Fonte: gbissau.com
É verdade que ainda me recordo da formação político-ideológica dos tempos do partido único no país, onde os termos: unidade/união/viva/camarada, assim como outras expressões do gênero unidade e luta/no-uni-no-mama pa no Terra/nha ermon/união faz a força etc, faziam parte dos vocabulários mais utilizados na comunicação quotidiana entre guineenses.
Por Adulai Djaló “Lai” (Canadá) | wyado@hotmail.com
Uma vez isolada o factor influência ideológica socialista daqueles tempos, esses termos e expressões tinham algum sentido no imaginário do guineense transcendendo o sentimento patriótico de pertença identitária para as faixas etárias.
Já nos primordios da independência (periodo de 1973-1979), o partido libertador tem mostrado sinais de incapacidade na captação de apoios tanto externo como da população guineense com o objetivo de usá-los como factores inquestionáveis da reconstrução. O governo de então tem apostado em decisões económicas improvisadas sem visão global de médio e longo termos. O clima reinante era de ódio, de ajuste de contas entre colegas/irmãos da mesma trincheira sem poupar vida aos irmãos/colegas (milícias, soldados e comandos africanos) que prestaram serviço obrigatório ao exercito colonial português.
Quando o governo do PAIGC desencadeou de forma subtil maneiras de usar e instrumentalizar o seu braço juvenil – Juventude Africana Amilcar Cabral (JAAC), o verde das esperanças tornara cada vez mais cinzento e o céu da Guiné-Bissau cada vez menos azul.
Foi assim, pouco a pouco que as contradições vistas como banais se agudizaram até culminar com o golpe de Estado de 1980. Passados os períodos de euforia 14 de novembro, vieram a fase de prisões arbitrárias e de fuzilamentos selectivo-sumários de cidadãos inocentes com a colaboração e a bênção dos maiores traidores da história do povo guineense.
De 1980 a 1998, passados dezoito anos, os malentendidos e divisões internas com ajuste de contas ainda no seio do PAIGC não foram sanados, razões pelas quais deram origem a uma guerra civil fútil com perdas materiais e humanas. Isso forçou o povo guineense a abandonar suas residências em Bissau e arredores a procura do abrigo onde fosse possível, tanto no territorio nacional como no estrangeiro. Perdas humanas, materiais e destruição de parcas infraestruturas existentes assim como estagnação económica sem precedente, constitui o balanço desse período – a odiosa “guerra de 7 de junho”, também baptizado por “guerra de junta”.
Estamos em 2016, portanto, dezoito anos repetidos após a fatadícia “guerra de 7 de junho”, parece cabalístico, continuamos a ser surpreendidos por conflitos de caris interpessoais no seio do PAIGC. Desta vez, tais conflitos do tipo combate de galos (muito popular em Martinica) atingiu proporções desmedidas afectando todas as instituições do Estado guineense. Estamos vivendo o período caraterizado de múltiplos encontros de mediação no solo guineense e além fronteiras, onde a palavra diálogo/consenso dominam o discurso dos actores/intervenientes na crise e, também, onde o discurso privado e o público dos protagonistas parece desarticulado com os sagrados anseios do povo guineense.
Sem falar de consequências político-sociais imprevisíveis que essa instabilidade político-institucional no país poderá acarretar, estamos vivenciando já algumas tragédias em termos de perda de vidas humanas pela precariedade alimentar e pelo nível deficiente de serviços de saúde sem falar do baixo nível do ensino e de serviços de educação como um todo (o pilar e o futuro duma Nação).
Resumindo, em termos de autodestruição assistida entre 1973-2016 temos o seguinte:
- conflitos fúteis possíveis de apaziguar por diálogo franco e honesto;
- ódio, traição, intolerância, hipocresia, arrogância e demasiado “apetite” pelo poder;
- guerra e desinteresse pela vida humana;
- insensibilidade face a miséria que assola o país
- o povo guineense passou do estágio da pobreza para a miséria
- perda gradual de autoestima do cidadão guineense
- deterioração de qualidade de relacionamento entre NÓS
Quer queiramos quer não, a nossa soberania política parece não ser capaz de dar respostas as questões legítimas de um povo cuja independência custou suor e sangue dos filhos da Guiné.
A independência política sem a procura para a autogestão dos recursos (humanos e materiais) o país não se alavanca rumo a independência econômica, e muito menos sonha com a prosperidade. Triste é de constatar o futuro nebuloso para a sociedade guineense presente e para a geração vindoura.
No plano económico houve muita derrapagem e tomada de decisão puramente populista e improvisada, isso foi fatal. Projectos implementados no país sem enquadramento e visão de médio e longo termos. Por exemplo (1973-1979): com a fraca produção de mancarra (amendoin) no país, a matéria prima para a produção de óleo vegetal usado na alimentação e, também, para a produção de margarina, não justificava a instalação do Complexo Industrial de Cumeré (alguém sabe dizer onde se encontra essa fábrica neste momento?); a fábrica Titina Silá de Bolama foi também um fiasco. Para que serviu a montagem da oficina volvo e fábrica de montagem de veículo Nhae em Bissau? Não seria melhor um ou mais mini complexos agroindustriais?
A Constituição de 1994 trouxe o modernismo político para a Guiné-Bissau, país que até então era governo por um partido único, o PAIGC, com a admissibilidade do multipartidarismo. Com isso e no quadro do programa de ajustamento estrutural foi desenbolsado muito dinheiro para investir e ajudar no arranque económico em projectos de infraestruturas e outros. Em que pese esta vultuosa ajuda e a má gestão de recursos financeiros o país se endividou por roubalheiras institucionalizada e quase todo o recurso foi proveniente de ajuda externa e parte significativo do mesmo desviado parar contas alheias.
Como se não bastasse, apesar do país ter se beneficiado de perdão da dívida, o governo continuou sendo incapaz de estabilizar o servico da dívida, a gestão do serviço da dívida atual é caótica e vergonhosa. É inconcebível que até hoje a Guiné-Bissau continua de joelhos a pedir injecção de fundos astronômicos para projectos populistas.
Apesar da nossa grande e rica bacia hídrica, continuamos sem barragem eléctrica e consequentemente, sem autonomia energética para sustentar a industrialisação do país. Muita irresponsabilidade e brincadeira de mau gosto na gestão de coisa pública.
Os sucessivos governantes têm tido facilidades para contrair fundos de empréstimos e esses fundos nunca foram aplicados nos sectores produtores de riqueza. A situação actual se justifica pelo comportamento repudiande de desvio de dinheiro público, endividando cada guineense e a futura geração por contas de roubalheiras e de implementações de projectos megalómanos sem grandes perspectivas para o país.
A desonestidade soma a insucessos na gestão do destino do país pelos pseudo-políticos falhados. Aceitamos e assistimos passivamente as manipulações com o objectivo de nos dividir, nos enfraquecer e nos convencer que não somos capazes de assumir o nosso destino e de contribuir para o bem estar da população do país e da nossa geração vindoura.
Nenhum homem sozinho pode destruir ou construir algo, que fará um pais.
Ganhamos todos ou ninguém celebra vitória!
Sejamos trabalhadores e indulgentes, antes que seja demasiado tarde, para que os proximos dezoito anos sejam de prosperidade, de paz e de hermonia entre guineenses!…
Adulai Djalo – Lai (Canadá)Montréal 06 de dezembro de 2016
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