«OPINIÃO» PERSPETIVAS DE UMA COOPERAÇÃO REFORÇADA: O CASO DO REINO DE MARROCOS



Os desafios que hoje se colocam à Guiné-Bissau são enormes e as resoluções devem ser perspetivadas no quadro de uma parceria institucional sólida, alicerçada numa estratégia de intervenção transversal e focada no equilíbrio de poder entre os órgãos de soberania e suas implicações no plano da cooperação bilateral e multilateral com os parceiros internacionais.

A primeira prova dessa cooperação institucional e estratégica, a seguir à mesa redonda de Bruxelas, que surtiu efeitos positivos em torno da dinâmica do país, será evidenciada no quadro da visita do rei Mohamed VI de Marrocos à Guiné-Bissau, que congregará um conjunto de processos e de estabelecimentos de acordos de parcerias em vários domínios, tanto no campo empresarial como institucional.

Portanto, antes de mais, a primeira abordagem a considerar no quadro de uma diplomacia económica e institucional tem a ver essencialmente com a salvaguarda da autenticidade histórica, política, cultural e religiosa, bem como a preservação dos valores da sociedade, isto é um ponto de ordem que se deve acautelar sempre.

Posto isto, é importante discutir neste fórum algumas questões, no quadro de uma análise mais social e económica, que se prendem com as potencialidades do país e o reforço da cooperação com o Reino de Marrocos. É claramente evidente a vantagem competitiva sustentável da Guiné-Bissau face aos outros países da Costa Ocidental de África que requer uma maior atenção por parte deste parceiro pelos motivos que mais à frente terei oportunidade de abordar.

No entanto, dando conta, primeiramente, das potencialidades do Reino de Marrocos é importante realçar os seguintes aspetos: (…) é a terceira maior economia da África do Norte, atrás do Egito e da Argélia (…)tem uma economia liberal, diversificada e aberta (…) a economia baseia-se sobretudo na agricultura, na mineração de fosfato e no setor de turismo - uma das principais fontes de receitas externas do país (…)metade das reservas de fosfato do mundo estão em Marrocos - é o maior exportador do mundo - tem um recurso que os operadores globais qualificam como “escândalo geológico” atendendo ao teor de fosfato que é excecional. É altamente dependente do setor agrícola, fonte de emprego para 45% da população economicamente ativa, portanto um parceiro que o Estado guineense pode ter como exemplo de investimento numa área que hoje constitui o lema de desenvolvimento do país face à campanha sobre a biodiversidade e ambiente sustentável com enfoque na agricultura e no turismo.

Ainda, de acordo com a radiografia territorial e política, o país tem vantagens consideráveis tendo em conta que existe estabilidade política, a questão da proximidade geográfica, um quadro macroeconómico estável e um ambiente institucional e legal muito favorável que poderá gerar um conjunto de trocas e de relações comerciais com a Guiné-Bissau.

No que se refere à proteção e defesa dos direitos humanos e das liberdades, este país tem conseguido o fim das violações flagrantes dos direitos humanos após uma primeira reforma em 2002.
Quanto à política externa, pode ser qualificada de ecuménica, na qual cabem relações e bom entendimento com os Estados Unidos, exceto no que diz respeito a diferenças quanto ao Médio Oriente, bem como a intensificação das relações com a América Latina e o Extremo Oriente – especialmente com a República Popular da China e Coreia do Sul - ou seja, o país está empenhado em diversificar e intensificar a sua presença no cenário internacional. Portanto, entende-se toda a azáfama popular em torno da visita do Rei de Marrocos, e sua comitiva, considerado pelos guineenses como um bom presságio e confiança na retoma da credibilidade do país após as eleições do ano passado.

Porém, o reforço da cooperação assenta-se no princípio da confiança, pedra angular de um processo de diplomacia com sucesso que requer maior frontalidade e discussão de projetos conjuntos com salvaguarda dos interesses comuns. A Guiné-Bissau tem um potencial geográfico enorme, associado aos recursos não só naturais como também haliêuticos, agroalimentar e industrial, incluindo este último a extração das matérias-primas, renováveis e não renováveis, com grande impacto no mercado internacional, que requer um modelo de governação e de desenvolvimento assente em princípios de boa gestão.

Tudo isso implica uma determinada coerência na gestão das políticas públicas, nos princípios da diversidade cultural de cada um dos estados, na criação de um clima favorável de negócio e, acima de tudo, no desenvolvimento das relações comerciais que pressupõe uma diplomacia forte, responsável e exigente, mantendo como é óbvio a soberania económica.


Luís Vicente, 28/05/2015

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