Documentos a luta pela Independência da GUINÉ-BISSAU




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NOS 50 ANOS DO INÍCIO DA GUERRA COLONIAL
A LUTA DE LIBERTAÇÃO NA GUINÉ-BISSAU
Por Armando Teixeira
Barreiro

A fundação na clandestinidade rigorosa do Movimento de Libertação da Guiné e Cabo Verde, em 18 de Setembro de 1956, foi o culminar de um processo de tomada de consciência nacionalista e revolucionária, por uma vanguarda política onde pontificava o líder carismático, dotado de natural simpatia, que congregou à sua volta muitos apoios e foi dos mais representativos chefes da guerrilha africana nos países de domínio colonial português - Amílcar Cabral.

NOS 50 ANOS DO INÍCIO DA GUERRA
COLONIAL

[ PARA A HISTÓRIA DO COLONIALISMO
PORTUGUÊS]

13. A LUTA DE LIBERTAÇÃO NA GUINÉ-BISSAU

INTRODUÇÃO

Quando se assinalam os 48 anos do início da luta de libertação nacional na Guiné-Bissau ( em Janeiro de 1963 foi atacado o quartel de Tite), desaparece um dos últimos lideres históricos da guerrilha guineense, companheiro de Amílcar Cabral na fundação do PAIGC ( Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde ), Aristides Pereira.
Associamo-nos à homenagem à memória do combatente da liberdade agora desaparecido, publicando mais um capítulo sobre a Guiné-Bissau, que fará parte do livro em preparação com o título e subtítulo em epígrafe.
*
Apesar de se tratar do primeiro território africano onde os navegadores portugueses acederam ( Gil Eanes em 1445 ), a Guiné-Bissau sempre constituiu, desde o século XV até à época contemporânea, a possessão portuguesa mais desprezada.
Se do ponto de vista económico a situação era muito frágil quando o PAIGC iniciou a luta armada em 1963, do ponto de vista do ensino e da religião, a realidade mostrava o carácter irrisório da “missão civilizadora” de Portugal em África, como gostavam de evocar os próceres do regime. No respeitante á acção missionária, apenas 2% da população estava convertida ao cristianismo, e a língua portuguesa jamais teve significado no meio rural, com múltiplos dialectos próprios, nem sequer no meio urbano, onde se encontrava generalizado o crioulo, uma espécie de português africanizado.
Tímidas acções no campo da educação só foram iniciadas depois de 1936,mas os resultados eram confrangedores : 1% da população tinha a instrução elementar portuguesa e até 1960 sé cerca de 0,5% dos nativos atingira o estatuto de “assimilado”. Apenas 11 guineenses tinham obtido uma licenciatura no exterior!
Entre eles estava Amílcar Cabral, que nos princípios da década de 50, estudou no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, participando nas lutas estudantis da época, uma “escola onde muitos futuros revolucionários aprenderam o a, b, c, da luta política organizada. Quando se formou em engenharia agronómica e foi trabalhar para a junta de Investigação do Ultramar, teve a oportunidade de fazer viagens à Guiné natal, a Angola e a Moçambique, onde percepcionou a realidade terrível em que viviam os povos coloniais. Entrementes entreteceu as ligações e estabeleceu os contactos que levariam à emergência do movimento nacionalista guineense.
Enquanto estudante, esteve ligado às actividades da Casa dos Estudantes do império, no Arco do cego, onde se desenvolvia, ao arrepio de uma comissão administrativa imposta pelo governo, uma programação associativa de carácter progressista, com estudantes vindos de todas as colónias. As suas intervenções nas assembleias gerais mostravam o homem caloroso, sorridente e de maneira de ser contagiante, que viria a colaborar secretamente com agostinho Neto na criação do MPLA, ao mesmo tempo que preparava a constituição do PAIGC.
A fundação na clandestinidade rigorosa do Movimento de Libertação da Guiné e Cabo Verde, em 18 de Setembro de 1956, foi o culminar de um processo de tomada de consciência nacionalista e revolucionária, por uma vanguarda política onde pontificava o líder carismático, dotado de natural simpatia, que congregou à sua volta muitos apoios e foi dos mais representativos chefes da guerrilha africana nos países de domínio colonial português - Amílcar Cabral.
Um acontecimento terrível viria a acelerar o processo de consciência independentista dos povos da Guiné, quando a 3 de Agosto de 1959, as tropas coloniais massacraram estivadores em greve no porto de Pidjiguiti, em Bissau, assalariados da CUF, em luta pelo aumento dos salários miseráveis, inspirada pelo PAIGC. Contaram-se cerca de 50 vitimas mortais!
Outros acontecimentos marcaram este período fundamental para o arranque da luta armada na Guiné-Bissau : a independência de vários países vizinhos da África Ocidental ( Guiné-Konakri em 1958, Senegal em 1960) ; a 1º Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas ( CONCP), em Rabat, Marrocos , em1961, dando um forte contributo para a unidade e acção dos movimentos de libertação de Angola, Moçambique e Guiné Cabo Verde, e para a sua popularidade na Europa (também estiveram presentes os independentistas de Goa e observadores do CLSTP - Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe) ; em Agosto de 1961, o Daomé ocupa o forte de S. João Baptista de Ajudá, completamente degredado e abandonado, num acto simbólico bem perto da Guiné/ Cabo Verde ;invasão pela União Indiana de Goa, Damão e Diu, em 19/12/1961, pondo fim à soberania colonial portuguesa de quatro séculos, que ignorava a realidade histórica em transformação e o coro internacional de protestos quase unânimes nas Nações Unidas.
Pressionado, Salazar ensaia uma medida dilatória e nomeia em Abril de 1961, Adriano Moreira como ministro do Ultramar. O professor universitário de orientação pró-neocolonialismo, acabará por desentender-se com o caudilho e sairá em Dezembro de 1962.
Salazar entretanto não responde à carta aberta que Amílcar Cabral dirige ao governo português, em 13 de Outubro de 1961, onde , numa missiva de boa vontade, reclama a independência a prazo, da Guiné e de Cabo Verde, e reafirma o desejo de cooperação com Portugal.
Não restou a Cabral e ao movimento nacionalista outra alternativa senão a luta armada de libertação nacional, desencadeada no dia 23 de Janeiro de 1963, com um ataque ao quartel de Tite.

5 de Outubro de 2011


Armando Teixeira

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