"Sou Presidente de todos os guineenses, dos que me apoiaram e também de todos aqueles que não me apoiaram. Vamos esquecer os combates políticos, o passado e avançarmos juntos".
A 28 de Março, no Fórum de Lisboa, bom tempo, dia de sol, a sala composta, as pessoas expectantes no que o Presidente da República da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, tinha a dizer à Diáspora.
Encontro agendado pela sua iniciativa, primeiro encontro com a comunidade desde que tomou posse, segundo o Presidente para ouvir conselhos e fazer o ponto da situação do país.
Fiz questão de marcar presença, importante para puder ouvir e ver o Presidente. Muito se tem escrito e falado sobre o seu ainda curto mandato, e nestas situações não há melhor juízo do que os nossos olhos e ouvidos.Opinar exige ter a certeza de que as nossas ideias estão assentes numa base de verdade e não de meras especulações e presunções das informações que nos chegam por terceiros, muitas vezes com "alterações climáticas".
Os cidadãos têm uma responsabilidade na construção de uma sociedade esclarecida, de verdade sem tabus, uma sociedade em que as pessoas não precisam de se esconder sobre anonimatos ou falarem sem responsabilidade nos "cafés" sobre temas tão sensíveis como é a política.
Mas como tudo na vida, os comportamentos são escolhas individuais,e em democracia temos de aceitar os que não dão a cara e preferem como "sábios" que são, opinar sobre tudo e sem nenhuma responsabilidade ou conhecimento de causa.
Eu preferi sair do conforto do meu lar num fim de semana de descanso para exercer o meu acto de cidadania. E ouvir a escolha feita pelo povo do meu país de viva voz, para que hoje também possa pela primeira vez dedicar na minha página algumas palavras sobre o Presidente do nosso país, José Mário Vaz.
Numa altura em que o bom jornalismo está escasso torna-se imperativo os cidadãos sempre que possível marcarem presença neste género de acontecimentos para melhor formar a sua opinião, pensar pela suas cabeças sem influências e saber fazer a escolha do essencial na informação do acessório. Infelizmente, muita informação que nos chegam são apenas palavras, descontextualizadas, sensacionalistas e com o único sentido de "baralhar"o povo e criar instabilidade, inquietação na sociedade.
Adiante.
O Presidente chega, as pessoas levantam-se para o aplaudir de pé. Junto à mesa onde se iria sentar, olha para a sala, agradece e faz o gesto para que as pessoas se voltem a sentar.
O Presidente nas suas primeiras palavras quis criar aproximação, empatia e dar algum conforto a todos quadrantes da sociedade, quando fala por conhecimento de causa, como que a dizer: "estou aqui a falar não é apenas retórica, mas por experiência própria":
- Conhece as dificuldades da imigração porque, é produto da imigração, filho de imigrantes.
- Conhece as dificuldades com que os estudantes se deparam porque foi estudante em Portugal.
- Conhece a luta dos trabalhadores e empresários porque foi trabalhador/estagiário e empresário também na condição de imigrante.
Num discurso quanto a mim fechado, com conteúdos de carácter de esclarecimento e dissipação de dúvidas. Deu-me a impressão que vinha com respostas de perguntas já conhecidas. O Presidente da República continua o discurso na mesma linha de raciocínio, reconhece as dificuldades que as economias europeias se confrontam e as consequências disso na degradação das vidas dos imigrantes, por isso, convida-os a voltarem e assumirem riscos que teriam de enfrentar em qualquer país. Acrescenta e diz que quando se devem assumir riscos e dificuldades, que seja no nosso próprio país. Sem pretensões de cargos, como ministros, secretários de estados etc... como se fossem estes os únicos cargos dignos de se trabalhar.
Desafia os guineenses a terem um papel activo no desenvolvimento do país, quando propõe, a competirem com os demais na apresentação de projectos e aproveitarem a disponibilidade financeira ao dispor da GBissau conseguida na Mesa dos Doadores, onde reconheceu o sucesso do acontecimento tendo em conta os resultados, e consciência que é um indicador de que a comunidade internacional nunca abandonou a GBissau.
O Presidente continua e alerta para um bom momento de oportunidades importantes que devem ser consideradas, em que todos são chamados a desempenhar um papel activo e determinante na construção do país.
Questiona para a necessidade de definição clara de "Que Estado é que nós Pretendemos" ?
Fala da importância do Estado como regulador e não como maior empregador, como ainda se verifica e a necessidade de inversão desta posição com a dinamização do sector privado, fazendo com que este assuma um papel mais pró-activo.
As reformas têm de ser implementadas, são urgentes e necessárias para pôr o país a funcionar, a produzir. Criar riqueza, criar empregos aos jovens e melhorar as condições de vida das pessoas. Com algum humor pelo meio, arranca aplausos do público quando dá o exemplo da falta de cultura de trabalho, falta de rigor, assiduidade no cumprimento dos deveres laborais. Da existência de muitas horas" mortas" que se verificam nas várias estruturas do Estado.
