SETE ANOS DE SALÁRIOS EM ATRASO NOS CORREIOS DE BISSAU





Bernardino Santos Manu, funcionário dos Correios na capital guineense, continua a ir para o trabalho todos os dias, apesar de não receber há 90 meses. E a longa crise política na Guiné-Bissau parece não ter fim à vista.

crise política na Guiné-Bissau parece não ter fim à vista e afeta cada vez mais a população. Os professores das escolas públicas estão em greve desde segunda-feira (15.05) para reivindicar melhores condições de trabalho.

Situação difícil vivem também os funcionários dos Correios de Bissau, que não recebem os seus salários há mais de sete anos. O sindicato que representa os trabalhadores responsabiliza os sucessivos governos pela "morte lenta" dos Correios.

Ainda assim, todas as manhãs, às 7h30 em ponto, Bernardino Santos Manu, de 56 anos, apresenta-se ao trabalho no principal posto dos Correios, na capital. E todos os dias cumprimenta os seus colegas na entrada do edifício, no centro de Bissau. Este é o momento mais emocionante do dia, porque os 137 funcionários que aqui trabalham não têm muito para fazer.

Por causa da revolução digital e tecnológica, chegam cada vez menos cartas. Antes, recorda Bernardino Santos Manu, com um brilho nos olhos, "havia muitos clientes, milhares de cartas para enviar" para o estrangeiro. "Outrora era bom", desabafa, recordando os tempos em que as estações de correio guineenses funcionavam "no seu pleno", não como agora.

Correios em "queda livre"

Antigamente, os habitantes de Bissau iam aos Correios para telefonar para o estrangeiro. Mas depois vieram os aparelhos de fax, os telemóveis, os smartphones - e com eles o fim dos Correios, lamenta Manu, que trabalha aqui há 16 anos. "É este o grande entrave. O Estado não subvencionou os Correios e deixou-os em queda livre", critica.

Mas o pior de tudo é que os funcionários dos Correios não recebem os seus salários há sete anos e meio, sublinha Bernardino Santos Manu, que também representa os seus colegas no comité sindical.

O funcionário sobrevive graças à ajuda dos familiares e de alguns amigos. "Quando lhes falo da minha situação financeira, alguns têm pena de mim e dão-me alguma coisa para sustentar a família. É o que nos sustém até à data presente", conta.

Sem salários nem subsídios

Há anos que os correios e os seus funcionários são negligenciados na Guiné-Bissau, um dos países mais pobres do mundo. Não recebem salários nem subsídios. Seis trabalhadores morreram enquanto esperavam pelos ordenados. Não tinham como pagar os cuidados médicos.

A situação nos Correios é cada vez mais difícil, lamenta uma funcionária ouvida pela DW África. "Os nossos filhos não podem ir para uma boa escola. Não conseguimos pagar qualquer formação. Outros perderam as suas casas porque não as podiam pagar", conta. "Estamos muito mal".

E enquanto a crise na Guiné-Bissau não se resolve, Bernardino Santos Manu e os seus colegas dos Correios vão continuar a ir trabalhar todos os dias. Dizem que é esse o seu dever.


Conosaba/DW/MO

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