A avaliação de um plano de comunicação em saúde sobre o vírus Ébola, executado na Guiné-Bissau, indicou que os guineenses perceberam que a doença pode resultar em morte sem os devidos cuidados, disse hoje a responsável pelo projeto.
"Houve um acolhimento muito grande (do projeto). Os guineenses sentiram claramente que a doença causada pelo vírus Ébola resulta em morte se não houver cuidados", disse hoje à Lusa Isabel de Santiago, autora do "Plano de Comunicação em Saúde (PCS) -- Evitar o contágio por vírus Ébola nos PALOP/Guiné-Bissau".
Isabel de Santiago - investigadora em Comunicação em Saúde e assistente convidada no Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) - declarou que a execução do plano Guiné-Bissau foi prioritária devido à vizinhança com a Guiné-Conacri, um dos países mais atingidos pela mais recente epidemia do vírus Ébola.
O Plano de Comunicação em Saúde, executado entre janeiro e maio, formou vários membros da sociedade guineense (intermediários, profissionais da saúde e régulos/líderes tribais) para levar informação à população sobre os cuidados necessários para evitar a transmissão do vírus Ébola.
O projeto tinha como principais intervenções o treino de pontos focais, reuniões com os líderes das comunidades para a familiarização do programa, sessões educativas com os habitantes e ações envolvendo os media.
Segundo a investigadora - doutoranda em Educação e Comunicação em Ciências da Saúde na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa -, as conclusões sobre o PCS foram resultado de um inquérito de avaliação do treino/formação dos mediadores e intermediários envolvidos no projeto. Nesta avaliação foram inquiridos 157 de indivíduos formados (82% do total da amostra) durante o programa.
No que diz respeito às áreas das mensagens apreendidas, as áreas com maior peso são a higiene pessoal (79% do total da amostra cita mensagens desta área); a transmissão (76%) e a higiene nos funerais (68%). Cerca de 47% dos inquiridos citam ainda mensagens da área de higiene das mães para com as crianças, segundo a investigadora.
"Três mensagens chave que foram determinantes para o sucesso da formação. Primeiro, evitar o contacto das mãos com o que chamados fluidos (fezes, sangue, vómitos), a necessidade de uma permanente higiene dos adultos, assim como ensinar estas práticas de higiene às crianças", disse Isabel de Santiago.
"Outra mensagem importante passada refere-se aos cuidados de higiene e alimentação diários, nomeadamente evitar comer carnes de animais selvagens (macacos, chimpanzés, morcegos e outros vertebrados), além de ensinar às crianças que evitem comer frutas picadas (por morcegos que são um dos repositórios do vírus Ébola)", disse a investigadora.
Segundo Isabel de Santiago, outro ponto importante era "a lavagem dos cadáveres, que deve ser feita por um profissional de saúde, um enfermeiro ou enfermeira, para evitar o contágio se o morto estiver contagiado pela doença".
O PCS teve a orientação científica dos professores doutores José Pereira Miguel, diretor do Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública da FMUL, e Francisco Antunes, especialista em doenças infecciosas e medicina tropical do Instituto de Saúde Ambiental/ISAMB e professor catedrático emérito da FMUL.
O projeto, realizado em articulação com as autoridades competentes guineenses aos níveis nacional e local, teve ainda o apoio da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Este programa de comunicação em saúde também foi implantado em São Tomé e Príncipe e os seus resultados serão publicados posteriormente. A epidemia do Ébola causou mais de 11 mil mortos desde o final de 2013, na sua maioria na Guiné-Conacri, Serra Leoa e Libéria, e desorganizou os seus sistemas de saúde, destruiu as suas economias e afugentou os investidores. Lusa
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