A judoca nacional, Taciana Rezende de Lima Baldé, revelou numa
entrevista exclusiva a’O Democrata que o seu maior sonho é de
desenvolver um projecto de judo escolar na Guiné-Bissau com o apoio da
Federação Internacional (FIJ) da modalidade que já ajudou alguns países.
A FIJ já disponibilizou apoios de género para criação de escolas que
vão educar crianças, ensiná-las sobre o desporto, em especial a
modalidade de Judô. A judoca avançou ao nosso jornal que pretende
pendurar a sua “Kimono”, roupa que profissionais de judo usam na arena
para os combates, depois dos jogos Olímpicos 2016 no Rio de Janeiro para
de seguida assumir os comandos da selecção nacional de judô.
Taciana Baldé arrecadou nove títulos apenas neste ano de 2014. O
último Ouro foi conquistado no Campeonato africano de Judô realizado nas
Ilhas Maurícias, quando defendeu com êxito o seu título de campeã de
2013 em Maputo (Moçambique). Esta última vitória fez da Taciana a
bicampeã africana, primeira classificada no ranking africano e sexta
colocada no ranking mundial da Federação Internacional de Judô.
Além do título de campeã africana, Baldé foi bronzeada na grand slam
de Abu Dhabi – Emirados Árabes, Grand Slam Tyumen, Rússia e Grand prix
Zagreb, Croácia. Foi medalha de bronze na Grand prix Samsung, Turquia e
European Open Varsóvia, Polónia, medalha de prata na European open em
Roma, Itália e foi a medalha de ouro nos jogos da lusofonia em Goa,
Índia. A atleta sublinhou que o ano 2014 foi a melhor em toda a sua
carreira de judoca.
O DEMOCRATA (OD): Taciana como vai a sua carreira profissional de judoca?
TACIANA REZENDE DE LIMA BALDÉ (TLB): Fazendo um
breve historial, comecei minha carreira em 1998, quando integrei a
selecção brasileira. Tinha apenas 14 anos. Em 2013 fui conhecer o meu
pai, depois dos meus 29 anos. Encontramo-nos pela primeira vez em
Bissau. A partir daquela data, senti que precisava fazer alguma coisa
para a Guiné-Bissau. Achava que se pudesse trocar a selecção brasileira
pelas cores da Guiné-Bissau podia trazer muita alegria ao desporto
guineense, em particular o judô que poderá ser mais visto, estimulando
as outras pessoas a praticarem o desporto.
Representei a Guiné-Bissau pela primeira vez no Campeonato da África
em 2013, realizado em Maputo, Moçambique, onde fui a campeã de África. A
partir dali as coisas só têm melhorado e este ano foi o melhor dos meus
20 anos nessa carreira de judoca. Obtive nove medalhas internacionais,
fui ouro nos jogos da lusofonia. Também ganhei uma medalha de ouro e
outro de prata em copas do mundo e alguns bronzes em grand slam e grand
prix. Acabo o ano como a sexta do ranking mundial e a primeira do
ranking Africano.
D: Foi fácil a sua decisão de trocar o Brasil pela Guiné-Bissau?
TLB: Não foi tão fácil, mas na tomada das decisões
desse género a pessoa tem de estar muito certa daquilo que esta a fazer.
Uma vez trocado o Brasil pela Guiné-Bissau, não se pode mais voltar
atrás. Mas também não me arrependo por ter escolhido a Guiné-Bissau.
Deixei para trás os apoios do Governo brasileiro e dos clubes, muita
gente me perguntou se eu ia ter essa coragem. Respondi que sim, que
teria, porque alguma coisa me dizia que tinha que fazer isso. É a
realização de um sonho para mim, por isso, não me arrependo.
Assim como em todos os lugares do mundo que vou e em todos os
torneios que participo, as pessoas sempre vêem-me perguntar, onde fica a
Guiné-Bissau. Eu tenho que explicar que fica na Costa Ocidental da
África e muitas pessoas que não conheciam o nosso país, ficam a
conhecê-lo através das minhas participações. Isso para mim também é uma
questão de orgulho a par das mensagens que recebo nas redes sociais do
povo da Guiné-Bissau sempre atento as minhas participações nas provas.
