Grande Entrevista _ Serifo Nhamadjo: “EU QUERERIA TUDO MENOS SER CANDIDATO A PRESIDENTE DO PAIGC”



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O ex-Presidente da República de Transição, Manuel Serifo Nhamadjo, disse numa entrevista exclusiva ao semanário “O Democrata” que quereria tudo menos ser candidato a presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Nhamadjo remeteu-se ao silêncio total desde a investidura do actual Chefe de Estado, não tendo concedido nenhuma entrevista nem aos órgãos de comunicação social nacionais nem aos internacionais.
Serifo Nhamadjo disse que aceitou dar a entrevista a “O Democrata”, porque entendeu que é chegado o momento de esclarecer à opinião pública nacional e internacional algumas situações sobre a sua pessoa. O Ex-Presidente de Transição afirmou que não é golpista e que nunca foi abordado por nenhum militar guineense a respeito do golpe de Estado. Acrescentou ainda que conheceu a maioria dos militares no período de transição.
Nhamadjo falou igualmente da actual situação política do país, sobretudo das supostas divergências que se registam entre os titulares dos órgãos de soberania. Frisou ainda que o Presidente da República, José Mário Vaz, o Presidente da Assembleia, Cipriano Cassamá e o Primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira têm a grande responsabilidade de guiar os destinos do povo guineense.
“O país está nas mãos dessas três pessoas, por isso têm a responsabilidade de coabitarem na diversidade. Não têm o direito de pôr em causa a estabilidade deste país, por mais capricho que cada um deles queira ter. Não têm direito de pôr em causa as conquistas (deste povo) porque trazer o país a estabilidade custou muito”, destacou o ex-presidente da República de Transição.
Relativamente à questão do corte descontrolado de florestas que é considerado como uma das marcas negativas das autoridades de transição, Nhamadjo disse que na verdade, todos ficaram indignados com a avalanche de corte de madeiras, e que se os jornalistas tivessem arquivos, poderiam ver que também ele criticou o corte descontrolado que se estava a registar na altura.

O Democrata (OD): A transição começou com o ritmo aceitável traduzido no pagamento de salários dos funcionários públicos. Que leitura faz do final do período de transição, que sofreu forte oposição quer a nível interno como externo?
Manuel Serifo Nhamadjo (MSN): Decorrido quase um ano depois da transição, quando olho para trás, sinto que, como cidadão, fiz a minha obrigação de tentar ajudar o país a se reencontrar. Apesar de todas as incompreensões, a transição, como diz a palavra, era pegar no anormal e transformá-lo em normal. E nós conseguimos, graças a Deus, com a equipa que se constituiu. A equipa abrangia a maior parte das forças políticas nacionais. Conseguimos gerir a transição e chegar às eleições com paz e tranquilidade para que todo o cidadão pudesse exprimir a sua vontade e opção política.
Hoje, quando faço uma retrospectiva, de facto, acho que nem tudo da transição foi mau. Na vida nunca se consegue fazer tudo. Conseguimos fazer o possível apesar das dificuldades e sobretudo de todas as sanções. Tinhamos todas as portas de ajuda externa fechadas. Foi uma gestão muito rigorosa para que pudessemos aguentar a máquina até a um determinado momento. Na fase final fomos confrontados com uma opção.
OD: A gestão durante o período de transição foi fortemente criticada, sobretudo quando o executivo deixou de pagar os ordenados aos seus servidores. O que falhou na sua opinião?
MSN: É natural que houve críticas. A maior verdade é que fomos confrontados com algumas situações e fomos obrigados a assumir uma opção. Isto é, ou pagavamos os salários e deixavamos as eleições ou fazíamos o recenseamento e as eleições e não pagavamos os salários. Sabíamos que a transição tinha que ter o seu término e não podia ser feito, sem antes termos o recenseamento e consequentemente as eleições.
Fizemos a opção de retrair um pouco nos pagamentos para reencaminhar todos os recursos para o recenseamento e feitura das eleições. Mas com a garantia dos nossos parceiros e particularmente da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) em como apoiar-nos-iam com recursos para o pagamento dos salários em atraso. Foi o que aconteceu.
Negociamos com os parceiros e conseguimos uma garantia de pagamento de salários congelados para que o novo poder pudesse desbloquear os recursos e proceder aos pagamentos dos atrasados salariais. Estavamos no fim da transição. No entanto podia dar-se o caso de termos levantado os recursos para o pagamento dos salário, iniciá-lo e depois não termos tempo suficiente para concluir o processo. O vazio entre a nossa saída e a entrada de novo poder podia causar transtornos financeiros.
Sabíamos como são os guineenses. Portanto, todos os erros poderiam ser imputados aos que saíram em proveito daqueles que estivessem, porventura, a fazer má gestão. Os que estivessem de entrada poderiam justificar-se culpando os anteriores governantes. Então dissemos que não. Isso foi uma conversa que tivemos com o Primeiro-ministro de transição, depois da ida dele ao Gana. Eu disse na altura que o melhor que podiamos fazer era convencer os nossos parceiros que aguardassem o novo poder para depois desbloquearem os tais apoios financeiros, para que se pudesse efetuar o pagamento dos salários aos funcionários públicos.
Sofremos muito com isso. Foram calúnias e insultos. Também eramos funcionários e não recebíamos. Tínhamos uma opção. Fosse como fosse, teriamos de tomar uma opção. Decidimos fazer o recenseamento e tomamos o engajamento de implicar a diáspora guineense à participar nas eleições legislativas e presidenciais. Estavamos convictos que fariamos umas eleições pacíficas para que o novo poder pudesse criar condições de desenvolvimento, um desenvolvimento baseado naquilo que defendemos sempre, um ambiente tranquilo que permita a convivência de todos os guineenses.
Todos foram testemunhas em como nós conseguimos fazer um recenseamento nunca antes feito nesta terra. Fizemos umas eleições que poderiam ter sido muito melhores. Mas foram boas eleições. Ganhou aquele que o povo achou que devia comandar a nova fase de governação. Depois disso os parceiros desbloquearam a tal prometida soma com o qual se pagou os ordenados durante os meses seguintes.
OD: Então, a realização do recenseamento é que estava na base do não pagamento de salários por parte do executivo na parte final da transição?
MSN: Não. Aliás, lembro-me que nós tínhamos pedido sempre aos nossos parceiros para que nos ajudassem nos pagamentos de salários, porque apenas as nossas receitas não davam. Mas não podíamos receber dinheiro para as eleições e para os salários. Tínhamos que dar prioridade há alguma coisa.
OD: Há informações que indicam que as autoridades de transição recebiam apoios financeiros da parte de CEDEAO para o pagamento dos salários. Confirma essas informações?
MSN: Complemento para o pagamento de salários era o que a CEDEAO dava. Não dava dinheiro para o pagamento de salários a cem por cento, mas sim um complemento. Foi na parte final que a CEDEAO começou a apoiar, porque no início o Governo aguentou e pagou salários com recursos internos provenientes de receitas fiscais.
Acho que o chefe de executivo na altura estaria em melhores condições de explicar tudo isso, eu, na qualidade de Presidente, só facilitei o processo. Tanto assim foi que ao pedido que fizemos nas cimeiras, a CEDEAO comprometeu-se em complementar o défice de salário. Durante o primeiro ano, segundo e até aos últimos seis meses, pagamos sempre os salários.
Nos últimos cinco meses foi difícil. Mas também é bom fazer uma analises que ninguém quer reconhecer. Nos primeiros cinco meses da transição, tivemos que pagar as dívidas que os Governo depostos contraíram com os bancos comerciais. Esses bancos deduziram e existem contabilidades nas finanças que atestam os montantes pagos.
Se descontarmos os meses pagos (referentes às dividas do Governo deposto), e tendo em conta que tivemos dificuldades de tesouraria nos últimos cinco meses de transição, então podemos dizer que não temos dividas e o que existiu foi uma divida do passado. Mas a governação é continuidade, por isso mesmo nós assumimos que deixamos uma dívida.
OD: Tendo em conta a dificuldade que se vivia na altura, o então Chefe de Estado-maior General das Forças Armadas, General António Indjai, fez duras críticas ao Governo. Da parte da presidência registou-se um total silêncio. Porquê?
MSN: Não… Aliás, como se sabe, tenho uma opção de fazer muito barrulho. Mas eu resolvia os problemas, como puderam constatar na altura. Os militares não tinham o demo de Presidente da República, mas respeitavam-me. Usei uma estratégia de dialogar permanentemente por dentro, quando se falava das coisas na rua. Eu sempre os chamava e aconselhava-os para o diálogo interno, porque estávamos no mesmo barco e ninguém era mais perfeito que outro. Também ninguém era mais culpado que outro e todos nós éramos responsáveis, por isso tínhamos que juntar as ideias para colmatar as falhas.
É verdade que não há uma equipa perfeita. É como se fosse uma equipa de futebol onde no onze inicial se pode constatar dois ou três péssimos jogadores, mas que teriam sido incorporados na equipa para se poder trabalhar. É verdade que havia críticas e como ainda as há e continuarão a haver. Porque as pessoas querem sempre mais. Quando se exige mais temos que ser mais exigentes. Os militares, a sociedade civil e nós próprios fazíamos críticas.
OD: Então, o Presidente criticava mesmo a gestão do Governo de Rui Duarte de Barros?
MSN: Eu criticava o que não estava a corresponder às nossas expectativas. Qualquer cidadão podia fazer o mesmo. O mais importante quando as pessoas falham é se sentar à volta de uma mesa e explicar a razão ou o motivo dos desentendimentos ou das falhas.
Posso ter uma percepção errada daquilo que está a ser feito, mas se a outra parte não for dada uma oportunidade para se explicar, nós continuaremos a nos culpar e sem que ninguém tenha razão. Qualquer executivo naquela situação teria sempre grandes dificuldades, porque não havia um balão de oxigénio proveniente de diferentes partes do mundo e de organizações internacionais.
OD: Outra das marcas negativas da transição foi no capítulo do corte descontrolado das nossas florestas. Como é que na qualidade de então Presidente explica essa situação hoje, dez meses passados da transição?
MSN: É verdade. Todos ficamos indignados com a avalanche de corte de madeiras. Aliás, se vocês tiverem arquivo, verão que também critiquei o corte descontrolado que se registava na altura. Em Buba, lembro-me que disse há um dado momento que levaria uma equipa de reportagem da televisão para mostrar os troncos com o propósito de provar que estavam a fazer uma anarquia na nossa floresta. Mas depois disso continuamos a ver contentores de troncos de madeira que entravam na cidade todos os dias.
Agora o que aconteceu? Aconteceu muita coisa… um descontrolo, o oportunismo e o espírito de enriquecimento fácil. E nessas condições o que se deve fazer é chamar as partes exigindo a responsabilidades de cada uma. Fizemos isso. Fizemos isso, mas como estávamos já na fase final e o mais importante para nós era concluir o processo de recenseamento e fazer as eleições o mais depressa possível. Porque quando se está a despedir-se, pouca gente tem a paciência de ouvir.
Mas isso não deixa de ser uma má atitude para a nossa economia bem como para a nossa floresta. Portanto, espero que se consiga dar um tratamento adequado ao assunto. Pelo que eu sei essa situação continua ainda a verificar-se, apesar de todas as diligências tomadas pelo actual executivo. Se ontem era certa camada que praticava esses atos, hoje também são outras pessoas que estão a tentar fazer a mesma coisa em relação ao corte de troncos de madeira.
OD: O actual governo continua a enfrentar dificuldades na gestão do dossier da madeira. Aliás, existem vozes que criticam o Presidente Nhamadjo por não ter gerido bem o assunto da corte de madeira. Será que o Presidente sente-se responsável em parte por essa situação?
MSN: Não. Sinceramente não me sinto responsável por essa situação do corte descontrolado de troncos de madeira, porque há coisas que devem ser compreendidas como competências do governo e há coisas também que devem ser compreendidas como a responsabilidade do Presidente.
Um Presidente da República, na nossa Constituição, é um árbitro. Ou seja, é uma pessoa que tem que ajudar o Governo e diferentes instituições a funcionarem. Ele não é o tribunal, nem a polícia judiciária e muito menos, no caso, o ministério da agricultura que tem como tutela a floresta. O que fiz foi o que um presidente faria. Isto é, chamar a responsabilidade o executivo para as coisas que não estavam a correr bem.
Não só o fiz numa reunião restrita, como também em público através de declarações públicas nos órgãos da comunicação social. Isso em termos normais devia ser tido como uma orientação. Muito sinceramente não vejo um Presidente a levar polícias e a prender todos os madareiros.
OD: Fala-se que no período de transição se registou situações de desobediência… Notou essa situação, sobretudo em relação a sua autoridade?
MSN: Comigo isso nunca aconteceu. Embora a própria transição seja uma anormalidade. Uma anormalidade significa que muita coisa poderá não estar a funcionar correctamente. Nós conseguimos sair do anormal para a normalidade. Só que há casos em que as pessoas pegam o país na normalidade e o transformam em anormalidade.
OD: Senhor Presidente, há alguns meses atrás, depois de uma audiência com o Presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá, declarou à imprensa que recebera um convite deste para presidir a Comissão da Reconciliação Nacional. Segundo informações, tudo indica que essa possibilidade é cada vez menos realizável. O que está a passar de concreto relativamente essa situação?
MSN: É verdade que o Presidente da Assembleia convidou-me que continuasse a presidir a Comissão da Reconciliação Nacional. Como sabe, essa comissão foi criada no nosso tempo, na assembleia. Sou um dos responsáveis pela criação dessa comissão. Fizemos trabalhos das conferências regionais durante dois anos ao nível de todo o país e faltava apenas a Conferência Nacional, que decorreria na cidade de Bissau com participações de delegados de diferentes regiões e inclusive da diáspora.
Em audiência com Presidente de Assembleia, respondi que, como cidadão nacional, estaria disposto a aceitar o convite. Recomendei ao Presidente de Assembleia que reunisse um consenso junto das outras figuras que faziam parte daquela comissão, designadamente o Presidente da República, o Primeiro-ministro, o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e mais outras figuras.
São essas figuras que constituem a equipa colegial que preside a Comissão Nacional de Reconciliação. Pedi que fosse encontrado um consenso em relação à escolha do meu nome para presidi-la e depois que me fosse formalizado o convite, por escrito. O Presidente da Assembleia prometeu-me que logo depois da audiência ia entrar em contacto com aquelas figuras. Mas sei que ele teve dificuldades de conseguir um consenso sobre a escolha do meu nome para presidir a comissão de reconciliação.
Até hoje não tivermos a oportunidade de nos encontrarmo-nos e não obstante isso, ele tentou convidar-me para um encontro, mas infelizmente eu estava ausente. Não conseguimos conversar sobre o assunto até hoje, mas eu estaria na disposição de assumir a comissão desde que houvesse um consenso. Não havendo um consenso entre os responsáveis das instituições acima referidos, então não vale a pena eu entrar num sítio em que não há consensos. Quero trabalhar na base de consensos, porque afinal é a reconciliação que se vai fazer. Se concordarem sobre a minha figura tudo bem e se não, podem escolher uma outra figura.
