[REPORTAGEM] O Hospital ‘Solidariedade’ de Bolama tem um único Médico para fazer a cobertura de uma população estimada em 11.352 (onze mil trezentos cinquenta e dois) habitantes. Atualmente, esta cidade histórica da Guiné-Bissau não possui uma vedeta-ambulância própria para o transporte de doentes, em caso de necessidade.
O hospital tem apenas um médico e conta com sete (7) Enfermeiros [dois com curso superior e cinco com o curso geral], uma (1) parteira, quatro (4) serventes [dois efetivos e dois a contrato].
Como é óbvio, qualquer instituição necessita de estar segura e transmitir segurança aos utentes. O Hospital de Bolama não foge às regras do jogo, tendo nas suas instalações dois seguranças : um trabalha durante o dia e outro no período da noite, de uma forma rotativa.
Um centro hospitalar dispões de 40 (quarenta) camas de internamento, tem dois (2) técnicos de laboratório, um com idade para reforma. Mas dada às necessidades, presta apoio pontual ao jovem que ocupa dos serviços laboratoriais do hospital.
Bolama dista a 16 (dezasseis) milhas, equivalente a 28,8 km [vinte e oito quilómetros e oitocentos metros] de Bissau. É parte da região com o mesmo nome, localizada na ilha homónima. Sucedeu ao antigo concelho criado em 1871 pelos portugueses. Vila capital da antiga Guiné-Portuguesa desde 1879, foi elevada à categoria de cidade em 1913, conservando-se como capital até 9 de dezembro de 1941. É onde fica o Palácio do Governador de Bolama, numa arquitetura antiga que remonta as épocas da ocupação estrangeira.
O palácio de Bolama espelha a mesma arquitetura, como a Casa Branca nos Estados Unidos da América (EUA). Esta cidade histórica guineense teve um outro grande e importante cruzamento histórico com os EUA, quando o então Presidente de Estados Unidos da América do Norte, atual Estados Unidos da América, Ulysses Grant, mediou a causa de Bolama no dia 21 de abril de 1870, num litígio que opôs Portugal, na altura potencia colonial ocupante da então Guiné-Portuguesa e o Reino Unido. Ambos países reclamavam a posse da cidade de Bolama.
Na altura, os colonos portugueses consideraram que Grant foi um justo árbitro, dando razão a parte portuguesa. Essa decisão histórica completará 147 anos no próximo dia 21 de abril de 2017.
Bolama está a precisar de uma profunda intervenção do Estado guineense. A prova disso são os edifícios da era colonial que poderiam ser úteis para o Estado, mas estão atualmente numa situação de ruina total. Por exemplo, a estátua de Ulysses Grant que simbolizava o papel desempenhado na causa de Bolama pelo então líder norte-americano, desapareceu e até hoje ninguém sabe precisar o seu paradeiro. Em Bolama existem edifícios ainda intatos, mas que precisam de uma boa intervenção para revitalizar a cidade de Bolama.
Voltando ao hospital, ela tem diferentes serviços, tais como: medicina, pequena cirurgia, pediatria, nutrição e serviços da Direção Regional de Saúde de Bolama. Apesar das dificuldades, o centro hospitalar funciona com alguma normalidade.
ONG “AIDA” MINIMIZA DIFICULDADES DO HOSPITAL DE BOLAMA
A organização não-governamental espanhola AIDA – ‘Ayuda, Intercambio y Desarrollo’, em português [Ajuda, Intercâmbio e Desenvolvimento], minimiza em parte as dificuldades do Hospital. A AIDA, no âmbito de um acordo, facilita no transporte dos doentes, cujos casos clínicos exigem uma evacuação.
A ONG espanhola disponibiliza meios para alugar vedetas que transportam os doentes para Bissau. Em Bissau, a mesma organização providência ambulâncias que levam os pacientes para o Hospital Nacional ‘Simão Mendes’, o maior centro hospitalar do país. Já no hospital, a AIDA assume todas as despesas. Tudo isso, levou ao Diretor Regional de Saúde de Bolama, Pio Tavares, a considerar que a sua instituição já ultrapassou as dificuldades desta ordem.