Referencia a importância do governo de respeitar os compromissos assumidos aquando da negociação das ajudas financeiras solicitadas em Bruxelas. Em sequência disso, faz menção à conversa tida com seu homólogo Presidente de Portugal Aníbal Cavaco Silva, em que este lhe diz que a GBissau não pode desperdiçar esta oportunidade. Vista por ele como a última oportunidade.
Houve momento de pausa, para que outras personalidades, e também associações participassem a fim de apresentar as suas preocupações ao Presidente, que foi tomando nota com a devida atenção.
"Nunca pensei mal para a GBissau e nem pretendo fazer mal à GBissau e seu povo".
O Presidente José Mário Vaz, volta ao microfone, para mim a última intervenção marca o momento mais alto e mais emocionante do dia, na medida em que estava mais espontâneo, menos técnico e fala nos pontos que muitos pretendiam ver esclarecidos, mas que ninguém perguntou.
Começa por explicar a expressão "Mão na lama" expressão que segundo ele tornou-se motivo de algum humor na sociedade.
Continua, a expressão surge porque entende o Presidente que as economias que se desenvolveram a nível mundial, como EUA, França, Alemanha etc... se desenvolveram à custa principalmente do sector primário (exploração dos recursos da natureza), sendo que o desenvolvimento começa na agricultura e similares.
Diz insistir nesta linha, porque enquanto estava na campanha para as presidenciais, viu no interior do País, pessoas com fome, "barrigas coladas às costelas".
Para o Presidente este sector assume uma grande importância na medida em que:
- Cria auto-suficiência alimentar
- Evita gasto de divisas nas importações do arroz
- Gera emprego
Em sequência de terem falado nas intrigas existentes na política, abordado por uma interveniente, o Presidente aproveita para concordar e a propósito menciona conversa também tida com antigo Presidente da República Portuguesa, Ramalho Eanes, em que este afirma "o que pode matar a esperança de dias melhores na GBissau, são as intrigas, calúnias, invejas, ódios".
Quanto este ponto, o Presidente Mário Vaz no seu entender já começam a existir melhorias, e deu como exemplo a força e união com que foram para Bruxelas, a volta do mesmo objectivo.
O Presidente olha de forma fixa para o público, e esclareceu que GBissau é dos guineenses e não do Presidente Mário Vaz. A GBissau não está assente num único homem "todo poderoso".
Na qualidade de Presidente da GBissau diz não estar imune às críticas, aos conselhos e está disponível para todos os guineenses de igual, sem divisões étnicas, status social ou religiosa.
Não pretende privilégios para sua família, só porque são família do Presidente, segundo ele, obedece às regras da boa conduta, luta contra corrupção e pretende igualdade de direitos e oportunidades para todos os Guineenses sem excepção.
Outro ponto que fez questão de abordar foi a problemática da Constituição da República e a separação de poderes.
A esta questão salienta que havia prometido na campanha eleitoral, respeitar a constituição e separação de poderes entre os órgãos de soberania, mas reconhece existir "zonas cinzentas".
A este propósito, eu, Amélia Costa Injai, apraz-me dizer de que se se reconhece existir algo que possa suscitar dúvidas, devem todos os órgãos da soberania, desenvolver esforços para tornar a nossa constituição mais clara, "preto no branco".
Mas mesmo assim fiquei esclarecida e de alguma forma aliviada, porque quando se reconhece e se tem noção da existência de fragilidades, é um indicador para a sua resolução.
O presidente da República da GBissau diz ser sua única ambição contribuir para a mudança radical do país. E buscar sempre consensos, para que haja estabilidade política necessária. Esse é seu objectivo.
Mais o Presidente terá dito, mas tentei partilhar aqui o que para mim foram os pontos mais importantes e significativos do seu discurso.
Gostei do que ouvi. Acredito que o nosso Presidente é convicto nas suas ideias e de que mesmo nas dificuldades vai privilegiar o diálogo, reunir consensos, e no fim pensará pela sua cabeça, pelo bem das pessoas e do país, pelo supra interesse nacional.
Sou objectiva optimista por natureza e até prova em contrário eu acredito nas pessoas e na sua boa intenção e defendo a ideia de que a coerência na política é fundamental e a nossa honra é a palavra proferida.
E como mulher que quer ver acontecer um futuro melhor na sua terra natal, para o bem dos nossos filhos, acredito que tem de ser mais forte o que nos une, do que aquilo que nos separa.
Porque no fim, GBissau 1°
31/3/2015, ACI (Amélia Costa Injai)
(foto: Amélia Costa Injai) |
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