«POLÍTICA» GUINÉ-BISSAU: 'CRISE POLÍTICA NÃO TEM SÓ UM RESPONSÁVEL', DIZ RAMOS HORTA



O ex-representante da ONU para a Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, defendeu que "o imbróglio político" naquele país não tem só um responsável e instou à procura do diálogo, saudando "o papel muito positivo" das Forças Armadas, à margem da crise.

Lisboa, 07 jul (Lusa) - O ex-representante da ONU para a Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, defendeu hoje que "o imbróglio político" naquele país não tem só um responsável e instou à procura do diálogo, saudando "o papel muito positivo" das Forças Armadas, à margem da crise. 

Ramos-Horta foi recebido hoje, em audiência, pelo Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, com quem abordou a situação na Guiné-Bissau, onde a falta de entendimento político fez com que nos últimos 11 meses o país já tenha tido quatro governos, o último dos quais empossado no início deste mês. 

No final do encontro, Ramos-Horta referiu que "há uma crise política, é óbvio, o país está meio paralisado, mas não há guerra, não é necessário dramatizarmos". 

Perante o "imbróglio" que atravessa a Guiné-Bissau, não é possível responsabilizar apenas uma parte, considerou o antigo Presidente timorense, em declarações aos jornalistas no Palácio de Belém. 

Ramos-Horta destacou o "papel muito positivo das Forças Armadas, que continuam nas casernas sem interferir". 

"Sempre que houve algo negativo feito pelo exército, no passado, criticávamos e eram sancionados. Nos últimos dois anos, têm-se comportado admiravelmente. É preciso registar, para os encorajar a manter-se nos quartéis, sem interferir na crise política", sublinhou. 

O antigo representante do secretário-geral das Nações Unidas para a Guiné-Bissau recomendou que não se desista dos esforços para "levar as partes envolvidas na Guiné-Bissau ao diálogo". 

"Sabemos que não é fácil, é preciso muita paciência de quem gere a situação", admitiu, apontando também que os políticos guineenses têm de compreender que "há muitas outras preocupações e prioridades da comunidade internacional, e correm o risco de a Guiné-Bissau ser penalizada pela não resolução desse imbróglio político". 

Questionado sobre o papel do Presidente guineense, José Mário Vaz, nesta crise, Ramos-Hortaconsiderou que, nas circunstâncias atuais, "deve ser sobretudo o aconselhador, o pai da Nação, deve reunir toda a grande família guineense". 

Ramos-Horta referiu que o responsável guineense - que se encontra em Portugal em visita privada -, já ouviu os partidos políticos e a sociedade civil na Guiné-Bissau, mas também os parceiros no âmbito de organizações internacionais como a ONU, a CEDEAO, a União Africana, a CPLP, e encontrou-se ainda com "o grande mestre, o grande professor Marcelo Rebelo de Sousa", pelo que poderá regressar ao seu país "mais inspirado, mais encorajado a reativar o diálogo e a encontrar uma solução". 

O ex-Presidente timorense referiu que "é possível que o Presidente repense toda a situação e encontre uma saída", afirmando acreditar que há solução para a crise atual. 

"A grande qualidade da Guiné-Bissau é que não há guerra, não há conflito étnico-religioso, não é o que se passa no Sudão do Sul ou Burundi", defendeu. 

Ramos-Horta deixou, no entanto, um alerta: "É preciso não esgotar a paciência do povo. Esse povo muito pacífico também pode perder a paciência". 

Por outro lado, advertiu, "a contínua instabilidade do país pode ser aproveitada pelo crime organizado de toda a espécie, incluindo grupos extremistas, ideológicos ou religiosos". 

Ramos-Horta, que deixou as funções na ONU há mais de um ano, revelou que continua a ser consultado pela organização sobre a situação na Guiné-Bissau e ainda no mês passado transmitiu a sua opinião aos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas. 

Conosaba/MO

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