EDITORIAL: LÍNGUA PORTUGUESA, RESIDÊNCIA SOCIAL DAS IDÉIAS NACIONAIS NO SÉCULO XXI



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Ao celebrar oito séculos (800 anos), em 27 de Junho de 2014, a Língua Portuguesa, como a residência social dos Ideais Nacionais, apelo a toda a Nação guineense, e em particular, à sua classe política, empresarial, acadêmica e homens da cultura para uma profunda reflexão sobre este valioso recurso estratégico para o desenvolvimento das políticas públicas da Guiné-Bissau.
Urge pensarmos todos, quer no país e quer na diáspora, como transformarmos a Língua Portuguesa num fabuloso recurso estratégico do desenvolvimento sócio-económico, cultural e intelectual da Guiné-Bissau, na nossa sub-região e no mundo. Não podemos nem devemos ficar de braços cruzados a jogar na terceira Liga da Lusofonia, com a mera afirmação vaga de que fazemos parte de uma comunidade de 200 milhões de falantes da quinta língua mais falada em quatro continentes do mundo. Temos que valorizar a Língua Portuguesa.
A valorização nacional do estatuto da Língua Portuguesa passa necessariamente pelo estabelecimento de novas políticas públicas do seu ensino no nosso país que envolverão iniciativas da sociedade civil, que poderão ajudar o governo a transformar o português numa verdadeira e preciosa ferramenta de apresentação, no mundo global, da nossa identidade de guineenses. As novas políticas públicas do ensino da Língua Portuguesa no país devem visar, acima de tudo, a massificação da sua aprendizagem em todo o território nacional para fazer com que alcancemos, no quadro da visão estratégia nacional 2015 /2025, noventa por cento de falantes do português na pátria de Amílcar Cabral.
A massificação do ensino da Língua Portuguesa no país abrir-nos-á, no futuro, uma porta grande para o mundo económico, empresarial, académico e cultural. Fornecer-nos-á também as condições necessárias para elevar a nossa língua nacional – o kriol – a patamares superiores da produção literária. Em suma, a massificação do ensino da Língua Portuguesa na nossa sociedade oferecer-nos-á uma espécie de janela para o mundo, uma janela maior que esta em que cinquenta e sete por cento da população fala ou compreende a língua de Camões, hoje no país.
É certo que para nós hoje, o futuro da Língua Portuguesa no sistema mundial é quase o sinónimo do futuro da Guiné-Bissau, porque a Língua Portuguesa é actualmente a principal Residência Social das grandes idéias das políticas públicas nacionais e internacionais do país. Por isso, é quase um imperativo nacional transformarmos, primeiro, a Língua Portuguesa numa ferramenta estratégica de desenvolvimento sócio-económico, empresarial, cultural e académico do nosso país.

Aliás, já na longínqua década da Luta Armada da Libertação Nacional, o fundador da nossa nacionalidade, Amílcar Cabral, alertou-nos sempre que a Língua Portuguesa era a maior riqueza que a colonização portuguesa nos deixaria. Esta visão do fundador da nossa nacionalidade já apelava na altura à nossa consciência da necessidade de preservar e cultivarmos cada vez mais a Língua Portuguesa como um capital ou um recurso estratégico da afirmação da nossa identidade económica, social, cultural, empresarial e intelectual neste mundo de globalização em que hoje vivemos.
Assim sendo, cada guineense, quer viva no país, quer na diáspora, deve reter na sua consciência este legado que Amílcar Cabral nos deixou, sobretudo, nesta altura em que na nossa lusofonia se fala do futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial e de oito séculos da nossa língua comum. Porque se não conseguimos transformar a Língua Portuguesa num activo importante da nossa diplomacia e da nossa internacionalização económica empresarial, perderemos a dinâmica da nossa visão estratégica de desenvolvimento 2015/2025 estabelecida pelo governo de Domingos Simões Pereira para a refundação política, económica e empresarial do país.
O nosso desafio em transformar a Língua Portuguesa num activo económico e diplomático no século XXI não deve ser somente no espaço lusófono. Ele deve estender-se a nossa integração na Comunidade Económica dos Estados de África Ocidental (CEDEAO) e na União Económica Monetária de África de Oeste (UEMOA). Nos 15 países membros da CEDEAO, com 500 milhões de consumidores, devemos influenciar o ensino da Língua Portuguesa nas suas universidades e tradução das grandes obras dos escritores lusófonos. Em relação a UEMOA, não basta ela reconhecer, pura e simplesmente, a Língua Portuguesa como a língua de trabalho. Mas, é preciso, efectivamente, exigirmos a sua aplicação real nesta instituição financeira sub-regional.
Não somente nestas duas organizações sub-regionais. Temos, de modo geral, grandes desafios nas organizações continentais de que somos membros que também aprovaram oficialmente a Língua Portuguesa como a língua de trabalho, mas que na prática continuam a ter dificuldades na sua utilização. Todas estas questões devem estar integradas na nossa política pública de transformação do português numa fabulosa e estratégica Residência Social das Idéias Nacionais na nossa visão de desenvolvimento 2015/2025. Em suma, os nossos governantes devem apostar claramente na Língua Portuguesa como uma opção estratégica para o desenvolvimento económico, social, empresarial, académico e cultural do país.

O nosso país pode, por outro lado, aproveitar os interesses económicos da República Popular da China, da India e da Rússia de investir e explorar alguns recursos nacionais para influenciar o ensino da Língua Portuguesa nas universidades destes países emergentes. Porque os seus empresários, homens de negócios e os seus técnicos estariam interessados em aprender a Língua Portuguesa para melhor, comunicar e compreender a realidade cultural nacional para poderem estabelecer os seus investimentos, negócios e comercio. O que seria uma pequena, mas também grande contribuição da pátria de Amílcar Cabral para o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial. Ou melhor, seria uma pequena ajuda do nosso país na internacionalização da Língua Portuguesa. Hoje, Brasil, Angola e Moçambique assumem a sua liderança no hemisfério sul, onde é a língua mais falada com 217 milhões de falantes.
António Nhaga
Diretor-Geral​

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