(Foto: Marcos Borga) |
Kirina Gama chegou a Portugal há 17 anos, fugida de uma guerra civil acabada de estalar. Agora, ajuda no acolhimento aos refugiados sírios.
"Nós não vimos porque queremos. Estamos a fugir de uma guerra", sublinha Kirina Gama, uma guineense de 38 anos e a viver em Portugal há 17 anos. Com as memórias e as dificuldades de integração bem presentes, Kirina aderiu de imediato ao apelo da Plataforma de Apoio aos Refugiados para se oferecer como voluntária, neste projecto da sociedade civil que está a preparar e a coordenar a chegada de refugiados sírios. Hoje, está casada, tem dois filhos e já pediu, inclusive a dupla nacionalidade. "Não esqueço o país que me acolheu. Mas também adoro o país onde cresci e um dia mais tarde, quero voltar para lá", conta.
Sempre que passam as imagens na televisão dos sírios, esta guineense recorda-se bem do que significa ser refugiado e a sensação de chegar a um país estranho. "A minha casa foi atingida ao segundo dia da guerra. A minha mãe ficou gravemente ferida e a minha avó, foi à embaixada pedir ajuda para ela ser transferida para Lisboa", recorda. Cinco dias depois, Kirina e a mãe estavam a entrar no último barco enviado pelo governo português para resgatar os portugueses que tinham sido apanhados no meio do conflito. "A minha mãe seguiu de helicóptero para o barco, eu corri de chinelos nos pés para fugir das bombas que caíam entre Bissau e o porto, onde estava atracada a fragata Vasco da Gama.
Dali seguiram até Cabo Verde, onde apanharam o avião até Lisboa. Kirina
era a única passageira sem visto e na fronteira foi barrada pelo
funcionário do SEF. A mãe, pelos ferimentos, conseguira um visto para
ser de imediato hospitalizada em Lisboa. Valeu-lhe a compreensão do
inspector que estava de serviço. No entanto, recorda as dificuldades.
Foi viver com a avó e os primos para Cascais, onde a adaptação foi tudo
menos fácil. "Os portugueses são muito hospitaleiros mas fui também
discriminada muitas vezes. No comboio, era frequente ouvir falar na
minha cor de pele e mandarem-me para a minha terra. Recordo um dia que
fui visitar a minha mãe ao hospital e vi uma bandeira enorme a dizer:
aqui não é a arca de Noé. Falava crioulo mas também português,
compreendi muito bem o que estava ali escrito", recorda.
Com o 11º ano feito na Guiné Bissau, Kirina diz ter aproveitado os momentos em que se sentiu rejeitada como uma prova a ultrapassar. Diz até perceber o medo e a desconfiança das pessoas nestes casos. Mas, aproveitou as oportunidades e procurou integrar-se. Com a ajuda de um padre dos Maristas e uma "madrinha" que entretanto a conheceu, conseguiu trabalhar e prosseguir os estudos.
Com o 11º ano feito na Guiné Bissau, Kirina diz ter aproveitado os momentos em que se sentiu rejeitada como uma prova a ultrapassar. Diz até perceber o medo e a desconfiança das pessoas nestes casos. Mas, aproveitou as oportunidades e procurou integrar-se. Com a ajuda de um padre dos Maristas e uma "madrinha" que entretanto a conheceu, conseguiu trabalhar e prosseguir os estudos.
Formou-se em Psicologia Social tem trabalho na Câmara Municipal de
Cascais, num projecto desenvolvido em parceria com o Alto Comissariado
para as Migrações, de Mediação Intercultural. A mãe, mesmo com um braço
sem movimento, arranjou trabalho. Kirina faz questão de sublinhar que
nunca viveram de subsídios, nem sequer do abono de família. Está a
tratar da dupla nacionalidade em Portugal, mas sonha um dia voltar à sua
terra natal. Dezassete anos depois, arregaça as mangas para acolher
quem, como ela, anda de terra em terra a fugir de uma guerra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário