“O Democrata” apurou que o famoso “tabaco pilado” usado pelas raparigas para “tratamento de infecções e estimular prazer sexual ao parceiro” apenas custa 100 francos CFA.
O tabaco em forma de farinha e geralmente é vendido por mulheres mais velhas. Antes, esse produto era consumido por idosos, mas actualmente é usado pelas raparigas para essas novas finalidades.
Uma das vítimas contactada pela repórter do Jornal “O Democrata” e que pediu anonimato, confirmou que já usou “tabaco pilado” por influência de uma colega sua, porque “aquilo ajuda no tratamento de infecções”.
“Usei tabaco, mas não fez efeito nenhum e só me causou mais dores e infecções. Resolvi procurar um centro de saúde e graças ao tratamento dos técnicos, consegui ultrapassar as dores”, contou a vítima.
Os especialistas de saúde ouvidos pela repórter de “O Democrata” foram unânimes em não reconhecer esse novo método de tratamento de infecções. Adiantaram ainda que nem a medicina moderna, nem a tradicional recomendam este tipo de tratamento, e apelaram às raparigas para deixarem esta prática que consideram de perigosa para a saúde.
A repórter apurou, neste particular, que a camada juvenil guineense, em particular as raparigas que são consideradas de “agentes activas” em termos de saúde sexual reprodutiva, carecem de informação de como usar ou fazer a escolha dos métodos anticoncepcionais ideais.
Para os técnicos de saúde contactados, os métodos anticoncepcionais mais usados pelas raparigas guineenses são: diu (anilha), jadel (usado nos braços – capitão de equipa), depro (injecção), pílula e os preservativos.
GENECOLOGISTA: MEDICINA NÃO RECOMENDA USO DE “TABACO PILADO” PARA TRATAMENTO DE INFECÇÕES SEXUAIS
David Bedansanta Indami, jovem ginecologista que trabalha no Hospital Militar Principal, disse na entrevista que não existe nenhuma literatura onde esteja escrito que o uso de farinha de tabaco é um remédio para tratamento das infecções sexualmente transmissíveis ou que serve para dar mais prazer durante o acto sexual.
Assegurou ainda que o uso de erva moida, como a farinha de tabaco por exemplo, não é aconselhável para corpo de um ser humano, por isso apelou todas às pessoas que estão a usar estes métodos no sentido de pararem, porque não é recomendável nem na medicina tradicional e muito menos na medicina moderna.
Relativamente ao uso de métodos anticoncepcionais tradicionais conhecidos, Indami considera que o método mais eficaz que aconselharia aos jovens, é usar o preservativo, que segundo ele, protege da gravidez precoce e de doenças sexualmente transmissíveis.
Explicou ainda que um dos métodos mais usados pelas mulheres é o aparelho “diu” ou jadel, que ajudam apenas a mulher proteger-se e uma gravidez indesejada. Contudo, sustentou que mesmo com o uso destes últimos métodos a mulher pode ficar grávida, se não tomar os cuidados necessários, sobretudo o controlo médico.
“Os dois métodos anticoncepcionais têm os períodos de uso limitados, que são de cinco anos. Se se ultrapassar este período, já não serve para protecção, por isso o aparelho deve ser trocado. Porém, é aconselhável que as mulheres que usam esses métodos frequentem sempre os hospitais para o controlo médico, a fim de se verificar se tudo está bem. Este método não evita infecções sexualmente transmissíveis, por isso é que se considera o preservativo de método mais eficaz. Aconselho os jovens que o usem”, precisou.
O especialista reconheceu que os próprios profissionais de saúde não fazem os seus trabalhos de ajudar na informação e sensibilização das populações sobre o uso dos métodos anticoncepcionais, sobretudo as suas vantagens e desvantagens.
SADNA NA BITÁM: CIDADÃOS TÊM DIREITO À INFORMAÇÃO SOBRE SAÚDE SEXUAL REPRODUTIVA
O director de Programação da Associação Guineense para o Bem-Estar e Família (AGUIBEF), Sadna Na Bitám, disse na sua declaração que a Guiné-Bissau não atingiu o quarto ponto do índice do desenvolvimento de milénio, que é a redução da mortalidade infantil, mas também o quinto ponto, que fala da redução de mortalidade materna, por falta de trabalho que devia ser feito no domínio de saúde sexual reprodutiva.
Explicou ainda que a saúde sexual reprodutiva é a forma como cada pessoa desfruta uma vida sexual satisfatória, sem riscos e com a liberdade de decidir o número exacto de filhos e quando é que pretende tê-los.
Acrescentou que o direito sexual reprodutivo é um dos factores importantes que dá direito à qualquer pessoa de ter acesso a informação sobre a sexualidade e os métodos de planeamento familiar que podem permitir-lhe ter filhos quando quiser.
Sadna Na Bitám asseverou que a saúde sexual reprodutiva é um assunto que os pais não falam com os seus filhos e os seus educandos. Afirmou ainda que, no entendimento de alguns pais, falar da saúde sexual reprodutiva com as filhas significa incentivá‐las a fazer sexo.
“Mas na verdade não é isso. Ao chegar à fase da puberdade, a pessoa sente essa necessidade biológica. Por isso, todos têm direito à informação, sobretudo para saber porque sou homem e porque sou mulher”, vincou.
Lembrou neste particular que o planeamento familiar é um factor de grande relevância, devido à sua importância para o país, porque “ajuda no desenvolvimento da economia, na protecção do meio ambiente, na educação, na redução da mortalidade materna e infantil, evita a transmissão de infecções sexualmente transmissíveis e ajuda em todos factores que podem prevenir um mal-estar no desenvolvimento”.
Revelou ainda que o índice da mortalidade materna na Guiné-Bissau, num passado recente era de 900/100.000, tendo sustentado que as mortes estão ligadas a complicações durante a gravidez e durante o parto, facto que lamentou muito, porque entende que as mulheres guineenses não merecem isso.
O clínico David Bedansanta Indami, médico clinico geral do hospital Militar Principal especializado em ginecologia e obstetrícia, afirma que todos os métodos anticoncepcionais têm vantagens e desvantagens. Relativamente às vantagens, em primeiro protegem a pessoa de não ter uma gravidez indesejável, protegem de infecções sexualmente transmissíveis, ajudam na regularização do período menstrual, entre outras.
As desvantagens dos métodos anticoncepcionais e sobretudo da mais usada na Guiné-Bissau que é o diu ou a anilha, também chamado de dispositivo intra-uterino, explicou que o uso deste apenas ajuda a pessoa à não engravidar se a pessoa cumprir com as regras de controlo médico, mas não a protege de infecções sexualmente transmissíveis. Recomenda o uso do preservativo que considera como o método mais eficaz na prevenção da gravidez e das infecções sexualmente transmissíveis.
Relativamente ao uso de “tabaco pilado” para tratamento de infecções e para dar o prazer sexual ao parceiro, disse que desconhece deste tipo de tratamento, cientificamente.
No entanto, admitiu que apenas ouve boatos de pessoas a falar de uso de tabaco, na forma de farinha, para ressecar a vagina. Acrescentou ainda que não quer falar do assunto, razão pela qual abordou apenas a matéria de saúde sexual reprodutiva que conhece muito bem.
“As raparigas devem deixar o uso de tabaco para tratamento, porque o tabaco pode prejudicar‐lhes a saúde. Devem procurar os centros de saúde ou a AGUIBEF para pedir informações sobre saúde sexual reprodutiva, sobretudo para conhecer os métodos anticoncepcionais e saber as suas vantagens e desvantagens”, precisou.
Por: Aissato Só
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