O
primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, anunciou hoje uma "remodelação drástica" do Governo, na mensagem de final de
ano, reiterando que vai abandonar a liderança do executivo.
"É tempo de mudanças! É já tempo para alterar as condições
atuais de liderança de Timor-Leste. Vou proceder à reestruturação drástica do V
Governo", pode
ler-se no discurso publicado na imprensa timorense em língua portuguesa.
Na mensagem,
o chefe do Governo reconheceu a sua "total
inabilidade para criar mudanças" e que tem havido da sua parte uma "natural
tendência de insuflar nas pessoas o fácil acesso a coisas supérfluas".
"Reconheço a minha total inabilidade de apresentar à sociedade em
geral expetativas mais realistas e reconheço ainda essa natural tendência de
imprimir uma negativa ânsia de solução rápida de todos os problemas, desde os
mais pequeninos", prosseguiu o primeiro-ministro.
Para Xanana
Gusmão, a sociedade timorense já tem pessoas capazes e instruídas e é tempo
de abrir aos que "potencialmente podem
dar mais e melhor ao país" e deixar de estar dependente da
decisão de uma pessoa, disse, considerando que não é o mais habilitado para as
novas exigências do país.
"Essa pessoa que sou eu só tem o segundo ciclo do liceu, equivalente
ao ensino secundário dos dias de hoje. Afasto-me e fico à espera de ser julgado
por prática de crimes que eu tenha cometido ou ajudado a cometer para o
contento de algumas pessoas honestas (e são poucas) em Timor-Leste", salientou.
Organizações
da sociedade civil têm acusado o atual Governo de atos de corrupção,
nomeadamente devido ao processo judicial que decorre contra a ministra das
Finanças, Emília Pires.
Na mensagem,
Xanana Gusmão pediu desculpa aos colegas do Governo que "esperaram um ano inteiro sem ouvir nada sobre"
a remodelação do executivo, anunciada publicamente no final de 2013.
"Preparemo-nos todos e desde agora, em nome dos interesses nacionais,
a aceitar as decisões que tomarei como atual chefe do Governo", afirmou, pedindo também desculpas
aos partidos da coligação que suporta o executivo -- Conselho Nacional da
Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), Partido Democrático (PD) e Frente de
Mudança.
Xanana
Gusmão disse ainda
que a remodelação do Governo "não pode
obedecer já aos interesses de cada partido, mas aos interesses que o Governo
tem em sua mão, para responder perante o Povo e perante a Nação".
Segundo o
primeiro-ministro, o novo Governo vai ter "real
oportunidade de progredir sensivelmente porque todos terão aproveitado para
corrigir" os erros que ele próprio terá "deixado como legado à nova
liderança do país".
"Reconheço que não consegui satisfazer todas as exigências impostas
pela sociedade e não pude responder a todas as expetativas", sublinhou o chefe do executivo.
Na mensagem,
Xanana Gusmão disse que pretende "evitar
cair no ridículo de persistir em incutir um tom personalizado ao processo de
construção do país".
"Processo esse que tem de ser democrático, inclusivo e participativo,
um bonito slogan segundo o qual, através de primaveras árabes e contingentes de
manutenção de paz em África, permite que os povos beneficiem de paz duradora e
de desenvolvimento sustentável", referiu.
O chefe do
Governo sublinhou ainda que continua apenas "um
guerrilheiro" e pediu a todos que respeitem aquele sentimento.
"Hoje levo um fardo maior porque os desafios são
imensamente medonhos e diversificados e as dificuldades mais sensíveis do país
são da ordem das fragilidades estruturais, de caráter da inoperância técnica,
da morbidez de valores culturais e do abandono das normas éticas de sacrifício
e dedicação", referiu.
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