Guiné-Bissau, Refletir sobre o nosso papel social como cidadãos



Por, Mestre Luís Barbosa Vicente

Suponho que tudo o que tem acontecido à pátria-mãe não fosse a mera ausência de uma cidadania forte e exigente, talvez deveria ser repensado o nosso papel no quadro do que tem sido a nossa capacidade de analisar e compreender com objetividade o exercício de poder no país. Portanto, mais do que nunca, impõe-se que a participação cívica e política seja a base sustentável para uma reforma séria e profunda do conceito Estado e Nação.

De facto, manifestamos as nossas angústias e projetamos a confiança no dia de amanhã ou no que virá a seguir, esquecendo-nos que talvez o momento é hoje, a participação cívica e política é agora, que tudo deverá ser feito com base na democracia e na discussão profícua e instruída com objetivos claros de criação de consensos no seio das massas e das instituições do estado, tendo como princípios basilares a educação (lato sensu), justiça, organização e disciplina. Porém, só entenderemos a amplitude destes conceitos se tivermos em conta que, por exemplo, a educação permite moldar o comportamento dos indivíduos para uma ordem coerente com o bem coletivo, evitando dessa forma quem persegue única e exclusivamente os interesses particulares.

Em boa verdade, o país tem vindo a ser confrontado com uma lógica dominante e característico do sistema, o da especialização em “intrigas, calúnias, falsidades e, inclusivamente, bluff”. Esta lógica foi alimentada durante vários anos, triunfando desta forma o mal sobre o bem e aniquilando a real expetativa de que a Nação assenta-se sobre os pilares da justiça, da educação e da formação do homem guineense. É hora de mudar, mas com a certeza de que o caminho a percorrer é o melhor para o povo.

Tal como ontem, hoje também, na nossa sociedade, é muito mais fácil, infelizmente, denegrir em vez de engrandecer, censurar em vez de incentivar o debate esclarecedor, menosprezar em vez de valorizar a competência, este tem sido o método utilizado e que tem facilitado abertura de espaço para a promoção de sujeitos e de situações como as que tem acontecido de alguns anos a esta parte. Portanto, é fundamental ter presente que cada vez que despontam falhas no processo de afirmação democrática surgirão indivíduos que tentam utilizar essa lacuna em sede própria, mesmo que para isso deixe de ser escrupulosamente assumida a sua condição de patriota e cidadão exemplar.

É importante entender que a virtude cívica está intrinsecamente vinculada à educação. Não são qualidades que nascem com o homem, mas são cultivadas nele através de um processo formativo. A educação pode tanto formar homens dotados das virtudes imprescindíveis para ser um bom cidadão quanto pode fazer dele uma pessoa fraca e arrogante. De alguma maneira os homens são o que a educação fez deles (…) como bem dizia Nicolau Maquiavel.

Ainda não conseguimos entender que a essência de uma sociedade reside na formação do individuo enquanto ferramenta de afirmação de uma nação, que apenas se alcança através da educação e disciplina. Portanto, é necessário e urgente proceder ao exorcismo da “guerra”, da falta de ideologia, da singularidade do poder, no sentido de libertar os nossos medos e anseios do que deveria caraterizar a qualidade de cidadão como um todo.

Talvez até seja necessário refundar o Estado e Nação, mas que seja sob o condão da justiça, com proteção da competência necessária e capaz de defender a subordinação dos interesses particulares ao bem púbico, que combate a tirania e que alimente o desejo de atingir a glória e a honra para si e para a pátria. Mas, para que assim seja, é urgente fomentar a cultura do homem guineense com o essencial de patriotismo e virtude cívica, pois desenvolvem nele as capacidades de servir a pátria até com a própria vida, se necessário, pois onde há homens de bem impera a democracia e o sentido de pertença.

É sobejamente discutido e reconhecido o falhanço na edificação do Homem guineense e pouco se tem feito no sentido de o corrigir. Será que não existem homens e mulheres à altura deste ideal patriótico? Claro que existem, apenas devem saber ocupar o seu espaço e afirmarem-se naquilo que mais sabem fazer, cada um na sua área de especialização e imbuídos de um propósito: Guiné-Bissau em primeiro lugar. É necessário apetrechar o país de homens e mulheres que façam da vontade do povo a sua força, a carência a sua justiça, para que estes não sejam privados de esperanças.

“O importante é pensarmos nos outros e não tanto em nós”


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