Está em curso um projeto do governo da Guiné-Bissau com seus parceiros de desenvolvimento com vista a colocar uma vedeta-ambulância rápida na Ilha de Bolama, para facilitar na evacuação dos doentes.
AIDA oferece regularmente medicamentos ao hospital ‘Solidariedade’ de Bolama destinados aos carenciados e doentes crónicos. No hospital de Bolama é possível realizar pequenas cirurgias como a laceração, feridas e pequenos acidentes. Os casos mais graves remetem-se a evacuação para o Hospital Nacional ‘Simão Mendes’.
De acordo com o Pio Tavares, a população local procura sempre os serviços de saúde, salientando que há períodos em que se regista mais procura, sobretudo na época da chuva, devido aos mosquitos que provocam a malária, considerado como o caso mais frequente.
“Neste momento, se entrarmos na enfermaria, vamos encontrar muitas camas vazias, dado que já não há águas paradas, fontes de reprodução de mosquitos. Estamos na época da seca, as doenças reduziram-se bastante”, contou ao jornal O Democrata.
De referir que a área sanitária da Direção regional estende-se de Bolama a São João. São João tem duas estruturas sanitárias, Gã-Martins e Gã-Toghó. O Hospital Solidariedade de Bolama também tem internamente duas estruturas, o Centro Sanitário Watá e o da Ilha das Galinhas.
HOSPITAL DE BOLAMA CARECE DE PESSOAL TÉCNICO PARA COBRIR OS SERVIÇOS OFERECIDOS
O Diretor regional da saúde e igualmente diretor clínico do hospital de Bolama, Pio Tavares, disse em entrevista exclusiva aos repórteres do semanário ‘O Democrata’ que ele, enquanto delegado regional da saúde, é o único médico daquele estabelecimento sanitário. Mas que também ocupa-se das funções de Diretor Clínico, auxiliado por dois enfermeiros de curso superior e cinco de curso geral, bem como dois técnicos de laboratório e mais uma parteira.
Sublinhou neste particular que o número de profissionais de saúde afeto àquele estabelecimento hospitalar é insuficiente, relativamente às demandas da população, sobretudo na época das chuvas.
“Esse número de técnicos de saúde é insuficiente. Sou o único médico, e sou o Diretor regional de Saúde. Quando me chamam de repente para um encontro, seminário ou reunião em Bissau, o hospital fica despido de médico”, assegurou, que ainda avançou que já apresentaram a preocupação ao titular do pelouro da Saúde Pública.
Este responsável sanitário mostrou-se confiante que o ministério vai em breve resolver o problema, tendo adiantado que o ministro está ciente das necessidades do hospital, e em particular da falta de pessoal.
Em relação aos medicamentos para os pacientes, o diretor clínico disse que essa questão não constitui um grande problema, porque o “hospital recebe apoios em medicamentos da parte de algumas organizações nacionais e internacionais que intervêm nessa área, sobretudo a ONG – AIDA, que oferece medicamentos gratuitos para as pessoas carenciadas”.
Relativamente aos meios de transportes para a evacuação dos doentes das outras ilhas para o tratamento médico naquele hospital regional (Bolama), revelou ao semanário ‘O Democrata’ que não dispõem de nenhuma viatura de momento para transportar os doentes a nível da própria cidade de Bolama.
Acrescentou que a ambulância do hospital está com uma avaria técnica, pelo que recorrem sempre à viatura (dupla cabine) da direção regional da saúde para transportar doentes de alguns pontos da cidade de Bolama para o hospital. Ao contrário daquilo que acontece nas outras zonas de país e principalmente nessa altura, onde se regista número elevados de casos de anemia, o número de doentes com os casos de anemia na região de Bolama é muito baixo. Um facto que, segundo o diretor clínico, tem a ver com a abundância dos mariscos naquela região.
