DOMINGOS SIMÕES PEREIRA: Elogio fúnebre à memória de Fafali Koudawo


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Este faz parte do rol de privilégios que todos certamente preferimos não ter, ou pelo menos não exercer…

o de falar em despedida de um amigo e sobretudo de alguém com esta estatura e dimensão…
Fafali Koudawo era grande em todos os domínios e competências. Enquanto homem, enquanto analista ou enquanto académico: cientista político, historiador ou sociólogo. Quem tinha a oportunidade de conversar com Fafali descobria tratar-se de uma mente ordenada e muito desenvolvida. Quem lê seus escritos e dissertações, certamente compreende uma linha de pensamento coerente e objectivo. Quem observou sua postura terá se surpreendido com a sua deslumbrante humildade, mesmo que guardando sempre uma impressionante verticalidade.
Fafali era intelectualmente honesto. Tinha convicções e as defendia de forma assumida e declarada. Mas tinha sobretudo uma linha de análise bastante estruturada. Conhecia a história das coisas, ia à raiz das substâncias, tinha um rol de referências e sabia comparar as grandezas. Associava a esta elevação um pragmatismo que sempre nos surpreendia.
Fafali era crente e cristão, e por isso se achava sempre limitado, mesmo naqueles tributos em que todos lhe reconheciam Excelência.
Hoje, tudo parecerá claro e evidente… mas também terrivelmente tardio…
Fomos muito infelizes ao retardar o direito do Fafali portar e exibir a nacionalidade. Ele conquistou e suplantou esse direito pela identificação com os valores mais nobres que seguimos perseguindo para a construção da nação prometida; seus feitos e factos sempre o colocaram no pedestal da representação do que a Guiné teve de mais nobre e mais culto.
Hoje, o Conselho de Ministros acaba de outorgar a Fafali Koudawo, a título póstumo, o estatuto de cidadão nacional, com a esperança de redimir deste destino já fatal; cumprir o preceito de uma homenagem mais que merecida e nos justificarmos perante quem tem seu sangue e seu nome.
Mas, visamos ainda, enquanto membros desta entidade do poder dos homens, estancar uma distorção hereditária e social, conferindo aos herdeiros de Fafali, a plenitude dos direitos legais que este país manda aplicar. O resto, julgamos saber, o Fafali já os legou pelos ensinamentos de que os não terá poupado.
Fafali era um <Homem Grande> e estes normalmente não se circunscrevem a espaços, a momentos, nem às vontades. Estes limitam-se a existir e, na sua interação quotidiana com a realidade, vão deixando impressões e sinais que aqueles que os seguem, muitas gerações seguintes têm de decifrar, para de facto acederem aos ensinamentos de incalculável valor e pertinência assim deixados.
Ellen G. White, numa dedicatoria no seu livro “o último trem” dizia: <a maior necessidade do mundo é de homens – homens que no intimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que nãoi temam chamar o pecado pelo seu nome exacto; homens cuja consciência seja tao fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é recto, ainda que caiam os céus>.
Flavien Fafali Koudawo, Professor, amigo, conterrâneo. Pai, marido, irmão, Camarada. Foste demasiado cedo para tantas tarefas que ainda cá tinhas. Eu próprio questiono: quem agora responderá às várias inquietudes e as interrogações que te dirigia; Quem poderá cuidar em teu lugar e à tua maneira do Colinas do Boé; Quem apontará com a tua precisão e acutilância mas também com a tua neutralidade, o ponto de equilíbrio do nosso incessante debate político. Quem lerá os meus rabiscos sempre desordenados e com dois toques fazê-los textos.
Sim, arriscamos ficar de novo órfãos, apesar de que , 1973 já devia nos ter ensinado ser esta a sina de quem tem Homens tão grandes.
Parece irem sempre mais cedo que o seu tempo. Que seja então porque Deus tem outras missões a lhe confiar e que estas incluam o olhar por nós, por este seu povo, repartida por vários quadrantes, da Guiné e do Togo, pela África e um pouco por todo o mundo.
Até sempre Fafali!

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