O ex-Presidente da República timorense José Ramos-Horta considerou ontem que “não há razão nenhuma” para o primeiro-ministro da Guiné-Bissau ser demitido, apelando ao chefe de Estado guineense para que seja uma força “conciliadora e de estabilidade” no país.
“Das informações que me chegam, e conheço intimamente a situação na Guiné-Bissau, não há razão nenhuma para que o primeiro-ministro Domingos Simões Pereira possa ser substituído”, afirmou, em entrevista à Lusa, o enviado especial do presidente da República de Timor-Leste para a Guiné-Bissau e Guiné Equatorial.
A possibilidade de o chefe de Estado demitir o executivo é admitida por fontes partidárias e diplomáticas ouvidas pela Lusa em Bissau, na sequência de dificuldades de relacionamento entre o Presidente, José Mário Vaz, e o primeiro-ministro.
O chefe de Estado iniciou na quarta-feira, como previsto na Constituição, uma série de audições, que continuam hoje, antes de uma prevista declaração à nação.
Ramos-Horta considera “natural” que o primeiro-ministro possa querer levar a cabo uma remodelação no elenco governativo, “porque é sua competência constitucional” mas não que “venha do PR uma iniciativa do género quando não há a mais pequena razão para tal”.
Para o Nobel da Paz, o papel do chefe de Estado é promover o diálogo e a estabilidade, “não é interferir constantemente na governação”.
“Aparentemente, apesar dos meus apelos, da conversa que tive com o Presidente, o diálogo e a solidariedade institucional não têm sido a realidade e a prática ao longo destes 12 meses desde a formação do primeiro Governo após o golpe de 2012″, explicou.
“Aparentemente, apesar dos meus apelos, da conversa que tive com o Presidente, o diálogo e a solidariedade institucional não têm sido a realidade e a prática ao longo destes 12 meses desde a formação do primeiro Governo após o golpe de 2012″, explicou.
O líder timorense manifestou-se esperançado que o Presidente guineense, José Mário Vaz, siga os conselhos que lhe deu mesmo ainda antes de tomar posse, quando se reuniram nas Nações Unidas.
“Eu disse que nas circunstâncias da Guiné-Bissau, como era o meu país quando era presidente, eu via o papel do Presidente da República de conciliador, de reconciliador, de um homem que procura sarar as feridas, de criar condições de estabilidade, de paz para que o Governo possa governar”, afirmou.
“Foi o que eu fiz em Timor, de 2007 a 2012 e esperava que na Guiné-Bissau o Presidente eleito viesse a fazer isso. No fim do seu mandato de cinco anos poderá deixar como legado ao país ser visto como o pai do diálogo, da reconciliação, de unir a família guineense”, disse.
Ramos-Horta destacou as grandes melhorias nos indicadores económicos e nas condições de vida da população guineense, com a melhoria no fornecimento elétrico e de água, nomeadamente em Bissau.
“A cidade começou a ser mais habitável, mais limpa. Em pouco tempo. Nem no meu país, em Timor-Leste, com muitos mais recursos conseguíamos fazer isso”, disse, congratulando o chefe do Governo e o seu executivo por esses progressos.
“Por isso, quando ouvimos de repente essas informações, ficamos surpreendidos que possa haver queda do Governo dirigido pelo PM Domingos Simões Pereira”, afirmou.
“Por isso, quando ouvimos de repente essas informações, ficamos surpreendidos que possa haver queda do Governo dirigido pelo PM Domingos Simões Pereira”, afirmou.
Explicando que a situação está a preocupar o atual chefe de Estado timorense, Taur Matan Ruak, Ramos-Horta recordou todo o apoio dado por Timor-Leste e pela comunidade internacional, afirmando que qualquer alteração repentina no Governo terá efeitos na relação.
“Não se pense na Guiné-Bissau que depois de uma alteração repentina de um Governo democraticamente constituído, de um primeiro-ministro eleito com mandato popular e que depois a situação vai continuar como habitual. Haverá uma revisão de toda a nossa estratégia, de todo o nosso relacionamento com a Guiné-Bissau”, afirmou.
Ramos-Horta recordou que só Timor-Leste deu 10 milhões de dólares para apoio à Guiné-Bissau, a que se somam milhões de dólares de apoio para o processo eleitoral, especialmente da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), da União Europeia (EU), da China e de Portugal.
“Depois de tanto investimento feito por Timor-Leste e pela comunidade internacional (…) para incentivar também a estabilidade naquele país (…), Face a todo este sacrifício realizado pelo meu país, face aos esforços realizados por outros países, vamos agora deitar isto tudo por terra”, questionou.
“Depois de tanto investimento feito por Timor-Leste e pela comunidade internacional (…) para incentivar também a estabilidade naquele país (…), Face a todo este sacrifício realizado pelo meu país, face aos esforços realizados por outros países, vamos agora deitar isto tudo por terra”, questionou.
Por: Lusa
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