Da China para África de língua portuguesa, o apoio ascende a 22,6 mil milhões de dólares

O apoio financeiro da China aos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) ascendeu a 22,6 mil milhões de dólares entre 2000 e 2014, metade dos quais dirigidos a Angola, de acordo com números oficiais chineses citados num estudo agora publicado.


O estudo “As políticas de ajuda externa da China e do Japão face à África lusófona”, do investigador académico Pedro Amakasu Raposo, compara as agendas de desenvolvimento das duas potências asiáticas para os PALOP, considerando terem-se tornado “cada vez mais semelhantes”, com a chinesa a ser “um sério competidor.”

Os números apresentados pelo investigador indicam que, no período em análise, a ajuda oficial ao desenvolvimento da China aos PALOP foi de quase 11 mil milhões de dólares, sendo Moçambique o maior beneficiário, com 6,5 mil milhões de dólares, seguido de Angola (3,9 mil milhões de dólares), Cabo Verde (439 milhões de dólares) e Guiné-Bissau (126 milhões de dólares).

Outros fluxos financeiros oficiais, incluindo investimento oficial e investimento directo estrangeiro, ascendem a cerca de 11,6 mil milhões de dólares, dos quais 9,8 mil milhões de dólares para Angola, 1,6 mil milhões de dólares para Moçambique e 130 milhões de dólares para a Guiné-Bissau.

O diferente padrão nos casos angolano e moçambicano, afirma Amakasu Raposo, é explicado pela “maior capacidade de Angola remunerar empréstimos à China” e “também demonstra que Pequim está preocupado com a sustentabilidade da dívida dos países em desenvolvimento.”

Paralelamente, o comércio bilateral tem vindo a aumentar, de 1,64 mil milhões de dólares para 2,33 mil milhões de dólares no caso de Moçambique, sendo que com Angola atingiu 35,94 mil milhões de dólares em 2013.

No caso do Japão, a ajuda ao desenvolvimento entre 2000 a 2013 totalizou 1,9 mil milhões de dólares, com 1000 milhões de dólares para Moçambique, 531 milhões de dólares para Angola, 314 milhões de dólares para Cabo Verde, 52 milhões para a Guiné-Bissau e 33 milhões para São Tomé e Príncipe.

Para o investigador, da Universidade Lusíada (Portugal), a ajuda de ambos os países “é complementar” na sua natureza: a chinesa “é mais diversa”, a japonesa “está mais centrada em projectos locais e de segurança humana.”

A China tem vindo a aumentar os apoios sociais, mas a infra-estrutura económica recebe mais atenção do que no caso do Japão, uma vez que “é uma forma de promover o seu modelo de desenvolvimento através de crescimento económico”, afirma o investigador formado nas universidades japonesas de Okayama e Nanzan.

A relação África/Ásia “é desigual”, afirma, mas é “exagerado” falar de “neocolonialismo” da China ou Japão, sendo que a Conferência Internacional de Tóquio para o Desenvolvimento Africano (TICAD) começou a corrigir o desequilíbrio e a variante chinesa Fórum para a Cooperação China/África (FOCAC) parece ser “mais benéfico para o bem-estar do comércio dos PALOP.”

O estudo publicado pelo Instituto de Estudos Africanos do centro de investigação alemão GIGA, em colaboração com a Dag Hammarskjöld Foundation e Hamburg University Press, conclui que o conjunto dos PALOP é importante para as políticas africanas chinesa e japonesa, mas o valor dos recursos de Angola e Moçambique é mais “real”, fazendo dos outros PALOP mais pequenos “simbólicos.”

“Parece que a China está a fazer mais do que o Japão para transformar o modelo perverso de ajuda ao desenvolvimento em troca de recursos materiais”, afirma Amakasu Raposo, dando o exemplo do apoio ao turismo em Cabo Verde. A China conta muito mais com África para se desenvolver do que o Japão, conclui.
 
 

 

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