Os populares da cidade de Bissorã, norte do país, estão indignados com as forças de segurança local devido às recorrentes práticas de tortura contra cidadãos. Os citadinos desta cidade nortenha não hesitam em qualificar essa esquadra policial local de “centro de tortura sem piedade”. Segundo os populares abordados pelo repórter do semanário “O Democrata”, quem chega primeiro na polícia é tido como “detentor da verdade absoluta”. E mais, de acordo com os habitantes entrevistados, a polícia de Bissorã está ao serviço de “quem tem o poder financeiro”.
A reportagem de “O Democrata” conseguiu captar algumas imagens que testam claramente actos de espancamento por parte de agentes afectos àquela Esquadra. Os activistas dos direitos humanos no local confirmaram a morte do Tchutcho Mendonça na esquadra de Bissorã, vítima de espancamento cometido por agentes de segurança. Segundo a nossa fonte, o jovem, de 37 anos de idade, foi detido pela polícia no dia 3 de Julho na sequência de um alegado diferendo que teve com o próprio pai.
Informado do assunto, conta a nossa fonte, um dos agentes da Esquadra de nome Baba Djaló deteve o malogrado com o propósito de dissuadi-lo a deixar de brigar com o seu progenitor. Mas, a sorte reservado ao jovem foi fatal. Ele não resistiu à tortura, ao espancamento e sucumbiu no dia 5 de Julho corrente. A notícia suscitou e está a suscitar indignação no seio da população desta cidade habituada às práticas similares. Segundo as testemunhas no local, o corpo de vítima apresentava sinais de tortura.
O nosso repórter teve igualmente acesso à imagem de um jovem de nacionalidade Conacri-guineense, Mamadu Djaló, que terá sido espancado brutalmente pela polícia local em plena rua, frente à Igreja Católica de Bissorã. A agressão contra Djaló aconteceu depois de uma discussão com um colega seu num bar. A vítima que apresenta sinais de torturas nas costas disse não ter sido ouvido pela Polícia sobre a discussão que tivera com colega.
Entretanto, segundo uma fonte, a Polícia Judiciária deteve dez (10) agentes da polícia por suspeita no envolvimento de assassinato do jovem Tchutcho Mendonça, “espancado na cela até à morte”. A fonte informa que na sequência do drama, a Esquadra de Bissorã recebeu quatro novos agentes provenientes de Bula e Mansoa.
Um dos responsáveis de uma das organizações comunitárias que opera no sector disse a nossa reportagem que é urgente que as autoridades centrais resolvam a situação da Esquadra de Bissorã. Defendeu ainda que se deve igualmente aumentar o número de efectivos da polícia tendo em conta o elevado nível de crimes que se regista no sector. Disse igualmente que a corporação precisa de formação em matéria de direitos humanos.
A morte do jovem Tchutcho Mendonça provocou, de acordo com as informações apuradas, a fuga de sete prisioneiros, alguns dos quais considerados pelas autoridades policiais de “altamente perigosos”.
“O Democrata” soube junto de uma fonte próxima das autoridades do sector que a polícia se mobilizou na procura dos reclusos em fuga, sobretudo aqueles que cometeram crimes de homicídios. A fonte avança, no entanto, que uma das dificuldades que a polícia depara neste momento é o facto de estar reduzida em termos de efectivos e torna fraca a sua operação.
PAI DE TCHUTCHO NEGA TER ORDENADO A PRISÃO DO SEU FILHO MORTO NA CELA
Em Bissorã, circulam rumores segundo os quais terá sido o próprio pai de Tchutcho, que solicitara a prisão do seu filho que acabou por sair morto da cela. O nosso repórter contactou o pai de vítima, Mateus Silva Santos Costa (Matoia) e este refutou esses rumores. Disse que não foi ele quem ordenou a prisão do filho. Informou que foi um oficial de polícia daquela Esquadra, Baba Djaló (com quem partilha a mesma casa) quem ordenou a prisão do seu filho, tendo e, conta que a residência do pai da vítima se encontra a menos de 30 metros da esquadra.
“Tchutcho é o meu filho que não tive a oportunidade de registar em meu nome, por isso se chama de Tchutcho Mendonça. Tivemos uma discussão durante a qual dirigiu-me palavrões, portanto essa não é a primeira vez que discutimos. Ele já tinha sido preso pelo meu vizinho, Baba devido à mesma situação, de forma a intimidá-lo, mas mesmo assim, não parou”, contou o pai da vítima com uma voz tremula.
Reconheceu neste particular que o seu filho (Tchutcho Mendonça) é uma pessoa violenta, dado que sempre se envolveu em conflitos. Contudo, pediu a justiça da parte das autoridades competentes no sentido de apurar o autor do espancamento até à morte do seu filho.
“Tenho as informações credíveis que apontam que foi o comandante Moniz que ordenou os agentes para torturarem o meu filho”, assegurou o pai da vítima, que entretanto, mostrou-se ainda confiante na realização da justiça por parte das autoridades.
Segundo Santos Costa, Tchutcho lhe informou na véspera da sua morte na cela, quando o visitou, que foi espancado pela polícia. Frisou ainda que o seu filho lhe mostrou até os sinais de tortura na costa.
O pai da vítima informou que o seu filho apenas tinha o medo de comandante Baba Djaló, que o mandou deter. Confessou à nossa reportagem que o comandante Baba mandou deter o filho, mas não foi ele quem ordenou o espancamento do mesmo até à morte.
O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos para a região de Oio, Umaro Camará disse a ”O Democrata” que a sua organização condenou o acto e pediu que a justiça seja feita da parte das autoridades competentes no sentido de apurar os culpados.
Camará pediu a colaboração dos populares daquela região norte do país na manutenção de um bom clima de paz e ao mesmo tempo pediu as autoridades policiais no sentido de zelarem pelo respeito aos direitos humanos.
“Se houvesse a colaboração da parte de população talvez nenhum recluso continuaria em fuga. É verdade que as pessoas estão revoltadas devido a circunstância da morte de jovem, por isso não querem colaborar com as autoridades policiais na busca de reclusos que se encontram em fuga”, disse.
Contactado pelo nosso repórter, o Comissariado Regional de Oio disse não possuir informações suficientes para se pronunciar sobre o caso e alegou o facto de o processo estar sob investigação.
Recorde-se que os dez (10) agentes encontram-se sob custódia da Polícia Judiciária, inclusive o comandante Mário Moniz e seu adjunto M’buli Dabó, desde a data da morte do malogrado Tchutcho Mendonça.
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