OD: Diz-se que o Presidente Nhamadjo traiu o seu partido (PAIGC), ao aceitar o cargo de Presidente da República de Transição, depois do golpe de Estado. Quer fazer um comentário sobre esse assunto?
MSN: Como se sabe, a política tem por vezes coisas muito obscuras. Eu considero que o único pecado que fiz foi ter a coragem de dizer no Comité Central que a escolha do candidato do partido à Presidência da República deveria ser por voto secreto. Certas pessoas não queriam o voto secreto, mas é bom lembrar que o último processo da escolha do candidato foi através do voto secreto, e foi entre o falecido Malam Bacai Sanhá e Raimundo Pereira.
Na presença de todos os membros do Comité Central que estiveram na sala, disse que se o Carlos Gomes Júnior aceitasse o voto secreto e se ganhasse, eu seria o primeiro a apoiá-lo e isso não é segredo, porque foi dito no Comité Central publicamente. Mas também disse que se não aceitassem o processo de votação secreto, iria causar uma fissura no partido e até à última tabanca.
Recordo que eu tive a coragem de ir conversar com o Presidente Raimundo Pereira, dizendo-lhe que seria bom conversarmos com o presidente Carlos Gomes Júnior, para que não avançasse com a candidatura a Presidência da República. Porquê? Porque eu reporto-me à Comissão de Reconciliação. Por aquilo que ouvimos e soubemos ao longo das auscultações, sentíamos que havia alguma coisa. Deixar a primatura para se candidatar ao cargo de Presidente da República criaria outro problema. Raimundo disse-me que não podia dizer isso ao Carlos Gomes. Então fui pessoalmente falar com o Carlos Gomes e pedir-lhe que não avançasse com a candidatura.

Não me limitei apenas a falar com o Carlos, como também chamei Adiatu Nandigna e pedi-lhe que conversarmos com o Carlos sobre o mesmo assunto. Ainda fui ao partido e reuni-me com a camarada Carmem Pereira, Francisca Pereira, Teodora Inácia Gomes e Carlos Correira. Éramos cinco pessoas e reunimo-nos na biblioteca do partido. Durante a reunião chamei a atenção relativamnte ao método da escolha do candidato e todas essas diligências foram refutadas.
Quando sai dessas reuniões, durante cinco dias recebi telefonemas de insultos e ameaças de morte. Senti que a minha vida estava em risco. Por isso resolvi tomar a decisão de enfrentar o bicho, porque se eu ficasse a espera que me amarassem, aí a história poderia ser outra. Eu e os meus camaradas decidimos enfrentar a luta, ou seja, avançar com a nossa candidatura para a Presidência da República.
OD: Esta foi a razão que o levou apresentar-se como independente?
MSN: Sim foi, porque eu estava sob ameaças. E mesmo com as ameaças e insultos, decidimos enfrentar a luta. Quando me propus para candidatar à Presidencia, houve diligências de alguns dirigentes do partido a tentar persuadir-me (a desistir). Tive uma última conversa com alguns deles que ainda estão de vida. Mas não vou citar nomes, mas estão de vida.
Eu disse-lhes, durante a conversa que mantivemos, que era tarde, dado que tinha muitas pessoas dispostas a apoiar-me. Se eu desistisse, então chamar-me-iam de covarde e até alguns diriam que recebi algum dinheiro. Passaram a considerar-me de traidor a partir do dia em que depositamos a nossa candidatura.
OD: Muitas pessoas próximas do senhor sentiram medo por estar naquela corrida. Porquê algumas pessoas choraram quando o senhor decidiu apresentar-se como candidato à Presidência da República?
MSN: As pessoas choraram devido ao momento critico e quem ousasse desafiar era assassinado. Veja por exemplo, o que aconteceu ao Helder Proença e Baciro Dabó. Desafiaram o regime e perderam a vida. Eu era também um desses elementos que poderia, de um dia para outro, ter um acidente.
OD: Hadja Satu Camará foi forte para si na altura?
MSN: Não… O que foi forte para mim, foi a minha fé e Deus. Ninguém era mais forte do que eu. Galvanizava todos os meus apoiantes. Lembro-me que uma noite, no periodo de campanha em Buba, vieram os homens da segurança e disseram que não podia seguir viagem para Empada, porque havia pessoas instruídas para me bater.
As pessoas começaram a propor que pernoitássemos em Buba. Levantei-me e disse-lhes que não obrigaria ninguém que me seguisse. Mas eu que partiria com a minha esposa para a Empada ainda naquela noite, porque tinha um compromisso com a população que me aguardava. É a primeira vez que estou a falar deste assunto. Levantei-me naquela noite e fui directamente para a Empada. Fiz o comício por volta da meia-noite. O que eu fiz na altura não foi mais de que um exercício democrático é assim que eu me considero.
