que é de todos. Os
interesses de um povo que pretende erguer uma nação. Há 2 meses voltamos
a provocar mais uma ruptura, num percurso que, não sendo perfeito ou
arrojado, não era nada mau. Sobretudo para um país que saíra da
transição, com todas as vicissitudes dele decorrente. Os salários
estavam em dia. A situação energética praticamente regularizada. A
campanha de Castanha de Cajú a atingir resultados inéditos. O Ano
Lectivo a chegar ao fim e sem interrupções. O ebola controlado, apesar
do espectro que veio dos vizinhos Senegal e Guiné-Conakry. O corte
desenfreado dos troncos estancado. E, por arrastão, a Guiné-Bissau na
orbita da Comunidade Internacional. Expressa nos relatórios e avaliações
positivas do FMI, UEMOA, Amnistia Internacional, etc. Ato contínuo
fomos elegíveis aos fundos dos doadores internacionais, com a garantia
de um desembolso de cerca de 1 bilhão e meio de dólares.
Quando o futuro augurava melhores dias, com renascer da esperança nos
olhos dos guineenses, eis que voltamos a dar um salto no escuro. Um tiro
nos pés. Para, como tem sido o nosso apanágio, recomeçarmos. De nada
valeram os apelos da Comunidade Internacional. O Conselho dos Régulos.
As manifestações da Sociedade Civil a favor das realizações positivas do
Governo. A moção de confiança da ANP, com vincados reconhecimentos e
gratidão dos líderes das bancadas dos partidos com acento parlamentar.
Nada mesmo poderia adiar a queda de um Governo que estava nas cogitações
da maioria. O plano de derrube tinha que ser levado a cabo. Para
voltarmos a recomeçar ! E recomeçar, após 2 meses de bloqueio político e
paralisia institucional, com todas as suas consequências. Na economia
do país. Na imagem da Guiné-Bissau e dos seus mais altos dignitários. No
futuro dessa geração recorrentemente sacrificada e penalizada. Temos
que começar tudo de novo: Para convencer os doadores a abrirem cordões a
bolsa. Para sermos submetidos a novos exames do FMI. Para reiniciarmos
um novo namoro ou as pazes com os potenciais financiadores da
Guiné-Bissau que tinham sido afugentados com as crises cíclicas. Casos
dos Estados Unidos, Suécia e alguns países do Ocidente.
É verdade que a culpa jamais morreu solteira. Mas nesse nosso
raciocínio, não vamos invocar os culpados. O nosso repto vai no sentido
de cada um refletir, fazer juízos… e tirar as devidas conclusões. Numa
coisa estamos conversados: Ao fim de 2 meses de mais uma guerra para
controlar ou assaltar o poder, TODOS SAÍMOS A PERDER. E, POR ISSO MESMO,
ESTAMOS A RECOMEÇAR. ATÉ QUANDO NÃO SE SABE. A VER VAMOS?
* Esta crónica foi divulgada no bloco de notícias da RDN, no dia 18 de outubro.
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