DIARREIA E INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS SÃO DOENÇAS MAIS FREQUENTES
Interrogado sobre as doenças mais frequentes na região, explicou que, para além do paludismo, as doenças mais frequentes na região são: a diarreia, infecções respiratórias agudas, a pneumonia e casos ligados à hipertensão arterial.
Solicitado a pronunciar-se sobre a origem dos casos da diarreia e da hipertensão na região, assegurou que no caso da hipertensão é uma doença crónica que vai por toda vida. Quanto à diarreia, notou que se pode concluir que esteja ligada à qualidade de água e dos alimentos consumidos.
“Fizemos a sensibilização das pessoas sobre os cuidados básicos sanitários. Conseguimos chegar, ou seja, atingir um grande número da população através de agentes de saúde comunitária (ASC), que consideramos como os pilares básicos ou multiplicadores de informação junto às comunidades. Foram capacitados com apoio da UNICEF. Lidam essencialmente com casos ligeiros e casos mais delicados que são tratados ao nível do hospital regional”, contou.
Assegurou que os doentes recorrem sempre ao hospital para o tratamento e particularmente no período em que paludismo é notável. Frisou que nos últimos tempos número de doentes reduziu-se bastante e o serviço de internamento está quase vazio.
Relativamente à falta de pessoal para cobrir todos os serviços oferecidos pelo hospital, o diretor clínico assegurou que o hospital tem falta de pessoal suficiente para cobrir todos os serviços oferecidos.
“Temos falta de pessoal. À margem da ‘Presidência Aberta’ de José Mário Vaz, reunimo-nos com o Ministro da Saúde Pública, Carlitos Barai. Informou-nos que houve atraso na colocação de técnicos devido a alguns arranjos na Função Pública. Neste momento, sou o único médico clínico e ao mesmo tempo diretor regional do hospital”.
Questionado sobre o nível de desnutridos em Bolama, Pio Tavares afirmou que é um caso muito raro, ou melhor, é difícil registar casos de desnutrição em Bolama.
“Temos esse serviço, mas só por precaução. Desde a minha chegada em julho de 2016, nunca recebi um único caso ligado à desnutrição. Temos materiais como toesa (um instrumento utilizado para medir a altura dos menores com problemas de desnutrição) e medicamentos para as crianças desnutridas. A doença é rara, porque a população local está bem segura em termos de alimentação comparativamente à região de Gabú, onde a doença é frequente”, observou.
Avançou neste particular que a população de Bolama alimenta-se suficientemente de mariscos, porque está rodeada de mar e o nível da hemoglobina é muito aceitável.
BOLAMA TEM A TAXA DE PREVALÊNCIA DE CINCO POR CENTO DO VIH/SIDA
Relativamente aos casos da prevalência de vírus da sida e de tuberculose na região, explicou que as referidas doenças têm uma prevalência muito baixa.
Segundo dados avançados pelo próprio diretor clínico, o nível de prevalência de vírus de VIH/Sida é de cinco (05) por cento, um número insignificante em comparação com outras regiões do país.
Sustentou no entanto que a escolarização da população tem contribuído muito para a baixa taxa de prevalência dessas patologias e contribuiu também para a mudança de comportamento, dado que registou-se uma adesão notável ao planeamento familiar e os jovens recorrem ao uso dos métodos de prevenção de doenças.
Recorde-se que, Bolama foi a primeira capital do país, na então Guiné-Portuguesa, de 1913 a 1941, mas atualmente tornou-se numa cidade que precisa de tudo, desde meios de transportes adequados e seguros aos centros de formação. Bolama foi referência quando se falava de escolas de formação. Os bolamenses aproveitaram a ‘presidência-aberta’ do Presidente da República, José Mário Vaz, para exigir a melhoria de condições no setor hospitalar da região de Bolama.
Por: Alcene Sidibé/Sene Camará/ Filomeno Sambú
Fotos: SC
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