Está-se a interpretar mal as recentes declarações do Director do BCEAO sobre a contracção do crédito à economia. Pensei que seria útil trazer alguns esclarecimentos.
A economia continua numa trajetória ascendente. Com o FMI, estimámos um crescimento de 4,7% em 2015. Contudo, dados preliminares do Comité de Política Económica indicam que a economia deverá crescer acima de 5%. Os dados finais estarão disponíveis brevemente.
O crédito à economia, isto é o dinheiro que os bancos comerciais emprestam aos privados para exercerem suas atividades económicas, contraiu 3,6% em relação a 2014. Na verdade, os quatro bancos comerciais (BAO, BDU, Ecobank e Orabank) estão sentados em cima de muita liquidez, mas não estão a emprestar dinheiro. Porquê?
Parte da explicação tem a ver com a ´consolidação do crédito`. Em 2014, o crédito tóxico (ou crédito malparado) representava acima de 30% da carteira de crédito dos bancos comerciais. Para sanear a carteira, alguns bancos decidiram acionar os instrumentos à sua disposição (execução de garantias reais, provisões, etc.), reduzindo, portanto, a concessão de créditos.
Um outro fator é a ´análise de risco` que os bancos fazem na hora de conceder crédito. Com elevados riscos políticos (instabilidade política) e judiciais (deficiente funcionamento dos tribunais), os bancos sentem-se menos confortáveis em passar dinheiro para os privados.
Uma nota final: ontem em Cacheu, lançámos o programa de microcrédito para as mulheres e jovens. Dispomos de um fundo inicial de 1,5 mil milhões de CFA para pequenos créditos a atividades geradoras de rendimento, sem necessidade de qualquer garantia. 147 milhões de CFA foram ontem disponibilizados a várias Associações de mulheres. Testámos o sistema em fevereiro de 2015 e 96% das beneficiárias reembolsaram. Isto é, as mulheres mais pobres pagam. Elas oferecem uma garantia mais importante do que qualquer garantia real: a sua honra.
GM
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