As pessoas estão felizes com as minhas conquistas e ficam orgulhosas por
eu estar a representar a Guiné-Bissau e colocando a bandeira do país
nos pódios do desporto mundial. Isto já é uma grande satisfação para
mim.
Obviamente que não é fácil. Precisamos do investimento no desporto,
no desporto de alto rendimento temos de treinar duas vezes por dia de
segunda a sábado e para isso temos de ser disciplinados, desde a
alimentação até na parte psicológica. Estes são os investimentos que
cada atleta tem que poder fazer por si. Não é fácil, mas é muito
prazeroso quando a gente gosta. É isso que eu gosto de fazer.
D: Para si que sabor tem em representar a Guiné-Bissau nos palcos internacionais?
TLB: Eu estou muito feliz em estar a demostrar ao
povo até onde as pessoas podem ir, através do desporto. O desporto
também é educação, o desporto tira os adolescentes de uma vida de drogas
para uma vida digna na sociedade e o desporto ajuda a promover e
aumentar a nossa cultura. Querendo ou não, em cada competição que eu vou
a diferentes lugares do mundo, é uma cultura que eu conheço. Para mim
isso é uma aprendizagem não só desportiva. Então constitui um motivo de
felicidade para mim e quero ainda continuar no mínimo até aos jogos
Olímpicos 2016.
D: Falando das dificuldades, será que a Taciana tem recebido apoios das autoridades guineenses?
TLB: Tenho recebido alguns apoios do Comité Olímpico
da Guiné-Bissau para as minhas participações em algumas competições. Da
parte do Governo recebi um apoio para a minha participação no último
campeonato Africano. Foi no último do ano, nas Ilhas Maurícias, e
conquistei a medalha de ouro.
Devido às dificuldades financeiras, fui obrigado a optar em fixar
residência em Portugal, sendo a cidade de Lisboa um lugar que facilita
as minhas deslocações para os pontos onde a maior parte das provas são
realizadas. Os bilhetes são mais baratos de Portugal para qualquer ponto
da Europa. Mesmo assim ainda preciso de apoio de empresas para que
possa treinar adequadamente até aos jogos Olímpicos 2016.
Acredito que o Governo vai desenvolver um projecto para os seus
atletas. Não apenas eu, mas para todos os atletas das diferentes
modalidades que compõem o nosso desporto nacional, para que possamos
estar bem representados nos campeonatos africanos, assim como nos jogos
Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, Brasil.
D: Como foi essa sua mudança do Brasil para Portugal?
TLB: Resolvi tudo no final de 2013. Achei que uma
eventual mudança para Portugal seria importante para mim. Também tenho o
apoio da (FIJ) que me dá algumas possibilidades de participar em
algumas competições durante o ano. O gesto da FIJ contribuiu bastante na
minha subida do ranking, porque no circuito mundial há sempre duas
competições por mês. Então para constar entre os 14 melhores, o que
garante a participação nos jogos Olímpicos, tem que estar sempre a
competir. A FIJ apoia-me em algumas competições, não muitas. Aliás, esta
organização condiciona o seu apoio a minha estada na Europa.
Por outro lado, o lugar mais barato e com boas condições para treinar
judo, na minha visão era Lisboa. Por isso resolvi fazer essa troca. A
minha família ficou toda no Brasil, vim sozinha. Claro que não é fácil. É
bom quando a gente enfrenta dificuldades estando perto da família. Mas é
um sonho, estou construindo um trabalho e quero leva-lo até ao fim.
Neste momento tenho como objetivo os jogos Olímpicos de 2016 no Rio de
Janeiro.
Quando resolvi mudar para Lisboa quem me apoiou foi o meu padrasto.