É claro que em cada grupo existem os pró e os contra. Os contra não me perdoaram, sobretudo os que tinham uma simpatia pelo adversário. Não me perdoaram. Os que tinham a simpatia por mim insultaram os outros, portanto isso é normal.
OD: Depois disso tudo, deu-se o golpe de Estado. Há vozes que associam o golpe aos políticos, sobretudo os contestatários do golpe. Como explica essa situação?
MSN: Quando se deu o golpe eu tinha saído da última conferência. Eu acredito que há registos desta conferência de imprensa. Depois da leitura do comunicado, eu e o falecido Presidente Henrique Rosa pedimos a palavra para falar. Eu pedi naquela altura aos meus seguidores que abstivessem de participar nas eleições, porque a segunda volta era uma farsa.
Quando saímos da conferência voltei para a minha casa. Recebi alguns telefonemas de pessoas que me estavam a perguntar onde estava. Perguntei-lhes o que estava acontecer e porque é que queriam saber do meu paradeiro.

Disseram-me que havia movimentação de militares e que a situação não estava bem.
Pensei logo que o que se dissera durante a primeira volta da campanha já estaria em marcha, que iriam dar-me um passaporte extraterrestre. Procurei também um lugar para garantir a minha segurança, como se sabe podia ser inventada uma situação para a eliminação física de pessoas. Depois quando soube do que estava a passar de concreto, resolvi instruir o chefe de gabinete para fazer uma nota às novas autoridades militares.
Porque éramos a Assembleia. Se o Presidente da República estava detido e o Primeiro-ministro também, então ficava a Assembleia. Se a Assembleia não fosse destituída, tinha a obrigação de se informar, a fim de saber qual era a situação do país. Mais tarde soubemos, através de um comunicado do Comando Militar, que a Assembleia também estava destituída e aí já não pudemos fazer mais nada.
Uma semana depois disso tudo, recebemos na sede da Assembleia uma delegação do Comando Militar que foi pedir uma reunião comigo, na qualidade de Presidente da Assembleia. Disse-lhes que não era assim que as coisas funcionavam, que funcionavamos como um colectivo. Se se tratasse de uma reunião com a Mesa da Assembleia, poderiamos reunirmo-nos sim. Prometi-lhes que marcaria uma reunião com a Mesa da Assembleia para o dia seguinte.
À noite fomos surpreendidos com um comunicado na imprensa em como os militares nomearam-me como Presidente da República de Transição e que punham Sorri Djaló como Presidente do Conselho Nacional de Transição.
Fiquei aparvalhado com a situação, porque fizeram essa nomeação sem me comunicar. No dia seguinte recebemos os militares e elementos de partidos políticos. Então a primeira coisa que pedi foi que me esclarecessem o seguinte: se a Assembleia estava destituída, porque queriam a Assembleia para buscar a legitimidade. E perguntei-lhes sobre quem lhes autorizara a usar o meu nome, sem o meu consentimento. E disse-lhes que logo depois da reunião comunicaria à imprensa para tornar clara a minha posição de não assumir a função que me propuseram. Admiti que só aceitaria o cargo se o Parlamento fosse salvo, para dar a sua contribuição no sentido de trabalhar para o retorno à ordem constitucional.
OD: Diz-se que a Nigéria fora decisiva na sua nomeação como o Presidente da República de Transição, dado que o Presidente de Nigéria na altura deu orientação à CEDEAO para que o senhor fosse indigitado. Essa situação que acabou na sua nomeação fez com que algumas vozes lhe considerassem de traidor do partido. Quer fazer um comentário sobre esse assunto?
MSN: Isso são falsos comentários. Depois daquela reunião na Assembleia e durantes semanas, os militares e os políticos estiveram em reuniões com a comunidade. Foram à Dakar (Senegal), à Abidjan (Costa de Marfim) e à Banjul (Gâmbia), mas não conseguiam encontrar a soluções. A CEDEAO dizia sempre “tolerância zero” em relação aos golpes de estado e que só aceitaria se fizessem o retorno por via parlamentar, seguindo a Constituição guineense. A Constituição indica que na ausência do Presidente da República, quem deveria assumir a gestão do país era o Presidente de Assembleia Nacional Popular.
Lembro que numa reunião que tivemos no quadro de grupo de contestatários, eu, Henrique Rosa, Koumba Yalá, António Afonso Té e Serifo Baldé, disse-lhes que a partir de momento que se falava da segunda (volta das eleições) eu iria retirar-me para retomar as minhas funções no parlamento. Numa reunião no hotel Azalai que juntou militares, sociedade civil e políticos, levantei-me e perguntei qual era o meu estatuto. Se era como o antigo candidato à Presidência da República, eu abandonaria a sala, porque já tinha retomado a minha função no parlamento. Disseram-me que convidaram-me na qualidade de Presidente Interino da Assembleia.
