A estrutura do Governo da Guiné-Bissau que luta contra a Mutilação Genital Feminina (MFG) lançou ontem uma campanha de prevenção da prática na localidade de Djegue, principal posto de fronteira do país com o Senegal.
A campanha lançada pelo comité nacional para o abandono de práticas tradicionais nefastas à saúde da mulher e da criança (CNAPN) visa capacitar os elementos da Guarda Nacional que atuam na fronteira entre a Guiné-Bissau e o Senegal, adiantou a presidente da estrutura, a ex-ministra dos Negócios Estrangeiros guineense, Fatumata Djau Baldé.
Segundo Djau Balé, "com o apertar da vigilância" na Guiné-Bissau "muitas mulheres autoras da prática" passam para o outro lado da fronteira, levando crianças guineenses, para serem submetidas à excisão, considerada crime pela lei do país desde 2011.
A líder do CNAPN citou o caso recente de uma guineense apanhada na região senegalesa de Kolda, onde submeteu "várias crianças à excisão", tendo sido condenada a uma pena de prisão de quatro anos.
Fatumata Djau Baldé aponta ainda para situações de familiares guineenses radicados na Europa, nomeadamente em Portugal, que aproveitam o período das férias escolares para trazerem as crianças para Africa para serem submetidas à excisão.
"Viajam com as crianças (do sexo feminino) até a Gambia ou Senegal e destes países seguem para a Guiné-Bissau por via terrestre passando pela fronteira de Guedje", explicou Djau Baldé, pelo que, disse, os guardas fronteiriços "precisam saber dessa manobra", observou.
A ideia é sensibilizar os guardas fronteiriços guineenses no sentido de passarem a registar todas as crianças do sexo feminino que cruzam a fronteira dos dois países e se for em direção à Guiné-Bissau, anotarem a morada do familiar que as acompanha, enfatizou.
"É preciso fazer ver a essas pessoas que a excisão é um crime na Guiné-Bissau e é preciso estarmos atentos e vigilantes", declarou Fatumata Djau Baldé, que enalteceu a resposta dos elementos da Guarda Nacional que prometeram colaborar já que a prática é considerada pelo Estado guineense crime.
O governador da região de Cacheu, Rui Cardoso, que presenciou o lançamento da campanha prometeu encetar diligências junto das autoridades das regiões senegalesas que fazem fronteira com a Guiné-Bissau, para num futuro breve, ser organizado um encontro juntando os responsáveis das regiões guineenses de Oio, Cacheu e Bafatá, para falarem sobre a excisão.
Dados da UNICEF publicadas recentemente indicam que a prática da excisão tem vindo a diminuir na Guiné-Bissau, embora persistam casos em que os familiares das crianças se escondem para realizar o ritual.
Números da mesma agência da ONU apontam que cerca de 140 milhões de meninas e mulheres foram submetidas à excisão em 29 países sobretudo de Africa e do Medio Oriente e na Guiné-Bissau cerca de 45 por cento das mulheres foram submetidas à prática.
Lusa/Conosaba/MO
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