Costureira Irmã Ivone: UMA DEFICIENTE QUE APOSTA NO SABER ACADÉMICO E TÉCNICO PROFISSIONAL PARA VENCER O COMPLEXO


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Uma equipa do semanário “O Democrata” deslocou-se este fim-de-semana ao centro de São Paulo, no bairro com o mesmo nome (periferia da cidade de Bissau). O objetivo era visitar a “Escola de Corte e Costura” sob gestão da irmã Ivone Gomes. A costureira e responsável da escola é considerada como um exemplo, dado que é uma deficiente que apostou no saber académico e na formação técnico profissional para ganhar a batalha contra o complexo e o mito de que o deficiente não tem condições para trabalhar.
A professora de corte e costura é uma deficiente desde os quatro anos de idade devido a uma injecção mal aplicada. A irmã Ivone não se rendeu a sua condição de deficiente e procurou o conhecimento académico e técnico profissional, em pé de igualdade com pessoas consideradas normais, para exercer as suas actividades diárias.
A escola de corte e costura já formou dezenas de pessoas, homens e mulheres que actualmente ganham a vida através no exercício a profissão de corte e costura. Para além de ensinar as pessoas corte e costura, a escola funciona como um centro de confecção de roupas tradicionais africanas.
“APRENDI FAZER ESTE TRABALHO DE CORTE COSTURA COM A MINHA TIA, EM CANCHUNGO”
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Aos quatorze anos de idade a irmã começou a dar ao pedal da máquina de costura com a sua tia em Canchungo, mas acabou por aperfeiçoar-se nesta área, na igreja “Nossa Senhora de Fátima”, graças aos apoios das duas senhoras, a Mana Miloca e a Luizinha. De acordo com ela, foram as pessoas que a ajudaram muito neste sentido.
Confessou que com a assistência destas duas senhoras, melhorou ainda mais o seu trabalho em termos de criação das modas através das novas tecnologias, ou seja, faz pesquisas na internet, visita diferentes redes sociais, nomeadamente o Youtube. A costureira avançou ainda que o centro confecciona diferentes estilos de roupas africanas e em particular modas para as meninas, que geralmente são as que mais procuram os seus produtos.
Ivone informou que os seus produtos são mais procurados pelos emigrantes, sobretudo os missionários da igreja católica que visitam o país, bem como as pessoas ligadas às organizações internacionais. Contudo, lamentou a fraca presença de nacionais na compra dos produtos africanos que são confeccionados pelos próprios guineenses.
“Os nossos produtos são feitos aqui mesmo e com tecidos africanos. Vendemos os produtos a um preço razoável, tendo em conta o nível de vida dos guineenses. Comparamos os nossos preços com os da concorrência e vimos que nas outras lojas se vendem mais carro em relação a nós”, notou a irmã que entretanto, avançou ainda que os guineenses preferem muitas vezes produtos provenientes do exterior e mesmo não tendo qualidade.
ROUPAS E BOLSAS CONFECCIONADAS COM TECIDOS AFRICANOS TÊM MAIOR RESISTÊNCIA E QUALIDADE
A costureira assegurou que as roupas e bolsas confeccionadas com tecidos africanos geralmente têm mais resistência e qualidade em relação aos vários produtos importados do exterior. Acrescentou ainda que as bolsas produzidas com tecidos africanos no seu centro apresentam mais resistência e uma qualidade muito superior a muitas bolsas que se vendem no país.
“A nossa situação é difícil. Às vezes as pessoas preferem comprar uma bolsa importada do exterior por 15 a 25 mil francos CFA, que na sua maioria não são resistentes. E aqui vendemos as bolsas entre 10 até 15 mil francos CFA (20 euros) e com uma maior qualidade e resistência”, lamentou.
Aproveitou a nossa reportagem para apelar a população guineense e em particular a camada juvenil no sentido de apostarem em usar os produtos nacionais, sobretudo no que concerne ao vestuário.
Assegurou que fazem todo o tipo de roupas e bolsas para as mulheres. Essas roupas e bolsas podem ser usadas em qualquer lugar. Esclareceu no entanto, que não trabalham para obter lucro. O dinheiro da venda dos produtos é remetido para a compra de produtos (matéria-prima) que usam nos seus trabalhos.