Depois de muita discussão e por volta de uma hora de manhã, decidiu-se suspender a reunião para consultas e os militares, quando voltaram para a sala de reuniões, anunciaram que tinham confirmado o retorno à normalidade constitucional por via do parlamento, porque o parlamento é que estava incumbido da gestão interina da situação para o retorno da normalidade constitucional. Foi alí que o ministro dos Negócios Estrangeiros da Nigéria na altura se levantou concertou-se com o Presidente da Costa de Marfim, Watara que era o presidente em exercício da CEDEAO. Fizeram mais contactos por via telefonica.
A delegação da comunidade, através do ministro dos Negócios Estrangeiros da Nigéria, disse que com base na constituição guineense, na ausência de Presidente da República, quem assume o poder é o Presidente da Assembleia.
Foi nessas condições que o Presidente da Assembleia foi indigitado para o cargo de Presidente da República Interino. O Presidente de Assembleia no momento era Manuel Serifo Nhamadjo. Podia ter sido outra pessoa e a escolha recaria nessa pessoa.
Imaginem se eu tivesse recusado a indigitação. Seria o meu vice-presidente na Assembleia quem assumiria o poder. Ele, por acaso, era de outra formação política. Se isso tivesse acontecido, as pessoas chamar-me-iam de covarde em vez de traidor. Jamais eu me levantaria para qualquer pretensão político, porque diriam sempre que fui cobarde quando fora chamado para dirigir o país, que recusei o convite por causa de medo.
OD: Fala-se que a mesma situação se passou com o Augusto Olivais que na altura era o Secretário Permanente do PAIGC. Existem informações que indicam que Olivais fora chamado para dirigir o Governo, mas declinou o convite por causa do medo da retaliação do seu partido. São verdadeiras essas informações?
MSN: Quando se falou da formação do executivo de transição e naquela altura já estava a pilotar interinamente. Pedimos ao PAIGC que apresentasse um nome para o Primeiro-ministro e eu até pedi três nomes, mas o partido recusou enviar os nomes. Fora nessa fase que o Augusto Olivais foi citado como o futuro Primeiro-ministro, mas o partido não enviou um único nome.
Para a escolha de Primeiro-ministro recebemos sete nomes e fizemos uma triagem. Ficaram três nomes. Os sete nomes eram, Faustino Imbali, Paulo Gomes, Rui de Barros, Francisco Fadul, Augusto Olivais, Malam Sambú e mais um nome de que não me recordo. Depois da triagem ficamos com apenas três pessoas, nomeadamente, Paulo Gomes, Rui de Barros e Malam Sambú. Desses três nomes escolheu-se Rui de Barros. Portanto não foi uma escolha do Presidente Nhamadjo, mas sim do colectivo dos partidos políticos.

OD: Os protagonistas de transição eram apelidados na rua de golpistas. O senhor é golpista ou salvador do povo?
MSN: Nunca me considerei de golpista e jamais me considerarei de golpista. Nenhum militar guineense pode afirmar que alguma vez me abordou para me juntar a um golpe. Aliás, conheci a maioria dos responsáveis militares já na transição. Eu nunca fui golpista e sempre serei defensor da legalidade, mas era imperativo que alguém assumisse para gerir a transição.
Esse alguém acidentalmente era o Serifo Nhamadjo que estava à frente do parlamento guineense. Se eu não fosse candidato naquela altura, se calhar o PAIGC não me teria condenado. O facto de desafiar o partido e de me apresentar como candidato transformou-me em ovelha negra.
OD: Senhor Presidente que análises faz do desempenho do actual Governo?
MSN: Não tive tempo suficiente para apreciar a governação, mas considero que ainda é muito prematuro, porque não é com um ou dois anos é que se pode avaliar a governação. A única coisa que quero aconselhar tal como tinha feito, quando sai da audiência com o Presidente da Assembleia, é que os dirigentes das três instituições, designadamente a Presidência da República, o Parlamento e a Primatura tenham muita humildade.
O Presidente da República, o presidente de Assembleia Nacional Popular e o Primeiro-ministro têm que ter a paciência de ouvir as pessoas. Sobretudo têm que ser dialogantes de forma a poderem ultrapassar os diferendos. Só com esses elementos é que poderão conduzir esse país, porque a Guiné é um país muito complicado. Aquele que te apoia hoje, amanhã vai querer crucificar-te.
Criou-se muita expectativa à volta das novas autoridades, por isso é preciso gerir muito bem as coisas. É muito importante que as pessoas saibam que todo o mundo que apoiou José Mário Vaz, Cipriano Cassamá e Domingos Simões Pereira não podem ser nomeadas, razão pela qual não devem sentir-se mal ao ponto de se tornarem adversários ferrenhos umas das outras.
OD: Fala-se neste momento de uma situação de tensão institucional entre o Presidente da República e o Primeiro-ministro, como também entre o Presidente da República e o Presidente de Assembleia. Como é que interpreta essa situação?
MSN: Se calhar é por falta de diálogo, porque há especialistas em intrigas e se não conseguem dialogar, é porque esses especialistas farão tudo para que os três não se entendam. Essa situação é protagonizada pelos “entourage” que aparecem com informações de calúnias. Quando a pessoa está à frente, está como um refém, por isso tem que ter a capacidade de ultrapassar essas situações.
