Suponho que tudo o que tem acontecido à
pátria-mãe não fosse a mera ausência de uma cidadania forte e exigente, talvez
deveria ser repensado o nosso papel no quadro do que tem sido a nossa
capacidade de analisar e compreender com objetividade o exercício de poder no
país. Portanto, mais do que nunca, impõe-se que a participação cívica e
política seja a base sustentável para uma reforma séria e profunda do conceito
Estado e Nação.
De facto, manifestamos as nossas
angústias e projetamos a confiança no dia de amanhã ou no que virá a seguir,
esquecendo-nos que talvez o momento é hoje, a participação cívica e política é
agora, que tudo deverá ser feito com base na democracia e na discussão profícua
e instruída com objetivos claros de criação de consensos no seio das massas e
das instituições do estado, tendo como princípios basilares a educação (lato
sensu), justiça, organização e disciplina. Porém, só entenderemos a amplitude
destes conceitos se tivermos em conta que, por exemplo, a educação permite
moldar o comportamento dos indivíduos para uma ordem coerente com o bem
coletivo, evitando dessa forma quem persegue única e exclusivamente os
interesses particulares.
Em boa verdade, o país tem vindo a ser
confrontado com uma lógica dominante e característico do sistema, o da
especialização em “intrigas, calúnias, falsidades e, inclusivamente, bluff”.
Esta lógica foi alimentada durante vários anos, triunfando desta forma o mal
sobre o bem e aniquilando a real expetativa de que a Nação assenta-se sobre os
pilares da justiça, da educação e da formação do homem guineense. É hora de
mudar, mas com a certeza de que o caminho a percorrer é o melhor para o povo.
Tal como ontem, hoje também, na nossa
sociedade, é muito mais fácil, infelizmente, denegrir em vez de engrandecer,
censurar em vez de incentivar o debate esclarecedor, menosprezar em vez de
valorizar a competência, este tem sido o método utilizado e que tem facilitado
abertura de espaço para a promoção de sujeitos e de situações como as que tem
acontecido de alguns anos a esta parte. Portanto, é fundamental ter presente
que cada vez que despontam falhas no processo de afirmação democrática surgirão
indivíduos que tentam utilizar essa lacuna em sede própria, mesmo que para isso
deixe de ser escrupulosamente assumida a sua condição de patriota e cidadão
exemplar.
É importante entender que a virtude
cívica está intrinsecamente vinculada à educação. Não são qualidades que nascem
com o homem, mas são cultivadas nele através de um processo formativo. A
educação pode tanto formar homens dotados das virtudes imprescindíveis para ser
um bom cidadão quanto pode fazer dele uma pessoa fraca e arrogante. De alguma
maneira os homens são o que a educação fez deles (…) como bem dizia Nicolau
Maquiavel.
Ainda não conseguimos entender que a
essência de uma sociedade reside na formação do individuo enquanto ferramenta
de afirmação de uma nação, que apenas se alcança através da educação e
disciplina. Portanto, é necessário e urgente proceder ao exorcismo da “guerra”,
da falta de ideologia, da singularidade do poder, no sentido de libertar os
nossos medos e anseios do que deveria caraterizar a qualidade de cidadão como
um todo.
Talvez até seja necessário refundar o
Estado e Nação, mas que seja sob o condão da justiça, com proteção da
competência necessária e capaz de defender a subordinação dos interesses
particulares ao bem púbico, que combate a tirania e que alimente o desejo de
atingir a glória e a honra para si e para a pátria. Mas, para que assim seja, é
urgente fomentar a cultura do homem guineense com o essencial de patriotismo e
virtude cívica, pois desenvolvem nele as capacidades de servir a pátria até com
a própria vida, se necessário, pois onde há homens de bem impera a democracia e
o sentido de pertença.
É sobejamente discutido e reconhecido o
falhanço na edificação do Homem guineense e pouco se tem feito no sentido de o
corrigir. Será que não existem homens e mulheres à altura deste ideal
patriótico? Claro que existem, apenas devem saber ocupar o seu espaço e
afirmarem-se naquilo que mais sabem fazer, cada um na sua área de
especialização e imbuídos de um propósito: Guiné-Bissau em primeiro lugar. É
necessário apetrechar o país de homens e mulheres que façam da vontade do povo
a sua força, a carência a sua justiça, para que estes não sejam privados de
esperanças.
“O importante é pensarmos nos outros e
não tanto em nós”
Nota:
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