Pagava as minhas despesas. Infelizmente ele acabou por falecer em Junho
deste ano. Tudo mudou a partir dali. Muita coisa mudou na minha situação
diária. Agora as coisas não estão a ser fáceis. Continuar os treinos
está difícil, mas estou procurando apoios. Acredito que o Governo vai
apoiar-me, tornando mais fácil o ano 2015. Apesar de todas as
dificuldades, tenho boas memórias de 2014 por ser o melhor dos meus 20
anos de Judô.
D: Sendo a modalidade de Judô um desporto pouco conhecido pelos guineenses, que projecto tem para vulgarizá-lo no país?
TLB: Tenho um projecto e já falei com a FIJ. Eles
executam projectos em vários países, desenvolvendo Judô e educação. Já
perguntei da disponibilidade da FIJ em garantir materiais para que possa
desenvolver o projecto escolar na Guiné-Bissau. A resposta foi
positiva. Pediram que apresentasse um projecto que eles apoiariam com
materiais. Agora tenho de ir a Guiné-Bissau, sentar a mesma mesa com o
Secretário de Estado dos Desportos, expor-lhe a minha ideia e escutar a
sua sugestão sobre o projecto. Assim e em conjunto podemos decidir qual
será a melhor forma, para de seguida apresentar o projecto a FIJ.
Isso foi um dos maiores objectivos que me levou a trocar o Brasil
pela Guiné-Bissau, a fim de poder ajudar a desenvolver o desporto, e
para que outras pessoas possam ter a mesma oportunidade que tive na
minha vida, através do desporto, É isso que quero fazer.
Este projecto está encaixado na minha cabeça e constitui o meu segundo objectivo depois dos jogos Olímpicos.
OD: Isso demostra que vamos ter a Taciana no país, só depois dos jogos Olímpicos?
TLB: Não. Pretendo vir rapidamente, mas ainda não
tenho dinheiro para viajar para a Guiné-Bissau. Mas a minha vontade é de
ir se possível para conhecer pessoalmente as pessoas que mandam
mensagens, dando sempre aquela força. Para que possa também apresentar
as minhas medalhas pessoalmente. Naturalmente que terá outro sabor do
que ler pelos jornais ou pela internet. Com certeza que irei à primeira
oportunidade.
OD: A Taciana tem na memória, as medalhas já conquistadas ao longo dos seus 20 anos como judoca?
TLB: É um pouco difícil, não consigo lembrar tudo
imagina há 20 anos são muitos torneios, mas em 2002 fui medalha de
bronze no mundial de juniores, fui campeã do continente americano três
vezes e dentro do Brasil fui mais de que dez vezes campeã nacional.
Agora pela selecção da Guiné-Bissau fui bicampeã da África em 2013 e
2014, respectivamente. E fui campeã dos jogos da lusofonia e tenho cinco
medalhas de ouro em copas do mundo, isso é um breve do meu percurso.
OD: Já solicitou algum apoio da parte das
autoridades nacionais, no sentido de preparar os próximos embates para
manter a sua sexta posição do ranking mundial, garantindo a sua presença
na terra que a viu nascer, o Brasil, em 2016?
TRLB: Estou sempre em contacto com a Guiné. Espero
obter resultados positivos, porque já me apoiaram e acredito que vão
apoiar ainda mais daqui para frente. Os apoios que já tive sempre
tiveram retornos com a conquista de medalhas, isso demostra que
continuarei a ganhar apoios vindos da Guiné-Bissau.
OD: Qual é a força que inspira a Taciana nas arenas de Judô, existe uma pessoa especial?
TLB: A minha força é toda minha família. Hoje estou
onde estou, graças à única coisa que me deixa triste: o facto de o meu
padrasto não estar entre nós, para me ver nos jogos Olímpicos de 2016 no
Brasil. Mas com certeza é a minha família que me dá forças. Por isso,
dou as minhas forças aos amantes do desporto, em particular os
praticantes. Nunca desistam dos sonhos, por difícil que seja, mostrem a
todos que é possível vencer os obstáculos, sei que existem muitos
talentos a serem descobertos, então que tenham a vontade de crescer. Por
isso, gosto dessa frase que diz assim, “O Homem é tamanho do seu
sonho”.