COSTUREIRAS DA ESCOLA TRABALHAM EM REGIME DE VOLUNTARIADO
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A irmã Ivone informou ainda que a escola que dirige tem cinco mulheres incluindo a própria e trabalham em regime de voluntariado. Contou que o objetivo da criação da escola de corte e costura é ajudar na luta contra a pobreza, através de formação das pessoas que fazem o tal trabalho como meio de ganhar a vida.
Explicou que os materiais usados na escola foram doados pelo Padre Dionísio Ferraro. Lembrou que uma emigrante espanhola que comprava sempre os seus produtos para ir revender na Europa, também lhes ofereceu alguns materiais de trabalho.
“Essa senhora espanhola passava aqui sempre para comprar os nossos produtos e levava-os para revender na Europa. Surpreendentemente apareceu um dia para nos oferecer os materiais. E disse-nos que adquiriu aqueles materiais com o dinheiro dos produtos que comprava aqui e juntou o dinheiro para comprar os materiais”, explicou.
A irmã Ivone disse que a escola não tem capacidade para confeccionar grandes quantidades de produtos para exportar, devido a dificuldades financeiras. Porém acrescentou que a escola, de momento conta com pessoas de capacidade e experiência para fazer grandes trabalhos, mas a maior dificuldade são os meios financeiros para adquirir os materiais necessários.
Recordou ainda que a escola foi convidada para um desfile de roupas africanas, tendo frisado que a ocasião serviu como uma oportunidade para exibir os seus produtos e as qualidades dos mesmos.
Anunciou que está a preparar-se para um outro desfile que será realizado pela associação de deficientes no próximo mês de Dezembro, no âmbito da Jornada Mundial de Deficientes.
“Este evento serve-nos de uma oportunidade enorme para demostrar aos guineenses aquilo que fazemos com todo o amor, não obstante algumas dificuldades em termos de meios e materiais de trabalho. Aqui produzimos roupas e bolsas que estão a ser usadas pelos bispos, tanto o Dom Camnaté como o bispo auxiliar Lampra Cá”, referiu a costureira.
Revelou que a escola está a trabalhar neste momento numa outra iniciativa que é de formar mulheres na área de transformação de frutas locais, designadamente sumo de fole, mango, limão entre outros.
“Trabalhamos aqui sem salários, quer dizer no regime de voluntariado. Os funcionários deste centro só conseguem dinheiro, quando fazem um trabalho particular por encomenda dos seus conhecidos. Permitimos isso, porque sabemos que elas também precisam de dinheiro para resolver as suas necessidades”, notou.
“SONHO TRANSFORMAR A ESCOLA NUMA EMPRESA DE PRODUÇÃO DE ROUPAS AFRICANAS”
A responsável da escola assegurou a nossa reportagem que o seu maior sonho é transformar, um dia a escola numa grande empresa de produção de roupas africanas para vender no mercado interno e externo. Contudo, mostrou que é necessário o apoio que lhe permita transformar o sonho em realidade.
“É preciso valorizar aquilo que é nosso, porque só assim é que podemos desenvolver a Guiné-Bissau e consequentemente fazer subir a nossa economia. Portanto, não há outro caminho para desenvolver o nosso país, se não, dar o devido valor ao que é nosso” rematou.
A irmã Ivone pediu às meninas para irem aprender este trabalho de corte e costura, bem como outros trabalhos, para não ficarem apenas na dependência dos homens, porque “homem e mulher são iguais, portanto devem ajudarem-se para melhor viverem”.
QUEM É IRMÃ IVONE?
A irmã Ivone nasceu a 1 de Março de 1972, em Bissau. Fez o ensino primário em Canchungo. E frequentou o ensino secundário e complementar na cidade de Bissau. Ivone é leiga consagrada da Comunidade de São Paulo. A figura de leiga consagrada é considerada como irmã, porque são pessoas que fazem o juramente de pobreza, castidade e obediência.
Irmã Ivone licenciou-se em economia na Universidade Lusófona da Guiné. Actualmente ocupa a função da Administradora da Estação emissora católica “Rádio Sol Mansi”, em Bissau.
Iniciou a prática de corte e costura aos 14 anos de idade, junto da sua tia em Canchungo. É responsável da Escola de Corte e Costura da Comunidade de São Paulo, como também ocupa a função de segundo vogal da Federação de Deficientes.


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