África na segunda guerra mundial: um capítulo esquecido



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Mais de um milhão de soldados africanos combateram na II Guerra Mundial e ajudaram a libertar a Europa do fascismo. Mas o reconhecimento é quase nulo. Os poucos que sobreviveram reclamam até hoje pelos seus direitos.

A partir de 3 de Setembro de 1939, quando a Grã-Bretanha e a França declararam guerras à Alemanha, os Aliados recrutaram nas suas colónias cerca de meio milhão de soldados e operários.

Soldados coloniais de toda a África subsaariana e do norte do continente tiveram de lutar contra as tropas alemãs e italianas no norte de África e na Europa durante a guerra. Mais tarde também combateram contra os japoneses na Ásia e no Pacífico.

Foram forçados ao serviço militar, mal tratados, usados como "carne para canhão" e mal compensados quando voltaram da guerra. Milhares de africanos contribuíram para libertar a Europa do fascismo. No entanto, este é um capítulo que não sobressai nos livros de História alemães.

Recrutamento forçado

Nos noticiários na Europa falava-se em "voluntários". Mas o veterano congolês Albert Kuniuku, de 93 anos, tem outra versão. "Foi um verdadeiro recrutamento forçado", sublinha o antigo soldado.

"Eu trabalhava numa empresa têxtil quando nos foram buscar. Depois foram a outras empresas, como a Chanic, a Ontara e a Archevin. Todos os jovens trabalhadores foram recrutados. Nenhum deles tinha mais de 30 anos", conta.

Albert Kuniuku é presidente da União dos Veteranos Congoleses (UNACO) em Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo. Até 1960, o país foi governado pela Bélgica.

O antigo soldado é um dos últimos sobreviventes de uma unidade expedicionária que lutou contra os japoneses na Índia e no Myanmar (antiga Birmânia), entre 1940 e 1946, sob comando britânico e belga, longe dos campos de batalha da Europa.

Kuniuku achava que nunca iria voltar. "Quando partimos, pensei que nunca mais voltaria a ver a minha família e que o meu corpo seria enterrado bem longe do meu país. Disseram-nos que íamos lutar contra os japoneses, que estavam do lado dos nazis," recorda.

"Carne para canhão"

Em 1939, o exército francês recrutou cerca de 100 mil africanos ocidentais para combates na França, na Alemanha e em Itália. Até hoje discute-se se os soldados coloniais africanos terão servido apenas como "carne para canhão".

O que é certo é que os soldados africanos acabaram por ter contacto com soldados europeus e com a vida na Europa. Isso teve um impacto na sua consciencialização e, consequentemente, também na sua ação política nos países de origem.

"Durante a guerra, vimos os brancos nus e não nos esquecemos disso", disse o escritor e cineasta senegalês Usman Sember, ele próprio um antigo soldado colonial.

Segundo o jornalista alemão Karl Rössel, que durante dez anos investigou o tema na África Ocidental, essas experiências tiveram consequências vastas. "O facto de os soldados coloniais terem testemunhado, pela primeira vez, que a chamada 'raça superior' sofreu e morreu, na lama e na imundice, mostrou-lhes que não há diferenças entre as pessoas", explica. "Isso fez com que muitos apoiassem os movimentos independentistas nos seus países."

Falta de reconhecimento

Muitos veteranos sentem-se orgulhosos por terem lutado pela libertação da Europa do fascismo. Ao mesmo tempo, ficou também uma certa amargura porque até hoje houve muito pouco ou nenhum reconhecimento por isso.

"Sabemos que os belgas pagaram um prémio, durante o regime de Mobutu, mas até hoje não recebemos nada", lamenta o veterano congolês Albert Kuniuku. Atualmente, recebe uma pensão mensal de cerca de cinco euros. "Não é um valor digno de alguém que representou os interesses da Bélgica", critica.

Albert Kuniuku voltou à sua terra natal em 1946, depois de dois anos a combater no sul da Ásia. O congolês é um dos poucos sobreviventes de um total de 25 mil soldados africanos que partiram com ele para a Índia.~


Noutros lugares milhares de jovens africanos com menos de 30 anos deram as suas vidas por uma guerra que não era deles.

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