O Presidente da República, na minha prespectiva, deveria convidar o Presidente de Parlamento para uma discussão séria e sincera entre os dois. Deveria convidar também o Primeiro-ministro para o mesmo tipo de discussão.
Até pode ser um encontro a três para debaterem seriamente os assuntos que os opõe. São todos do mesmo partido. Qual será a razão de não conseguirem se entender?! Isso merece a preocupação de toda agente.
O país está nas mãos destas três pessoas, por isso têm a responsabilidade de coabitaram na diversidade. Não há direito de porem em causa a estabilidade deste país, por mais capricho que cada um deles queira ter. Não têm direito pôr em causa as conquistas, porque trazer o país a estabilidade custou muito.
Não foi nada fácil e nós sofremos muito. Foram os insultos, as privações e problemas de saúde. Sofremos de tudo isso, mas conseguimos levar o país ao bom termo através da realização das eleições gerais, num ambiente tranquilo.
Agora têm a responsabilidade de regar essa estabilidade e dar mais impulso para o desenvolvimento. Que não se deixem arrastar por aquelas pessoas que dizem: Chefe é você que admite isso, mas isso não pode ser. Essas pessoas são intriguistas e eles jamais devem permitir que sejam guiados por essas pessoas.
OD: Será que o Presidente foi vítima destes intriguistas no período de transição?
MSN: Tentaram algumas vezes no período da transição. Se eu fosse uma pessoa rancorosa, certamente que iria entrar na situação da vingança contra pessoas que me insultaram ou aquelas que me trataram mal. Felizmente não entrei naquela situação.Por isso, ninguém e ninguém mesmo pode levantar o braço para afirmar que eu lhe fiz-lhe ou mandei alguém para fazer-lhe mal.
Inclusive os que me insultaram durante a campanha eleitoral que culminou com o golpe de Estado (12 de Abril de 2012), muitos foram promovidos por mim. Eu compreendo que é preciso coabitar na diversidade, portanto essas pessoas hoje são as minhas melhores amigas.
D: O Governo conseguiu uma grande soma prometidas pelos parceiros internacionais aquando da reunião da Mesa Redonda de Bruxelas (Bélgica). Qual deveria ser o passo seguinte do executivo, na sua opinião?
MSN: É muito bom inspirar-se no passado, porque a Guiné-Bissau já teve várias mesas redondas que acabaram sempre em promessas. A expectativa que se criou a volta da mesa redonda é grande, mas se não for bem gerida certamente criará frustrações. É bom saber que nem tudo que se promete consegue-se, no entanto, a melhor forma de tirar proveito dessa boa vontade da comunidade internacional é que os três responsáveis das principais instituições do país estarem do mesmo lado.
É chegado o momento de se juntarem as cabeças no sentido de dialogarem para o bem deste país, porque só assim poderemos dar mais credibilidade e consistência às vontades que se manifestarem nas mesas redondas.
OD: Há uma polémica em termos da exploração da areia pesada de Varela. O que é que o Presidente sabe desse dossier?
MSN: Essa história de areia começou muito antes da transição. Lembro-me que no momento em que se falava da areia eu ainda era o Presidente de Assembleia. Inclusive houve pessoas notificadas por causa de contentores enviados indevidamente para a China. O que é preciso é que as pessoas tenham a certeza daquilo que dizem. Porque uma empresa tal como a da China ou a da Rússia, ou seja, as duas empresas que estavam implicadas não saíram dos seus países para virem extrair areia aqui sem terem um aval das autoridades em exercício.
Há que se cumprir com a lei na íntegra. Agora o facto de eu não gostar de fulano ou beltrano que vai ganhar muito dinheiro com isso, implica que não deva permitir-lhe fazer o negócio?!
Aquilo que é mais importante, é que as autoridades devem pedir aos técnicos um parecer independente, se tiverem dúvidas. Se o parecer dos técnicos der razão a quem quer que seja, (deixemo-lo trabalhar) porque as areias de Varela são recursos do país e só darão benéficos se forem traduzidos em recursos financeiros para o bem do país.
OD: Qual é o seu futuro político, sobretudo ao nível do PAIGC?
MSN: Eu sou e serei sempre o militante do PAIGC. Como dirigente, se eu puder participar num congresso, talvez um dia possa ser um dirigente do PAIGC de novo. Neste momento estou mais ligado às actividades privadas, tal como fazia antigamente. Fui quadro técnico das obras públicas durante cerca de 30 anos em paralelo com as funções que desempenhava no parlamento.
Uma vez chegado ao topo, só posso estar disponível para ajudar o país naquilo que for necessário, e se entenderem que poderei ser útil, estarei sempre disponível para ajudar, se me chamarem.
OD: Como vê a gestão de presidente do PAIGC, Domingos Simões Pereira?
MSN: Para ser sincero eu não estou muito informado, porque nunca mais pus os pés na sede do partido. Recusei participar no congresso, porque na altura estava a desempenhar a função de Presidente da República e queria ser equidistante. Depois da investidura do novo Presidente, tive que sair do país para um controlo médico. Estou equidistante da política activa e só recebo informações através de vocês, portanto acompanho a situação do país através da imprensa.
