GUINÉ-BISSAU: CONFISSÃO DE UM EX-ALTO DIRIGENTE DO PAIGC NUMA ENTREVISTA AO JORNAL DIÁRIO DE BISSAU



“No passado, bateram palmas aos fuzilamentos acordados por um tribunal militar; ontem batem palmas à expulsão de camaradas decidida por acórdão de um tribunal partidário; ontem, ficaram todos caladinhos perante assassinatos de camaradas em nome (sempre) de uma estabilidade perversa. A nossa memória é mesmo muito curta” – Fernando Delfim da Silva

É mais uma desgraça política que se está a configurar. Só falta saber a dimensão das suas consequências – dentro e fora do PAIGC. Mas para quem realmente viveu a história do PAIGC, esta crise é apenas “mais uma” crise, mas não no sentido fraco do termo, como se fosse uma pequena constipação que “juridicamente” se vai curar, voltando tudo à normalidade como se, antes, nada tivesse acontecido. É mais uma crise, sim, mas não é propriamente uma crise passageira. Ela é acumulativa.


Em 1986, mataram Paulo Correia e mataram vários outros camaradas nossos, em nome da estabilidade politica, lembram-se? Sem que tivessem cometido um único crime. Na altura, todos gritavam e batiam palmas: “mata e esfola”. E quando um tribunal pediu a pena de morte para os principais acusados, todos aplaudiram as execuções. Só duas ou três vozes – só duas ou três pessoas em toda a direcção do PAIGC – timidamente pediram, aliás, em vão: “não façam isso”! Mataram para garantir estabilidade política, sem nenhum crime que justificasse um tal desfecho. Até hoje estamos a pagar por isso.

Foi quando começou a cheirar dinheiro dentro do partido, naquele tempo de negócios, quando todos exigiam ao Chefe que garantisse a “estabilidade”. Porque o “país estabilizado” – dizia-se então – iria brevemente “arrancar” para o desenvolvimento! Tudo falso. Foi uma estabilidade mais para se safar, do que para safar a Guiné-Bissau. Uma estabilidade perversa, sem legitimidade. Enfim, no passado, bateram palmas aos fuzilamentos acordados por um tribunal militar; hoje batem palmas à expulsão de camaradas decidida por acórdão de um tribunal partidário; ontem, ficaram todos caladinhos perante assassinatos de camaradas em nome (sempre) de uma estabilidade perversa. A nossa memória é mesmo muito curta.

“O PAIGC perde grande parte do seu tempo a discutir apenas estabilidade, sem discutir a sua própria unidade”. “O verdadeiro problema do PAIGC é político, ideológico e não propriamente programático”.

“Saindo Carlos Correia pelo seu próprio pé, o nível de tensão política cairia rápida e significativamente, e essa alteração positiva do clima político daria um incentivo aos protagonistas para explorarem sincera e empenhadamente a via do diálogo”.

“Carlos Correia como um protagonista (primeiro-ministro) não está a protagonizar rigorosamente nada”“O líder do PAIGC e o primeiro-ministro não podem fazer de conta que tudo o que está a acontecer nada tem a ver com eles”. Citado pelo Jornal Diário de Bissau 

tchogue.blogspot.pt/Conosaba

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