Agradeço ao povo guineense, ao Comité Olímpico da Guiné-Bissau e ao
Governo por estarem sempre disponíveis para me escutarem e se Deus
quiser o próximo ano será o ano de mais conquistas, em particular para a
Federação Nacional de Judô que me tem acompanhado neste ano 2014.
OD: Enquanto profissional de Judô, que
decidiu trocar o Brasil pela Guiné-Bissau tem acompanhado a situação
sociopolítica guineense nos media?
TLB: Sim acompanho um pouco através da internet, vi
que a Guiné-Bissau obteve uma grande mudança, mas para, além disso, não
posso dar mais opiniões, devido a poucas informações que tenho. Pelo que
vejo, acho que as coisas estão a melhorar com esse Governo. As coisas
podem melhorar ainda mais. É apenas uma questão de termos paciência e
acreditar em quem está no comando.
OD: Desculpe pela pergunta, entrando um pouco na sua vida privada, Taciana é casada ou tem filho?
TLB: Tenho um filho, mas não consigo conciliar a
vida de desportista e cuidar de uma família. Em princípio lutarei para
as olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro e não lutarei mais, porque
pretendo ter filhos e montar uma família.
OD: Significa que depois das olimpíadas a Taciana vai pendurar a sua Kimono, mas continuará ligada ao desporto, em particular Judô?
TLB: Em principio achei que em 2016 não praticarei
mais, mas como é uma grande paixão não posso garantir a cem por cento.
Em principio em 2016 se Deus quiser, com uma medalha Olímpica não só
para mim, mas para os outros atletas da Guiné, pretendo passar a
trabalhar com crianças, montar escolas e ser seleccionadora da selecção
de Judô da Guiné-Bissau.
OD: Pensa instalar-se no país depois das olimpíadas de 2016
ou permanecer em Portugal, mas sempre apoiando a Guiné-Bissau nesta
modalidade?
TLB: Tudo vai depender da estrutura de trabalho para
desenvolver os atletas. Com certeza, tenho muita vontade de ir
trabalhar para Guiné, por que o nosso país tem muita matéria-prima a
explorar. Acho que seria bom desenvolver um trabalho dentro da
Guiné-Bissau, recrutando vários atletas com os quais o país poderá obter
bons resultados no mundo.
OD: Lembrou-se de dois momentos que marcaram a sua carreira
ao longo dos vinte anos. Um no qual sentiu-se muito triste e um outro
que ficará sempre guardado na sua boa memória?
TLB: O pior momento da minha carreira foi quando
fiquei fora dos jogos Olímpicos 2012, em Londres pela selecção
brasileira, devido a uma situação de Doping. Tive de esperar os
resultados. Há 15 meses e até então não tenho uma explicação do que me
aconteceu. Essa ausência custou-me bastante, foi realmente muito triste.
E a melhor coisa que me aconteceu foi o ano 2014, onde obtive nove
medalhas e vou acabar o ano em sexta posição do Ranking Mundial e como a
primeira classificada no Ranking Africano. Tudo isso é um grande motivo
de alegria e é um marco que jamais esquecerei.
OD: Como um desportista, será que acompanha as exibições dos futebolistas nacionais na Europa, sobretudo em Portugal?
TLB: Não acompanho a cem por cento, mas sei que há
um jogador de futebol de origem guineense na selecção portuguesa, (Éder)
que participou pela equipa portuguesa na copa do mundo do Brasil. Ele é
atacante, este realmente já acompanhei. Tenho descoberto pela televisão
que alguns jogadores são guineenses e são muito bons. Mas a pena é que a
maioria acaba por ter a nacionalidade portuguesa e competindo pela
equipa das Quinas. Isso é muito triste. Como no Judô também existem
atletas guineenses que representam outros países. Alguns militam na
selecção portuguesa de judô, é uma coisa que acho um pouco triste,
porque são talentos da Guiné-Bissau que acabam por representar outras
bandeiras.
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