Chimpanzés a tomar banho num lago, a encestar pedras como num «afundanço» de basquete entre ramos de uma árvore ou simplesmente em passeio.
São animais em vias de
extinção a nível global, mas há horas e horas de vídeo a mostrar a
intimidade destes primatas que habitam nas florestas do Boé, sudeste da Guiné-Bissau.
Nestes filmes há também leopardos a desfilar como numa passerelle,
imagens de búfalos, gazelas, javalis e o que parece ser a cauda de um
leão – do qual já foram encontradas pegadas.
Os membros da fundação Chimbo ficam ansiosos de cada vez que penetram na
densa vegetação para ler os cartões de memória das câmaras de
vigilância: sabe-se lá que animais vão ver.
Alguns, como o leão, eram dados como extintos na Guiné-Bissau desde a guerra pela independência, na década de 60 e até 1974.
Há que aguçar os sentidos: «os chimpanzés gritam quando se deitam e quanto se levantam», explica Piet Wit, ecologista, especialista em Agronomia e Gestão de Recursos Naturais, um dos responsáveis pela Chimbo.
Assim, quando a noite cai é possível saber aproximadamente em que
árvores fazem os ninhos para dormir, para de manhã a busca avançar até
perto desses locais e esperar que acordem.
A sede da Chimbo está montada na aldeia de Béli e dali parte a maioria das saídas de campo, mas é difícil deitar olho aos chimpanzés. «Aqui, no Boé, por cada cinco saídas, há talvez duas em que os consigo observar. E por vezes só ao longe», descreve Piet. Daí a extrema utilidade da rede de câmaras de vigilância.
A rede foi montada há cinco
anos, primeiro em dez locais. Hoje abrange 25 e com outras tantas
câmaras prontas a entrar em ação, se necessário.
«Não as usamos todas em
simultâneo porque não teríamos capacidade para as gerir», explica. Só
com o conjunto que está ativo «já há muitas centenas de horas de vídeos
acumuladas para ver».
Esta história de observação e preservação da natureza começa com um
momento trágico na vida de Piet e da esposa, Annemarie Goedmakers.
David, filho do casal holandês, faleceu inesperadamente em 2006, aos 18
anos, devido a um problema vascular na aorta.
Juntos já tinham passado férias na Guiné-Bissau. Annemarie, presidente
da Chimbo, bioquímica e ecologista, ainda hoje mostra a foto de David a
dormir num ninho de chimpanzé quando tinha 10 anos. «Já tínhamos a ideia
de fazer algo pelo Boé, mas. depois de ele morrer, isso ganhou outra
força».
Um dos primeiros trabalhos da Chimbo, com financiamento da MAVA –
Fundação para a Natureza, e de outros doadores, consistiu num
levantamento que permitiu chegar à estimativa de que haja cerca de 700 chimpanzés no Boé.
Nos últimos dois anos, o trabalho tem sido financiado por um dos institutos Max Planck, no caso, o Instituto Para a Matemática nas Ciências, com sede em Leipzig, Alemanha.
A Chimbo está incluída no grupo de pesquisa dedicado exclusivamente aos chimpanzés. «O
nosso foco é o chimpanzé. Vemo-lo como uma espécie que é o símbolo de
todo um meio-ambiente importante e com benefícios para as pessoas que
aqui vivem», conclui Piet.
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