OD: Então, o senhor não foi expulso do partido?
MSN: Que eu saiba, não fui expulso do partido. Não participei no congresso, por isso não tenho direito de ser eleito como dirigente do partido. Alguns dos meus apoiantes são dirigentes do partido neste momento, entretanto isso demostra que ninguém foi expulso.
OD: O senhor vai se apresentar como o candidato a presidência do PAIGC no próximo congresso?
MSN: Não. Eu quereria tudo menos ser o candidato ao presidente do PAIGC.
OD: Fala-se na possibilidade da sua candidatura para o cargo de Presidente da República?
MSN: Sobre isso não pronunciarei nada, porque nem se quer estou disponível para essas coisas. Eu candidatei-me no passado à Presidência da República, porque na altura fui solicitado por muitos militantes. Não me considero alguém que se levante e diz: sou candidato ao cargo de Presidente da República.
Candidatei-me no passado devido a algumas situações anormais no partido e as pessoas não queriam ouvir-me. Como diz um provérbio da língua crioula “kombersa di magru ka ta obidu na kau di fola baka” que é como quem diz aqui manda a lei dos mais fortes. Foi isso que aconteceu, porque eu pertencia a sensibilidade de falecido Presidente, Malam Bacai Sanhá. Felizmente hoje muitas pessoas acham que eu tinha razão.
OD: Como interpreta a escolha dos membros de Conselho de Estado, sobretudo a nomeação dos veteranos do PAIGC?
MSN: Eu acho que ele fez a escolha que achou correta, porque isso da escolha tem a ver com o gosto e a confiança de cada um. Ele fez a escolha que achou ser mais ajustada ao momento, por isso respeito.
OD: Que leitura faz da chegada ao poder na Nigéria, da parte de General Mohamed Buary?
MSN: O General Buary conseguiu granjear certa simpatia mesmo ao nível do partido no poder. Houve grupos que foram juntar-se a ele. Sabe-se que nisso de governação há desgastes, quando há desgastes e lutas políticas por meio, há sempre essas situações. Li um pouco sobre o General Buary, mas não o conheço como (conheço) o Jonathan.
Jonathan humanamente é uma pessoa extraordinária. Tive a oportunidade de trabalhar com ele. Foi graças a ele que tive a sorte de ser tratado na Alemanha. Foi um irmão para mim. Hoje mais de que nunca a nossa (amizade) está muito mais consolidada. Quando ele anunciou ter perdido as eleições, telefonei-lhe no dia seguinte a dar o meu conforto e ele numa da passagem da nossa conversa, disse-me que estava agora livre como eu.
Não imaginem o que é estar à frente de uma nação, sobretudo uma nação como a Nigéria que é um país tão imenso com todos os problemas e interesses económicos e a situação de Boko Haram. Sair como ele saiu hoje, terá várias noites de sono profundo para relaxar.
OD: Senhor Presidente está optimista quanto ao futuro do General?
MSN: Nós todos vamos rezar para que ele tenha o sucesso no seu mandato, porque o caso de Boko Haram pode alastrar-se a sub-região é um perigo permanente para todos nós. Começou de uma forma pequenina e ninguém deu valor no momento, pelo que cresceu de forma rápida até que chegar neste ponto. Agora tem a injecção de vários financiadores obscuros e ganhou uma proporção que mete medo.
O nosso maior medo é que não se transformem em bombistas, porque é o maior perigo que pode acontecer. Oxalá que Buary consiga resolver esse problema com a conjugação de todos os esforços da CEDEAO, de forma a travar o grupo.
OD: Existem rumores que indicam que o senhor foi esbofeteado na altura de transição pelo então Chefe de Estado-maior General das Forças Armadas, General António Indjai. Quer fazer um comentário sobre isso?
MSN: Acho uma piada de mau gosto esses rumores, porque quem me telefonou a dizer isso foi o próprio, o General Indjai. E quando voltei da viagem, ele disse-me assim: meu irmão se fores em viagem não demore muito, porque não imagina os rumores que puseram a circular aqui. Disseram que nós brigamos e que até dei-lhe uma chapada e mais outras coisas.
Eu respondi-lhe General, não sabem que no dia em que alguém me der uma bofetada morrerei naquele dia, porque sou digno e não permitirei isso. Se alguém me der uma bofetada por causa de uma disputa política, garanto que essa pessoa terá que me matar porque se não, vamos ficar ali até que consega esbofeteá-lo também.
OD: Tens a esperança que o Benfica de Bissau e de Portugal vão se sagrar campeões?
MSN: O meu maior desejo é ver o Benfica de Bissau e de Portugal vencerem os campeonatos. Vou continuar a rezar para que assim seja. Confesso que não acompanho com frequência o campeonato nacional, mas consigo a informações dos resultados dos jogos do Benfica através dos rapazes que trabalham aqui na obra. Acompanho sempre os jogos do Benfica de Portugal pela televisão. Não perco nenhum.

Por: Assana Sambú/António Nhaga
Foto: Marcelo N´Canha Na Ritche

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